Cuidado

Valéria Cunha
REVISTA MULTISSEMIOSES
2 min readFeb 18, 2021
“Embracing the next chapter” | @ Duy Huynh (circa 2000)

Quando se quer cuidar não se desliga o telefone. Não se manda embora. Não se sai, nem à francesa nem batendo porta.

Para cuidar é preciso antever, antecipar. Ter tudo de antemão.
É preciso esmiuçar tudo dentro da cabeça: cada detalhe da fala, do ambiente, em que hora o sorriso apareceu. E só falar coisas mais gerais, mais amplas. Amenidades para amenizar o sofrimento.

Para cuidar é preciso perseverança. É preciso consistência. Firmeza até.

Quando se quer cuidar, se faz esforço. No começo, com muita força. E com muita força até pegar embalo e ir mais leve. Não se despeja verdades, não se lava roupa suja, não se tira satisfações.

Cuidar é remendar aquela colcha fininha de ilusões, que serve para proteger da brisa que fica intensa na madrugada. Não é vir com uma manta pesada de mentiras, porque apesar de aquecer, ela pesa e, por isso, não serve. É estender o braço para ajudar a retornar de um mergulho fundo, e manter o corpo na superfície, nadando e boiando, conforme as ondas demandarem.

Quando se quer cuidar, se redescobre a sutileza da alegria e a delicadeza do amor. E se satisfaz com isso.

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