8. O segundo ataque: imunidade adquirida

Victor Tohmé
Mundo Molecular
Published in
4 min readMay 9, 2020

Uma vez que a APC apresenta o antígeno, estará ativando o linfócito T específico para combater o antígeno.

Este, então, sofrerá uma expansão clonal, para de poucos virar muitos e assim, viajar até o local da infecção e combater o inimigo.

E o que acontece quando não tivermo mais antígenos para serem combatidos? Neste cenário o linfócito vai começar a expressar uma molécula chamada CTLA-4, que diminui a resposta através de um sinal negativo.

É como se anunciasse: ae, galera, acabou! Vamos começar a arrumar as coisas.

O funcionamento do CTLA-4 é simples: liga-se ao B7 das APCs, impedindo a ligação delas com o CD28 dos linfócitos. Não tendo o segundo sinal de coestimulador, os linfócitos entram em anergia (ficam inativos).

A ação dos linfócitos T auxiliares

De acordo com as citocinas que estiverem presentes no ambiente no momento da ativação do linfócito e de sua expansão clonal, podem existir dois tipos de perfis de linfócitos T auxiliares:

  1. Linfócito T auxiliar TH1: ele combate bactérias e vírus e auxilia na resposta inflamatória.
  2. Linfócito T auxiliar TH2: ele combate vermes e patógenos que chegam no organismo pela via intestinal, para gerar uma resposta do tipo alérgica.

Resumindo: de acordo com o contexto (as citocinas do ambiente), um dos dois perfis de linfócitos agirão no local. São perfis diferentes que serão usados em momentos diferentes.

Funcionamento do perfil TH1

Quando uma célula dendrítica, por exemplo, está enfrentando um vírus ou bactéria, ela irá viajar ao linfonodo (com seu MHC e antígeno) secretando a IL-12.

O linfócito T, quando ativado, se sofrer sua expressão clonal sob a ação de IL-12, se transformará no perfil TH1. Quais são os “poderes” de um TH1?

  • Secretar TNF: ativa macrófagos e células NK.
  • Secretar IFN-gama: faz com que os macrófagos permaneçam ativos por mais tempo. Também provoca a mudança de classe dos anticorpos para Igg (opsoniza vírus e bactérias).
  • Secretar IL-2: serve como um fator de crescimento para linfócitos T citotóxicos, células NK e os próprios linfócitos TH1. Ou seja, proporciona repertório para combater aquela infecção.

Assim, todas essas citocinas tem o intuio de fornecer o melhor combate àquele tipo de infecção no qual o perfil TH1 é especializado em combater.

Funcionamento do perfil TH2

Quando um verme nos invade, teremos a imunidade inata atuando no intestino. O que se sabe, pela ciência, é que o linfócito T, quando em contato com a IL-4 durante a expansão clonal, se transformará no perfil TH2. Mas dessa vez não são as células dendríticas que secretam essa citocina. Sua origem é desconhecida.

E quais são os “poderes” deste perfil?

  • Secretar IL-4: fator de crescimento que serve para promover mais ativação de linfócitos TH2. Também influencia linfócitos B para produzir anticorpos da classe Ige, a classe especialista em combater vermes.
  • Secretar IL-5: influencia linfócitos B a produzir anticorpos do tipo Iga, um anticorpo de mucosa que vai ser mais eficiente no combate de bactérias que estão chegando via trato gastrointestinal.
  • Secretar IL-13: estimula a produção de muco pelo intestino, que servirá de barreira mecânica contra vermes e bactérias e suas possíveis proliferações.

A ação do linfócito B

Até agora falamos bastante dos linfócitos T. Mas como é que todo o processo já visto acontece para as células B?

Este virgem, ou seja, sem ter sido ativado, possui em sua membrana anticorpos Igm e Igd.

Quando reconhece um antígeno, será ativado, sofrerá expansão clonal e se diferenciará em plasmócito, agora sendo capaz de produzir anticorpos. O primeiro a ser produzido é o Igm.

Porém, de acordo com o linfócito T presente e a citocina que estiver sendo liberada, a produção será influenciada a gerar as diferentes classes de anticorpos.

Os antígenos e as ativações

Dependendo do tipo de antígeno que o linfócito B será exposto, teremos dois tipos de ativação diferentes:

  1. Ativação antígeno timodependente: acontece para antígenos proteicos. Quando o linfócito B tiver contato com eles, só conseguirá ficar ativo se tiver a participação de um linfócito T. O linfócito B realiza apresentação de antígeno via MHC e como molécula coestimuladora possui a CD40.
  2. Ativação antígeno timoindependente: acontece para antígenos polissacarídeos, ácidos nucleicos ou lipídeos. Quando o linfócito B tiver contato com eles, consegue ficar ativo na ausência do linfócito T.

A resposta a açúcares nocivos (que é um antígeno timoindependente) vai ser uma resposta que se dará principalmente através de anticorpos Igm, pois Igm é aquele primeiro anticorpo secretado e não depende da mudança de classe.

Já a resposta a proteínas será uma resposta mais rica, pois conta com a participação de diferentes classes de anticorpos.

Ufa, ein. Acho que acabamos.

O essencial da imunologia foi dado nessa série de 8 artigos.

Existem outros assuntos, como:

  • Autoimunidade.
  • Alergias.
  • Imunidade a tumores.
  • Imunodeficiências, etc.

Com o essencial mostrado, ao ver esses tópicos vocês conseguirão entendê-lo sem grandes mistérios.

E quem sabe, no futuro, eu não coloque estes assuntos aqui no blog?

--

--