Representatividade da Mulher no Comércio Exterior e as barreiras existentes em sua trajetória profissional

ANDREA TONON
mulheresnocomex
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7 min readSep 26, 2019

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via Pixabay

Muito se fala em representatividade da mulher, empoderamento feminino, igualdade de gênero, mas ainda nos dias atuais são poucas as mulheres que conseguem trilhar uma carreira de sucesso, que conseguem ocupar cargos de liderança nos mais variados segmentos, e isso não é diferente na área de Comércio Exterior.

Hoje as mulheres são mais atuantes, há uma maior representatividade feminina nos dias atuais, mas ainda assim são poucas as que conseguem chegar em cargos gerenciais, muitas continuam atuando nas áreas operacionais do Comércio Exterior. É claro que muitas são por opção, tantas outras são por auto sabotagem, mas o que mais entristece é saber que há tantas mulheres competentes, totalmente capazes de galgar novos desafios, de estar entre os que estão no topo e que querem estar na liderança, mas que infelizmente acabam encontrando pelo caminho a “barreira do gênero”.

Mulheres e homens podem ter o mesmo grau de escolaridade, a mesma capacitação profissional, ocupando os mesmos cargos e recebendo salários diferenciados, sendo o do homem superior ao da mulher.

Recentemente o Mulheres no Comex realizou uma pesquisa do Perfil do Profissional de Comércio Exterior que mostra exatamente essa realidade das diferenças de cargos e salários entre homens e mulheres.

A pesquisa foi feita pelo Mulheres no Comex no período de Outubro/2018 à Fevereiro/2019, 121 participantes foram entrevistados, participantes estes atuantes na área de COMEX, sendo empresários e profissionais da iniciativa privada e dentre estes 58% do sexo feminino e 41% do sexo masculino, todos possuindo entre 31 e 45 anos de idade e com alto nível de escolaridade, e de acordo com a pesquisa, foi constatado o seguinte:

1- Dos entrevistados, 54% das mulheres possuem nível de escolaridade em pós graduação contra 46% dos homens, no entanto, 30% das mulheres ocupam cargos de gestão contra 32% dos homens;

2- 50% das mulheres ocupam cargo de analista contra 24% dos homens;

3- 13% das mulheres são empreendedoras contra 42% dos homens;

4- Em relação aos salários, dos que ganham até R$ 5.000,00, as mulheres representam 57% dos profissionais, enquanto os homens 36%. Mas para os salários entre R$ 5.001,00 até R$ 10.000,00, as mulheres representam 30% enquanto os homens representam 42%.

É perceptível que a mulher vem se capacitando cada vez mais, se qualificando cada vez mais, e muitas vezes o seu grau de escolaridade chega a ser superior à dos homens, mas mesmo assim o caminho a ser trilhado pela mulher no mercado de trabalho é mais dificultoso, seus salários e cargos são mais baixos em relação aos dos homens.

Não são poucos os desafios enfrentados pelas mulheres. A questão de ser mulher já é um grande desafio, somado a maternidade então nem se fala. Ainda há preconceito e discriminação, mas cabe aqui ressaltar que a mulher é capaz sim de conciliar sua vida profissional com a pessoal, principalmente em relação a maternidade. A mulher não se torna menos capaz só porque optou em ser mãe em algum momento de sua vida, muito pelo contrário, com a maternidade nasce também uma nova mulher, com mais garra, confiança e determinação, sem falar que hoje muitos lares são chefiados por mulheres.

Além das barreiras encontradas por qualquer mulher que se insere no mercado de trabalho, as que optam por atuar no comércio internacional ainda se deparam com a barreira cultural, uma vez que ainda há países cuja cultura, costumes ou religião não aceitam negociar com uma mulher, mesmo que essa figura feminina encontre-se em um cargo de chefia, em uma posição de liderança.

Um exemplo recente de que essa barreira cultural possa a vir ser quebrada é a da Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, que esteve em viagem ao Oriente Médio, negociando com investidores sauditas e ela, mulher, conseguiu abertura de mercado para castanhas, derivados de ovos e a ampliação do acesso a frutas brasileiras.

Fonte: http://www.agricultura.gov.br/noticias/tereza-cristina-debate-oportunidades-de-negocios-no-brasil-com-investidores-sauditas-1/ministra-reuniao-na-camara-de-comercio-saudita-2.jpg/view

A mulher pode ter alto grau de escolaridade, ter um alto nível de conhecimento, ser capacitada, ser qualificada, mas a todo momento ela tem que provar para sociedade, provar para seu colegas de profissão, provar aos seus superiores e com quem negocia que ela é capaz. Infelizmente essa é uma luta diária e constante de cada mulher.

