A intrigante colonização grega que foi além do Mar Mediterrâneo

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5 min readFeb 11, 2022

A história da Grécia Antiga nos revela o quão longe uma nação pode chegar através da ciência, filosofia, artes e democracia.

Athena, deusa grega da sabedoria, da civilização e também da guerra. Fonte da imagem: PxHere

De meados do século VIII a meados do século VI a.C., as cidades-Estado gregas começaram a olhar além da Grécia em busca de recursos. Como consequência, fundaram colônias ao longo do Mar Mediterrâneo e também do Mar Negro.

Essa civilização já havia entrado em contato com os habitantes de suas colônias ainda antes, mas um movimento organizado só iria acontecer no século VIII antes de Cristo.

Por que estabeleceram colônias?

Mapa expondo a viagem relatada no poema grego “As Argonáuticas”, também ao redor do Mediterrâneo e Mar Negro. As artes e mitologia gregas nos evidenciam o espírito aventureiro que pairava sobre os gregos da época. Fonte da imagem: Wikipédia

Os gregos eram grandes navegantes e estavam ansiosos para descobrirem novas terras e novas oportunidades. Dentre os motivos que os levaram a lançar esses projetos estavam interesses comerciais, ganância e pura curiosidade.

Há uma visão antiga de que a Grécia buscava terras para exportar sua população, que crescia descontroladamente. Porém, segundo Simon Hornblower, professor de história clássica e antiga da Universidade de Oxford, não é provável que esse seja o real motivo. Na época, um aumento expressivo da população poderia ser controlado por infanticídio e métodos contraceptivos.

É mais provável que as causas estivessem em instabilidade política e até mesmo no simples desejo de conhecer o mundo, como mostravam os mitos gregos e as poesias da época envolvendo heróis colonizadores.

A expansão colonial grega ao longo dos mares Mediterrâneo e Negro. Fonte da imagem: Wikipédia

A fundação das colônias foi um empreendimento organizado. As metrópoles planejaram o lançamento e os locais a serem colonizados foram previamente selecionados objetivando oferecer vantagens comerciais, além de segurança contra invasores. Havia a preocupação de se criar um sentimento de confiança em relação à nova colônia.

O interessante é que a expansão colonial grega não necessariamente envolveu a dominação de povos indígenas e um sentimento de superioridade cultural, como em muitos casos ao longo da história mundial. Pode-se até chamar o processo grego apenas de “contato cultural”, onde duas culturas se encontram e, consequentemente, mudanças relevantes ocorrem em ambas.

Como elas eram?

Teatro Greco de Siracusa, na Sicília, um dos maiores do mundo quando construído. Fonte da imagem: Wikipédia

Algumas delas eram bastante gregas em se tratando de cultura, já outras se assemelhavam mais com seus povos indígenas vizinhos. O movimento de mercadorias, pessoas, arte e ideias nesse período espalhou o modo de vida grego por toda a Espanha, França, Itália, Adriático, Mar Negro e Norte da África.

Muitas delas evoluíram para fortes cidades-Estado e se tornaram independentes de sua metrópole. Algumas colônias chegaram a rivalizar com as maiores cidades fundadoras; Siracusa, na Sicília, acabou se tornando a maior polis de todo o mundo grego.

Foram cerca de 500 colônias estabelecidas que incluíram até 60 mil colonos de cidadania grega. Por volta de 500 a.C., esses territórios iriam representar 40% do mundo grego.

O estabelecimento de colônias no Mediterrâneo possibilitou a exportação de bens de luxo, como cerâmica grega fina e vinho. Muitas vezes, elas se tornaram centros comerciais lucrativos e fonte de escravos, já que estavam próximas a três grandes culturas da época: as civilizações grega, etrusca e fenícia.

E elas prosperaram, tanto que os escritores falaram das vastas riquezas e estilos de vida extravagantes que podiam ser vistos. Empédocles, por exemplo, descreveu os cidadãos mimados e os belos templos de Akragas (Agrigento) na Sicília da seguinte forma; “os akragantinianos se divertem como se fossem morrer amanhã e constroem como se fossem viver para sempre”.

As colônias até estabeleceram colônias ramificadas e postos comerciais e, dessa maneira, espalharam a influência grega mais longe.

Imagem do Vale dos Templos, em Agrigento (Sicília). Esse sítio arqueológico contém ruínas de templos construídos durante o próspero período colonial grego. Fonte da imagem: Pixabay

Os assentamentos ao longo da costa do mar Egeu da Jônia (atualmente chamada de Ásia Menor ou Anatólia, onde hoje está a Turquia) tornaram-se um foco de esforços culturais, especialmente em ciência, matemática e filosofia, e produziu algumas das maiores mentes gregas. Havia influências do oriente na arte e nos estilos arquitetônicos, como capitéis de colunas com palmeiras, esfinges e desenhos expressivos de cerâmica. Elas inspiraram arquitetos e artistas gregos a explorar avenidas artísticas inteiramente novas.

Já as colônias na Península Ibérica eram menos tipicamente gregas em cultura quando comparadas a outras áreas do Mediterrâneo. No caso delas, a competição com os fenícios era feroz.

A última área colonizada pelos gregos foi o Mar Negro (Mar Euxino para os gregos). Foi onde as pólis jônicas buscavam explorar os ricos pesqueiros e terras férteis ao redor do Helesponto e Pontos.

Eventualmente, quase todo o Mar Negro foi cercado por colônias gregas. Guerras, compromissos, casamentos e diplomacia foram usados com os povos indígenas para garantir a sobrevivência das colônias.

No final do século VI aC, particularmente, as colônias forneceram tributo e armas ao Império Persa e receberam proteção em troca. Após a fracassada invasão da Grécia por Xerxes em 480 e 479 aC, os persas retiraram seu interesse na área. Isso permitiu que as cidades maiores, como Herakleia Pontike e Sinope, aumentassem seu próprio poder através da conquista de populações locais e cidades vizinhas menores. A prosperidade resultante também permitiu que Herakleia fundasse suas próprias colônias na década de 420 a.C. em locais como Quersoneso na Crimeia.

Colônias gregas no norte do Mar Negro, onde hoje fica a tensa região da Crimeia, disputada entre russos e ucranianos. Fonte da imagem: Wikimedia Commons

A maioria das colônias foi construída no modelo político grego. Os tipos de governo incluíam aqueles vistos em toda a Grécia — oligarquia, tirania e até democracia — e eles poderiam ser bem diferentes do sistema da cidade fundadora.

Uma forte identidade cultural grega também foi mantida através da adoção de mitos fundadores e características gregas como língua, comida, educação, religião, esporte e artes.

Conclusão

Acrópole de Atenas, patrimônio mundial da UNESCO desde 1987. Fonte da imagem: PxHere

A história da Grécia Antiga (e também a de Roma) nos revela o quão longe uma nação pode chegar através da ciência, filosofia, artes e um sistema político inclusivo. O que chama a atenção no processo de colonização grega é que ela pouco se assemelhou com as políticas imperialistas da Europa Ocidental de até meados do século XX. As metrópoles da Grécia visavam, sim, expandir o comércio, mas sem o desejo de aniquilar as culturas nativas de suas colônias.

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