FUTEBOL E SANTOS: ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE NO PORTO DO CAFÉ

Por Bruno Bortoloto do Carmo

A relação entre a cidade de Santos e o café é inegável. Desde que o Brasil se tornou o principal fornecedor do produto para o mercado internacional em meados do século XIX, seu comércio e consumo tornaram-se cada vez mais imprescindíveis para a vida cotidiana da (até então) pacata cidade portuária.

Foi no fim daquele século que Santos, principal via escoadora de produtos agrícolas de São Paulo tornou-se o “porto do café”, posto que mantém até os dias de hoje, exportando cerca de 80% do produto para os mercados consumidores internacionais.

Essas informações dos últimos dois parágrafos são, imagina-se, ponto pacífico. No entanto, uma relação talvez menos conhecida pelo público seja a conexão desses dois pontos — Santos e Café — com a temática futebol.

Neste breve artigo explorarei questões entre estabelecimentos públicos de consumo de café e o esporte na cidade de Santos, especialmente o futebol. Espaços denominados Cafés (com mesinhas, cadeiras, espelhos, ao estilo europeu) eram populares no início do século XX e congregavam boleiros santistas. Na sequência, vou me aprofundar em um desses espaços — o Café Paulista — ponto de encontro dos jogadores e torcedores do Santos Futebol Clube, sua relação com a Rua XV de Novembro e o comércio exportador de café.

CAFETERIAS: PONTO DE ENCONTRO DOS BOLEIROS

Nas primeiras décadas do XX o porto de Santos respirava café. Era comum o relato da onipresença do cheiro daquele produto ao passar pela cidade, principalmente o grão verde. Corretores apressados levavam latinhas de amostra do produto para venda às companhias exportadores. Sacas de diversos produtores do interior eram movimentadas pelas ruas por carroças e armazenadas em diversos sobrados com pé direito duplo. A zona portuária, mais próxima da vida da cidade, fazia com que embarques feitos por estivadores e doqueiros fossem parte da vida cotidiana dessa cidade-porto.

Mas outro cheiro estava bastante presente nessa cidade-porto do café: o do grão torrado e moído. Diversos Cafés e Confeitarias ao estilo europeu tornaram-se parte da vida cotidiana da cidade. Sendo um porto entre duas capitais, a do Estado e do país, a proximidade desta última, em geral, dava o tom dos estabelecimentos urbanos.

No Rio de Janeiro, locais como as Confeitarias Paschoal e Colombo, e os Cafés Papagaio e Nice eram a sensação do início do século XX. Tinham um aspecto padrão: mesinhas de tampo de mármore e pé de ferro, cadeirinhas “austríacas” de palha e garçons com chocolateiras em punho cheias de café e leite para o consumo dos fregueses. Nessa época, o centro do consumo do café não era o balcão, mas as mesinhas. Nelas, pelo preço de um cafezinho, longas rodas de conversa se formavam das mais diversas temáticas e interesses. Literatura, artes plásticas, música, e é lógico, o futebol.

Foto de Café no Rio de Janeiro , c.1903. Acervo Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro | Augusto Malta

O Café Nice era conhecido pelo reduto da boemia compositora de sambas e, também, pelos jogadores de futebol, em geral atraídos por amigos músicos. Nesse local, Leônidas da Silva, Domingos da Guia e Fausto dos Santos se tornaram habitués nos anos 1930. Essa mistura de café, futebol e samba fez com que Lamartine Babo, outro frequentador famoso do Nice, se tornasse responsável pelos hinos populares dos principais clubes de futebol do Rio de Janeiro por volta de 1949.

