Sensibilização de Profissionais 50 + no Comércio Exterior: Cristiane Batista

Erika Sargin
mulheresnocomex
Published in
5 min readJan 22, 2021
CRISTIANE BATISTA, 50, CONSULTORA FUNCIONAL NA GOODYEAR

Cristiane Batista é formada em Tecnologia de Processamento de Dados e graduada em Pedagogia com especialidade em projetos. É também Especialista em Comércio Exterior pelo SENAC e pós-graduada em Análise de Sistemas. Cursou a Academia SAP MM e atualmente cursa pós-graduação em Tecnologias Educacionais.

A Cris foi professora por mais de 10 anos na rede pública e privada, além da experiência com educação corporativa e atuação como professora de Tecnologia Educacional. Hoje atua como Consultora Funcional na Goodyear, atendendo os sistemas de Comércio Exterior para Brasil, Chile, Peru, Colômbia, Argentina e toda América Latina.

Sabe aquelas perguntas que fazem sobre você e, em um primeiro momento, você não consegue responder e, no segundo, te remete a uma vida inteira atrás da resposta certa? Pois é, aconteceu quando me perguntaram sobre como é ser uma mulher de 50 no trabalho, no Comex, como ser líder e liderada, e ao mesmo tempo ser mãe “sola” de um casal.

Primeiro, descobri que não tinha uma resposta pronta, pois nunca havia pensado diretamente nisso. Mas então, descobri que para responder isso para mim mesma, eu precisava voltar e pensar como cheguei na Cris de 50. Tenho muito orgulho dessa mulher que me tornei e, como todos, sou resultado de muitas tentativas, algumas que contrariavam totalmente o que me diziam para fazer.

Para contextualizar, nasci em 1970, a chamada geração X e, a propósito, sempre falei minha idade, mesmo em uma época que as mulheres escondiam isso como um segredo, que não era revelado nem para seus filhos. Fui educada para escolher a profissão de forma definitiva, assim como o casamento. A pressão era absurda pois, uma vez escolhida, era “para sempre”. Aliás, contrariei essas duas exigências citadas. Nunca me conformaria em escolher uma só profissão ou ficar em uma na qual não fosse feliz, não sentisse frio na barriga e, quanto ao casamento, durou enquanto fui feliz.

Mas voltando à profissão, me formei em Sistemas, pois amava tecnologia. Fiz Pedagogia, pois amava ensinar. E uma especialização em Comex, área que me apaixonei à primeira vista. Para a grande maioria, isso não fazia sentido, por ser considerado falta de foco, mas eu amava as três coisas.

Fui ensinar tecnologia. Passei mais de uma década nas salas de aulas, ensinando professores, adolescentes e crianças. Convivi com gerações diferentes da minha — o que que foi ótimo. Aprendi com essas pessoas, que o caminho valia muito mais que a chegada e que precisávamos nos divertir durante o trabalho, precisávamos amar o que fazíamos ou escolher outra coisa, o que contrariava complementarmente a educação que recebi.

Depois, em paralelo, fui ensinar pessoas de Comex e me envolvi tanto que resolvi aprender e atuar nessa área. Depois de fazer uma especialização, trabalhei em despachante e agente de cargas, mas eu queria mesmo era atuar em Comex, voltado para a área de TI, pois sabia que ajudaria mais. Fiz uma pós em análise de sistemas, academia SAP e, então, estava pronta para a próxima fase. Dessa vez, com dois filhos, sem marido, sem o ambiente acadêmico e seus jovens que me alimentavam de saberes e vontades.

Chegou, então, a minha hora de entrar no mundo corporativo. Aconteceu de forma um pouco tardia, aos 37 anos. Fui contratada por uma grande empresa de tecnologia justamente para atuar com sistemas SAP e de Comércio Exterior. Além disso, uma das minhas funções era capacitar pessoas. Eu estava ou não preparada para esse momento? Estava madura como mulher e com muita vontade de aprender e ensinar.

Foi nessa empresa que atuei em Comex ou com ele, tentando ajudar inúmeros clientes a resolver seus problemas, conversando e debatendo os diferentes processos. Fui para o Chile para resolver os processos de DIs múltiplas em um único processo: o encerramento automático, o cenário diferente da Chille Beans, com suas importações por encomenda, conta e ordem, que o sistema não atendia. Fui para Manaus resolver o processo de Suframa no sistema, os encerramentos da CSN, o granel complicado da Yara…Foram tantos cenários que ajudei a resolver e “botar no ar” ou como dizemos, “dar go live”, que perdi a conta. E foi tão divertido!

Conheci tanta gente boa, tanto jovens bem como profissionais mais experientes. Agradeço minha fase como professora em cenários tão distintos, aliada à minha alegria em ensinar e conhecer coisas novas, que me deu todo o embasamento. Aprendi com a geração “Millennium” que eu devia curtir o caminho e foi o que fiz. Lidar com pessoas de diferentes idades, advindas de gerações diferentes, com diferentes competências, foi muito agregador.

Tentei enxergar isso como solução e não problema. Então, cheguei na Cris de 50, liderada e líder, aprendendo e ensinando. Finalizei a fase dentro dessa empresa e já comecei outra, agora na Goodyear. Vou começar escrever essa nova história para poder contar aqui depois. Mas hoje, se eu pudesse dar um conselho, eu usaria o que li sobre Bill Gates, acerca de ser um líder do futuro. Ele diz que são aqueles que ensinam os seus, que prepara sua equipe. Mesmo antes de ler isso, esse foi meu lema: “ensinar”.

E com isso consegui ser respeitada e, ao mesmo tempo, ser necessária, já que a grande maioria quer no máximo aprender de forma passiva, receber sem dar algo. Ser respeitada e necessária no mundo corporativo é a receita para que uma mulher de 50 anos, como eu, não tenha medo de começar de novo e de novo. Essa foi a forma que encontrei de adquirir energias, coragem e de me sentir viva e útil.

Mais uma vez, contrariando o que a minha geração pregava, ao escolher uma única e eterna profissão, quando chegou a pandemia da COVID-19, estava completamente envolvida há dois anos em um projeto de democratização de conhecimento dentro da empresa. A minha insistência era para que colocássemos todos os cursos em formato EAD. Para isso, fui estudar uma pós-graduação em design instrucional e, pasmem, quando a pandemia veio, o projeto havia emplacado e, enquanto todos corriam para adquirir essa competência, nós já estávamos com mais de 60 cursos no ar. Finalmente, a empresa aceitou esse formato.

A Cris é uma amante de superar barreiras e, praticamente, uma “doutora” em desconstruir crenças limitantes impostas pela sociedade. As mulheres podem ser o que quiserem, onde quiserem, não é mesmo? E neste quesito a Cris mostrou na prática que isso é possível. Ela é profissional da tecnologia, uma área que com a experiência e sabedoria dela passaram a conversar com inovação, contrariando o senso comum na contratação de profissionais inseridos na faixa etária a partir de 50 anos.

Dentro de grandes multinacionais ela pode compartilhar conhecimento e sua vontade de aprender, ensinar e inovar.

--

--