Como criar Metáforas Originais

Paulo Moreira
Escritos Fantásticos
3 min readNov 11, 2020
Um salão vazio e completamente vermelho, iluminado por letras em led que formam a frase em inglês love is a losing game
Photo by Gary Butterfield on Unsplash

O que são Metáforas?

A metáfora é uma figura de linguagem utilizada para comparar-se dois conceitos sem se utilizar de expressões que indiquem que uma comparação está sendo feita. Basicamente, consiste em retirar uma palavra de seu contexto tradicional e recolocá-la em um novo significado.

Por que usar?

Metáforas possibilitam uma compreensão mais rápida e uma experiência mais profunda à leitura. Podem também ser utilizadas para chamar a sua atenção de quem está lendo, quebrando as suas expectativas. Acima de tudo, metáforas revelam a criatividade do escritor, se usada de maneira adequada.

Vamos ver como podemos criar metáforas mais originais!

1. Rejeite suas primeiras ideias

Sua primeira ideia surge instantaneamente porque ela deve ser muito comum. Descarte-a. Se é familiar para você, é certo de que também será familiar para os outros, correndo o risco de ser um clichê.

Exemplos: Coração de pedra. Silêncio profundo. Ela é uma flor de pessoa.

2. Considere as características de seu personagem

Se seu personagem é um cientista, ou um andarilho, se é uma guerreira ou um robô, as metáforas que farão mais sentido precisam de alguma forma representar essas características. Veja o exemplo:

Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. […] Ele, Sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia estavam agarrados à terra. (Vidas Secas, Graciliano Ramos)

Como os personagens vivem em um contexto rural, são retirantes, uma metáfora adequada seria aquela que represente a sua relação com a terra, com a agricultura.

3. Considere o narrador

Se seu narrador é a primeira, segunda ou terceira pessoa, se ele é mais romântico ou mais irônico, se tem conhecimento do futuro da história ou é apenas descritivo, tudo isso pode ser usado para criar uma metáfora mais original. Pense nele também como um personagem com características próprias.

Em O Conto da Deusa, a personagem principal também é o narrador da história, dessa forma, metáforas que representam a sua subjetividade são bastante utilizadas. Além disso, o narrador sabe do desastre que seu romance proibido ocasionará, por isso apropria-se de metáforas que representem perigo.

Como era pecaminoso o nosso amor! Nossos encontros sempre cortejavam o perigo. Nós sabíamos que estávamos pisando na beira de um precipício perigoso, que um passo a mais poderia nos fazer cair. Mas não conseguíamos parar. Estávamos enfeitiçados pelo perigo. (O Conto da Deusa, Natsuo Kirino)

4. Considere o tempo da história

Histórias que se passam exclusivamente na Idade Média não terão metáforas sobre tecnologia. Histórias que se passam num futuro exclusivamente cibernético não terão metáforas sobre agricultura.

Róbian de Castelmar […] foi um menininho inquieto e chorão, com uma indomável selva de cabelos castanhos. (Onde as Árvores Cantam, Laura Gallego Garcia)

Comparar os cabelos de Róbian com uma selva faz mais sentido do que com arames farpados, por exemplo, porque a história se passa na Idade Média, e não havia arames farpados nesse período.

5. Não crie imagens que não fazem sentido

Se você fala de velocidade, não use “voou com a destreza de um gato” porque gatos não voam. Do mesmo modo, não use “deixou os ouvidos abertos para escutar melhor” porque são os olhos que se abrem e não os ouvidos.

Diana Hacker explica bem melhor em Rules for Writers:

Cruzando os salgados de Utah em seu novo Corvette, meu pai voou sob uma força cheia de vapor.

Não faz sentido, pois “voar” sugere um avião, e “vapor” sugere um trem. O mais adequado seria:

Cruzando os salgados de Utah em seu novo Corvette, meu pai voou na velocidade de um jato.

6. Passe a ler poemas

Poemas fazem uso de poucas palavras para transmitir fortes emoções. Para isso, muitos utilizam metáforas.

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente. (Fernando Pessoa)

Já o verme — este operário das ruínas —

Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los. (Augusto dos Anjos)

Um poeta é sempre irmão do vento e da água: deixa seu ritmo por onde passa. (Cecília Meireles)

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Paulo Moreira
Escritos Fantásticos

Brazilian pharmacist in loved with History, Fantasy and Ecofiction. Author of The Blood of the Goddess. I write about nature in poems and fantasy stories.