Mulheres no Comex, em cena : Silvana Gomes

Mulheres no Comex
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5 min readJul 26, 2019

“Mulheres no Comex, em cena”, é uma série de mulheres inspiradoras, que compartilharão conosco um pouco de seus desafios, suas histórias e oportunidades que tiveram ao longo de suas carreiras. Que você possa se inspirar nesta e em tantas outras mulheres brilhantes atuantes no comércio exterior.

1) Conte nos pouco sobre sua história profissional. (formação, como começou, etc).

Sou gaúcha do Vale dos Sinos e tenho uma formação anterior a de COMEX. Sou técnica em calçados e cheguei a atuar na área por alguns anos, aliás comecei exportando calçados naquela época que éramos comprados pelas grandes companhias de importação instaladas e que impunham suas marcas e modelos, e as fábricas apenas produziam para o mercado de baixo custo.

Bem, entrei de cabeça mesmo no comércio exterior quando comecei a cursar administração de empresas com habilitação em comércio exterior na Unisinos e fui contratada por um Forwarder como assistente de comunicação. O trabalho era passar a programação de navios no telex, receber os e-mails em inglês do exterior, traduzir, entregar para as pessoas, coletar as respostas em português, fazer a versão para o inglês e enviar as respostas. Para isso obviamente tinha de entender o que estava escrevendo e assim fui aprendendo os termos e tomando gosto pela operação. Logo fui transferida para o departamento marítimo onde recebia os lotes de calçados, consolidava, emitia FCR, HB/L no mimeógrafo e cuidava daquele monte de guias carbonadas.

Depois deixei um pouco este mundo para estudar na Inglaterra e quando voltei acabei em Itajaí trabalhando na navegação. Depois no Supply Chain do automotivo em Curitiba e finalmente, quando mudei para São Paulo passei a atuar na área comercial.

Foram dez anos de coordenação de projetos de internacionalização e de promoção comercial internacional até que me tornei Diretora de Comércio Exterior da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, e então assumi também um tanto da agenda de defesa de interesses setoriais, a representação do setor nas negociações dos acordos internacionais, contribui para a elaboração da agenda de facilitação de comércio, como o Portal Único de Comércio Exterior. Trouxemos à tona a questão do OEA, coordenei processos de antidumping, de exceções da TEC e quotas de importação para ingredientes sem produção nacional ou com produção nacional insuficiente.

Fui conselheira da AEB — Associação dos Exportadores Brasileiros, que cuida de relações institucionais com inúmeros órgãos governamentais nacionais e estrangeiros, instituições reguladoras, certificadoras e tudo que tivesse relação com o estímulo ao aumento do comércio internacional do setor.

Deixei a ABIHPEC para ser exclusivamente mãe durante dois anos. Valeu cada segundo. Depois passei a atuar um tanto na esfera pública. Fui convidada a implantar um programa de promoção de exportações para o Estado de São Paulo na Investe SP em 2016 e tive o prazer de levar um pouco de COMEX para o interior do estado tão carente de informação e de tudo que se possa pensar: órgãos anuentes locais, logística, profissionais, etc. De tanto deixar o salto alto e palestrar de calça jeans e camiseta amarela por aí contando o passo-a-passo da exportação, fiquei conhecida como “A Gauchinha”.

Em 2017 passei a atuar na Cidade de São Paulo. Constituímos do zero a São Paulo Negócios, da qual sou diretora executiva hoje, e onde tive oportunidade de atuar não só na exportação mas também na atração de investimentos. Apesar de ser uma agência nova, conseguimos implantar ações bastante inovadoras e porque não dizer “ousadas”, mas vejo que temos conseguido a adesão de muitas empresas. Já são quase 500 transitando pelas ações do São Paulo Exporta.

O retorno às atividades profissionais, depois do sabático de mamãe, no setor público não foi proposital ou muito pensado. Surgiu uma oportunidade e que tem me proporcionado grande aprendizado e um grande prazer em dar minha contribuição, podendo observar aspectos sociais e econômicos que impactam o dia-a-dia, a realidade de todos nós.

2) Quais foram seus maiores desafios.

Vixi, muitos, todos os dias os tenho. Desafios estes comuns a todas as mulheres, como o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, cuidar do filho e ir ao jantar com o importador, o dia em que a logística da escola fura porque ele ficou doente, essas coisas. Os desafios financeiros, os acadêmicos, o da distância da família que faz realmente falta para dar uma força. Enfim, nada que vocês não passem também todos os dias.

Mas cá entre nós prefiro falar de motivações. Os desafios fazem parte da vida e sinceramente das minhas motivações também. Adoro um projeto novo. E nos meus 26 anos de comércio internacional continuo apaixonada pela profissão. Faço o que faço com gosto, porque quero e sei que posso dar contribuições e não deixar para depois. Se é hoje que posso fazer, então vamos lá. Amanhã não se sabe.

3) E oportunidades ou conquistas durante sua carreira.

Experiência, muita experiência. Vivências mil. Não só conhecer, mas viver em lugares diferentes, países e culturas diferentes. Contatos, Networking, a habilidade de conectar pessoas. Isso sim são conquistas que me orgulham.

4) Uma liderança, ou uma pessoa que a inspire.

Um líder, Obama, o Papa Francisco. No mundo mais próximo, minhas tias. Essas sete mulheres de minha família são inspiração total todos os dias. São as coisas simples e os problemas simples, os mais difíceis, e eles passam na vida comum das pessoas. Em posição de liderança no trabalho, quando estou pressionada a tomar uma decisão, é dos episódios com as tias que eu lembro e me apoio para sair da saia justa.

5) Um livro, um filme ou uma frase inspiradora.

Livro, são tantos… Vou citar o primeiro. Ganhei quando era menina e teve um grande significado pois era meu, só meu: Para uma menina com uma flor, de Vinicius de Moraes. Era um luxo, podia ler quando quisesse sem devolver na biblioteca, ficava no meu quarto, era meu. E os versos poderiam significar uma coisa diferente cada vez que fossem lidos, dependendo de como tinha sido o dia.

A frase, bem, não sei de quem é. Uma amiga da Confraria do Batom postou e achei ótima: “O que não me mata me deixa mais foda.” Se ficou muito forte, não publica, tá?

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