Irlanda: Tigre Celta ou Economia Duende?

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4 min readNov 29, 2021

A economia irlandesa vem crescendo a taxas similares às de países asiáticos. Contudo, seu perfil de paraíso fiscal a faz ser vista com desconfiança por alguns economistas.

Fonte da imagem: PxHere

Enquanto a maior parte das economias do mundo entrou em grave crise por causa da pandemia, a República da Irlanda viu seu PIB crescer 5,87% em 2020, segundo o Banco Mundial.

Os números mais recentes indicam que a economia irlandesa deverá crescer na casa dos dois dígitos em 2021. Entre abril e junho deste ano, o país cresceu três vezes a média da União Europeia, em comparação aos primeiros três meses do ano. Os dados são da agência de estatísticas da União Europeia, a Eurostat.

Segundo a agência europeia, o crescimento do PIB da Irlanda em 2020 foi mais modesto (3,4%) mas ainda muito acima da média do bloco. As exportações do país cresceram 6%, puxadas pelos setores farmacêutico e tecnológico.

E engana-se quem pensa que esse crescimento é momentâneo. A Irlanda na verdade vem crescendo acima da média global desde meados dos anos 1990, apesar de ter sofrido gravemente com a crise de 2008.

Esse desempenho se tornou assustador em 2015, quando o país cresceu mais de 25% (enquanto a média global foi de 3,17%).

Mas o que vem gerando tudo isso?

O investimento de grandes empresas estadunidenses está por trás do crescimento da Irlanda. Fonte da imagem: PxHere

Primeiro devemos ressaltar que a Irlanda é um país de 5 milhões de habitantes que entrou na União Europeia em 1973. Nessa época, a jovem república irlandesa era pobre para os padrões europeus.

Em 1987 o partido conservador da Irlanda, Fianna Fáil, resolveu reduzir os gastos do governo, cortar impostos e promover competição. A Irlanda também já vinha investindo pesado em educação e isso gerou no longo prazo uma população altamente capacitada, ideal como mão de obra das maiores empresas de tecnologia do mundo.

Além disso, a entrada do país na União Europeia permitiu que o bloco o apoiasse financeiramente. A Irlanda recebeu ajuda dos Fundos Estruturais Europeus, voltados a promover o desenvolvimento entre os países membros da UE.

A junção de população capacitada, bom ambiente de negócios e ser membro da UE criou um ambiente ideal para o investimento estrangeiro.

Dublin, capital da República da Irlanda. Fonte da imagem: Giuseppe Milo (www.pixael.com)

Como o país é pequeno, atividades de grandes empresas acabam impactando fortemente a economia. O crescimento do PIB de mais de 25% em 2015 foi principalmente causado por uma reestruturação da Apple em sua subsidiária por lá.

Multinacionais estadunidenses usam a Irlanda (e outros paraísos fiscais) para “transferir” seus lucros dos Estados Unidos e, assim, pagarem menos impostos. A isso é dado o nome de BEPS, que em português significa “erosão de base e transferência de lucros”. A reestruturação da Apple em 2015 é um exemplo de BEPS.

O problema é que toda essa renda gerada não é facilmente traduzida em benefícios para a população. Na verdade, os dados do PIB da Irlanda acabam sendo distorcidos por essas empresas multinacionais e não refletem a realidade econômica do país.

Paul Krugman, economista estadunidense ganhador do Nobel de Ciências Econômicas em 2008, descreveu o crescimento da Irlanda em 2015 com o termo “Economia Duende” (Leprechaun economics).

No primeiro trimestre de 2015, uma reestruturação da Apple (usada para pagar menos impostos nos Estados Unidos) fez o PIB da Irlanda crescer mais de 25%. Destaque para a alteração no volume das exportações de bens e serviços (BoP Exports) em comparação com outras exportações e importações.

Devido à distorção nos números da economia do país causada pelas multinacionais, o Banco Central da Irlanda criou uma nova fórmula para mensurar a economia irlandesa, chamada de Renda Nacional Bruta Modificada. Por essa métrica, a renda média de um cidadão irlandês acaba sendo similar a de um alemão.

Hoje a Irlanda está na lista negra do Brasil de paraísos fiscais, consolidando-se como um centro financeiro para offshores. É verdade que a Irlanda está enriquecendo, mas há debates se os meios usados para isso são éticos ou não.

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