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O Beijo da Valquíria

Paulo Moreira
Escritos Fantásticos
Oct 28, 2020

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Não me diga quando tenho que fechar os olhos. Eu não quero saber. Não quero que as árvores douradas que dançam ao meu redor se apaguem em escuridão.

Não me diz quando esquecer. Eu temo a velhice. Não arranque de mim o sorriso que faiscou nas bochechas das meninas quando voltei pra casa sujo de lama.

Não me diga pra não sentir. Porque eu sinto. Tudo. Das cicatrizes queimando em minhas costas até a grama dourada crescendo sob meus pés. Do voo livre dos beija-flores até as correntes que cortam os pulsos de um jovem tolo.

Não se atreva a rir de mim. Eu não quero o teu sorriso. Quero o das minhas filhas, que é mais brilhante. O mais brilhante de todos.

E não se atreva a chorar. Pois só eu vi, lembrei, senti, e sorri. Só eu tenho direito a lágrimas.

Mas canta para mim. Sussurra em meu ouvido. Quero ouvir tua voz nesse vento tão azul que vai gelando meus ossos quebrados. Me diz por que as árvores daqui dançam. Por que eu não posso dançar também? Me conta uma história.

Me faz dormir nesse mundo de criaturas douradas. E quando eu enfim repousar, beija minha testa e sai de fininho. Pisa as folhas com cuidado. Me deixa aqui.

E vai abraçar outro herói.

Poema inspirado pela canção Moonless Night de Vindsvept:

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Paulo Moreira
Escritos Fantásticos

Brazilian pharmacist in loved with History, Fantasy and Ecofiction. Author of The Blood of the Goddess. I write about nature in poems and fantasy stories.