Timor-Leste: uma história de resistência

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5 min readDec 20, 2021

Esse país colonizado por Portugal defendeu sua cultura heroicamente ao longo do tempo, mas ainda hoje enfrenta sérios desafios.

Fonte da imagem: PxHere

Em nossas redes sociais, publicamos na segunda-feira (13/12) um post sobre Timor-Leste, o primeiro Estado soberano a ser fundado no século XXI.

Como não poderia ser diferente, neste story você poderá saber ainda mais sobre o país, que apesar de pequeno, possui uma riqueza cultural extraordinária — e uma história de luta em defesa de sua cultura.

Geografia

O Timor-Leste é dividido apenas por municípios, conforme o mapa. Fonte da imagem: Wikimedia Commons

A República Democrática de Timor-Leste localiza-se no Sudeste Asiático, entre a Indonésia e a Austrália. Ao contrário de outros países da região, Timor-Leste é pequeno e com poucos habitantes e sua cultura é mais similar a de países da Oceania, como Papua-Nova Guiné.

Geograficamente, Timor-Leste ocupa a metade leste da ilha de Timor (sendo a outra metade pertencente à Indonésia). Além disso, ele conta com um exclave na parte oeste da ilha, chamado de Oe-Cusse Ambeno, além das ilhas próximas de Ataúro e Jaco.

Origem do nome

O nome “timor” deriva da palavra malaia “timur”, que significa leste. Logo, “Timor-Leste” é um topônimo tautológico, ou seja, um lugar cujo nome apresenta uma mesma ideia, mas com termos diferentes. O nome oficial do país em qualquer idioma é a sua versão portuguesa “Timor-Leste”, usada para valorizar a cultura lusófona do país.

Litoral de Timor-Leste. Fonte da imagem: Wikimedia Commons

História

Timor-Leste foi colonizado por Portugal de 1769 até 1975, mas os primeiros portugueses chegaram no início do século XVI. Antes disso, a ilha de Timor já exportava sândalo, escravos, mel e cera, sendo incluída em rotas comerciais da Indonésia/Malásia, da Índia e da China. A relativa abundância de sândalo foi o que atraiu exploradores europeus à ilha.

Imagem de Díli, capital do país. Apesar de pequeno, Timor-Leste possui praias exuberantes e uma cultura riquíssima. Fonte da imagem: Wikimedia Commons

A conquista portuguesa foi bastante lenta. Somente em 1769 os portugueses fundaram a cidade de Díli (atual capital), estabelecendo a colônia do Timor Português. A parte ocidental da ilha era colonizada pela Holanda, onde hoje fica a Indonésia.

A administração portuguesa pouco fez pelo desenvolvimento da colônia. O sândalo permaneceu como o principal produto exportado até meados do século XIX, quando sua única fonte de rendimento passou a ser uma modesta produção de café.

Uma curiosidade é que o Timor Português chegou a ser um local de exílio para adversários políticos e sociais deportados da metrópole, principalmente anarquistas e anarco-sindicalistas. As principais ondas de deportação ocorreram em 1896, 1927 e 1931. Alguns dos ativistas continuaram a sua resistência mesmo no exílio. Após a Segunda Guerra Mundial, os exilados restantes finalmente foram perdoados e puderam retornar à metrópole.

Após a Revolução Portuguesa de 1974, Portugal decide abandonar a sua colônia em Timor. Em 1975 eclode uma guerra civil entre os partidos políticos timorenses, com a Frente Revolucionária por um Timor Independente (Fretilin) resistindo a uma tentativa de golpe de Estado pela União Democrática Timorense (UDT) e declarando a independência de Timor-Leste.

Todavia, nove dias depois a Indonésia o invadiu e o transformou em sua 27ª província. A justificativa era defender-se do comunismo, já que a Fretilin era um partido marxista. A Indonésia era um país muito mais poderoso, contando com mais de 119 milhões de habitantes na época.

O domínio indonésio foi de brutal violência. Cerca de 200 mil pessoas (um quarto da população timorense) foram mortas por combates, fome e doenças. Policiais e militares aplicavam meios de tortura, a população rural era mantida em “aldeias de recolonização” e o português era proibido de ser ensinado. É importante dizer que devido à justificativa indonésia de defesa contra o comunismo, países ocidentais como Estados Unidos e Austrália apoiaram a invasão.

Contudo, a população timorense resistiu heroicamente. Em 20 de junho de 1988, dez estudantes timorenses proclamaram a Insurreição Geral Política dos Estudantes de Timor-Leste. Também houve a criação da Resistência Nacional dos Estudantes de Timor-Leste (RENETIL). Esses dois movimentos reforçaram a consciência política e foram cruciais na luta dos timorenses por dignidade e independência.

Monumento ao Massacre de Santa Cruz, um tiroteio contra manifestantes pró-independência ocorrido no dia 12 de novembro de 1991. O exército indonésio matou 271 pessoas no local e deixou 127 a morrer por ferimentos dias depois. Fonte da imagem: Global Voices

Em 1999, um acordo patrocinado pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre a Indonésia e Portugal finalmente permitiu um referendo popular. Os timorenses agora poderiam decidir se queriam permanecer ou não na Indonésia. 78,5% dos votos foram favoráveis à independência.

Em 20 de maio de 2002, Timor-Leste teve sua independência restaurada, tornando-se o primeiro país a ser formado no século XXI.

Atualidade

Brasão de Armas de Timor-Leste. Fonte da imagem: Wikimedia Commons

Timor-Leste é hoje uma república semipresidencialista, onde há um presidente como chefe de Estado e um primeiro-ministro como chefe de governo. Desde 2017, seu presidente é Francisco Guterres, do partido de centro-esquerda Fretilin.

Timor-Leste tem hoje a mais forte democracia do Sudeste Asiático, sendo o único da região considerado como “livre” na versão 2021 do relatório “Freedom of the World”, que mensura os níveis das liberdades civis e direitos políticos de cada país.

No entanto, a pequena e jovem república timorense ainda apresenta desafios importantes. O Índice Global da Fome de 2021 classificou o nível da fome em Timor-Leste como “sério”, sendo o país com a situação mais crítica da Ásia. Além disso, há graves problemas econômicos e de infraestrutura.

22% de sua população vivia com menos de 1,90 dólares por dia em 2014, 10,3% das crianças em idade escolar estavam fora da escola em 2015 e seu IDH em 2019 era de 0,606 (posição 141º entre 189 países).

Crianças timorenses. Fonte da imagem: Wikimedia Commons

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