A desigualdade de gênero existe e é um fato, cabe a nós mulheres lutarmos pelos nossos direitos, lutarmos pelo nosso espaço, lutarmos pela igualdade de gêneros no mercado de trabalho, mas não podemos encarar essa luta sozinhas.

Para que tenhamos uma maior representatividade da mulher no mercado de trabalho, especificamente no Comércio Exterior, o que podemos fazer hoje é nos unirmos, nos apoiarmos mutuamente, nos espelharmos e inspirarmos em mulheres que já conquistaram o seu espaço, que conseguiram chegar lá.

Há várias redes de contatos em que há a participação de mulheres com o propósito único o de compartilhar informações, conhecimento e experiências e se inserir nessas redes pode fazer uma grande diferença.

O importante é que as mulheres possam se apoiarem, e também divulgar o trabalho umas das outras.

Há muitas mulheres atuantes no Comércio Exterior que podem ser citadas como exemplo, como é o caso da Celia Regina Gomes, diretora da Worldgate Cargo e Presidente do Sindaerj e da Capitã de Cabotagem Gisele Mangifeste, ambas têm uma trajetória profissional linda, dentre tantas outras mulheres brilhantes e atuantes em cargos de liderança.

O que podemos fazer para aumentar ainda mais a representatividade da mulher no Comércio Exterior bem como em qualquer outra profissão?

1- Capacitação, qualificação e atualização constante, afinal, sem conhecimento não se chega a lugar algum;

2- Não deixar se abater por qualquer barreira que tenha que enfrentar. É continuar seguindo em frente, sempre, se posicionando com firmeza;

3- Se inspirar em exemplos de liderança feminina. Há muitos exemplos para nos inspirarmos;

4- O preconceito com a mulher em cargo de chefia existe, mas o pior preconceito é aquele que é velado, portanto atentemos sempre a qualquer sinal;

5- Fazer parte de uma rede de mulheres que troquem conhecimento, experiência e que se apoiam. O #mulheresnocomex é o maior exemplo que há de rede de mulheres que atuam em COMEX. A Sororidade é uma realidade nesta rede;

6- Procurar divulgar cada vez mais o trabalho de nossas colegas de profissão e utilizar-se dos serviços prestados por elas. O fato de divulgar e/ou utilizar o serviço de outra colega só a qualifica ainda mais e isso pode ganhar proporções extraordinárias;

LEMBRE-SE: Reconhecer o trabalho da colega de profissão que ocupa um cargo de liderança já é o primeiro passo para se sentir representada em um mercado tão competitivo.

7- Engajamento social, vivemos rodeadas de tecnologia, respiramos tecnologia, portanto, o nosso melhor cartão de visitas pode ser o nosso perfil social. Que o engajamento venha a ser cada vez maior, que venha fazer cada vez mais parte de nossas vidas, seja no LinkedIn, Facebook, grupos de WhatsApp, o importante é oferecer o nosso conhecimento, seja em uma discussão, roda de conversa, ou através de uma publicação ou um artigo.

TODAS NÓS TEMOS ALGO A ENSINAR, ALGO A COMPARTILHAR!

Então, por que não escrever sobre aquilo que dominamos, que é o Comércio Exterior, sobre nossas experiências, sobre nossos conhecimentos na área de COMEX?

Como visto, a representatividade da mulher no Comércio Exterior é uma realidade, mesmo que ainda pequena, mas isso pode ser mudado através do posicionamento, do engajamento e da postura de cada mulher, afinal a mulher de hoje está cada vez mais preparada para assumir cargos de liderança com responsabilidade e qualificação.

E você cara leitora quais foram as dificuldades encontradas em sua trajetória profissional? Como fez para driblar as barreiras de gênero?

E você caro leitor, o que acha sobre a questão da representatividade da mulher no Comércio Exterior? O que pode ser feito como melhoria para a conquista da igualdade de gêneros em cargos de liderança?

Meu nome é Andrea Tonon, sou esposa, mãe e atuante em Comércio Exterior. Amo viajar, conhecer novos lugares, estar com a família e amigos, curtir minha filhota e adoro artesanato.

Sou formada em Secretariado Executivo, mas nunca exerci a profissão de fato. Há 10 anos tive a oportunidade de ingressar no mundo do COMEX na empresa em que atuo, sem nenhuma bagagem de conhecimento e experiência na área. Agarrei a oportunidade que me deram e corri atrás. Fiz cursos de capacitação e curso de Formação em Comércio Exterior pela Aduaneiras com recursos próprios e ganhei experiência na prática do dia-a-dia ao longo destes anos.

Me apaixonei pela área de Comércio Exterior desde o primeiro instante, principalmente pela falta de rotina que o COMEX proporciona, afinal, cada processo de importação e exportação é uma operação única. Hoje divido informações e conhecimentos que adquiri ao longo destes anos com estudantes e colegas de profissão.

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