O Nice tornou-se ponto de encontro dos boleiros de diferentes clubes cariocas. Por isso, por diversas ocasiões, assuntos de dentro do campo eram discutidos — por vezes acaloradamente — dentro do Café:

Manchete sobre incidente no Café Nice. A Batalha, Rio de Janeiro, 19 nov. 1937, p. 1 | Acervo Biblioteca Nacional

Em Santos não foi diferente. Os principais estabelecimentos de café da cidade entre os anos 1920 e 1930 ficavam localizados próximos à zona portuária, na Praça do Rosário (atual Rui Barbosa). Eram eles: Café Paulista, Café e Confeitaria do Povo, Café Java e Café Paris. Cada um desles era reduto de uma agremiação: o primeiro era frequentado pelos players do Santos F.C.; o segundo era ponto de encontro dos atletas do Hespanha Futebol Clube (hoje conhecido como Jabaquara Atlético Clube); o Café Java congregava os jogadores da Associação Atlética Portuguesa Santista; por último, o Café Paris mantinha o círculo dos jogadores do team da São Paulo Railway (SPR) local.

Fotografia da Confeitaria e Café do Povo. Revista Flamma, São Paulo, 5 jan. 1923, p. 16 | Acervo Biblioteca Nacional

O interessante é que a ligação de cada Café com uma agremiação específica não foi mera coincidência. O Café Paulista, mais próximo do coração das negociações do produto, era frequentado também por corretores de café e exportadores do produto, pessoas que também faziam parte da direção e participavam da vida cotidiana do clube alvinegro. Os outros dois, Confeitaria do Povo e Café Java [1], eram de propriedade respectivamente de um espanhol e um português, congregando imigrantes dessas duas nacionalidades que eram as mais visíveis na cidade de Santos no início do século passado.

Fotos da Praça do Rosário, atual Rui Barbosa (esquerda) com detalhe das fachadas do Café e Confeitaria do Povo e Café Java (direita). c. 1915. Acervo Fundação Arquivo e Memória de Santos | Direitos reservados.

O jornalista De Vaney escreveu no jornal Cidade de Santos, página 8, de 29 de agosto de 1968, suas lembranças dos espaços de Cafés que eram “pontos” dos futebolistas e esportistas da cidade:

PONTOS

Tal como em S. Paulo e no Rio, em Santos os associados e jogadores dos clubes santistas tinham o seu “ponto”. Geralmente em um café ou um bar. O Café Paulista, por exemplo, ainda um “café sentado”, era só do pessoal do Santos [Futebol Clube]. E em suas paredes fronteiras, nos porticos espelhados, é que se colocavam os resultados dos jogos que os Santos disputava fora. Às vezes, um convite: “Todos à estação da ‘Inglesa’ para receber os vencedores”. O ‘Paulista’ está no mesmo lugar de antes. É o único que ainda resiste, embora já seja restaurante e totalmente remodelado. A ‘Leoneza’ era dos associados da Portuguesa e ficava na esquina da praça com João Pessoa, no lugar onde se encontra agora, e por pouco tempo, o Caravelas e a Copenhague. No Café Paris, hoje ‘Gaiato’, na S. Leopoldo, predominava a turma do SPR, e no Central, General Camara quase na Praça Rui Barbosa, reunia-se o pessoal da Americana. Mas o Central era também restaurante, e era ali que os clubes da ASEA comemoravam seus triunfos […]

Esses locais eram não só redutos, mas também locais de apoio financeiro e formação de redes de sociabilidade e solidariedade para esses clubes. Em momentos de necessidade, abriram-se subscrições públicas para auxílio de sócios e não-sócios para as finanças. Além disso, também se organizavam excursões de torcedores para acompanhar os teams em jogos fora da cidade; essas caravanas, normalmente, tinham como ponto de encontro e saída os Cafés.

Inauguração do campo do Hespanha Futebol Clube. A Tribuna, Santos, 11 set. 1924, p. 3 | Acervo Biblioteca Nacional.

Locais de sociabilidade também são locais de conflito e isso espelhava-se nesses Cafés. Um fato relatado pelo jornal A Tribuna em 15 de março de 1926 chama atenção: a destruição do Café Java por conta de uma discussão que começou no campo. Após um match entre Portuguesa Santista e São Paulo Railway de Santos, jogadores dessas duas agremiações tiveram uma, digamos, “discussão acalorada” que resultou em “cadeiras, mesas, garrafas, xícaras arremessados”, fazendo o local ficar em tal estado que obrigou o proprietário a fechar o estabelecimento naquele dia. O jogador Cortez, da agremiação inglesa, teve cortes na cabeça e teve que ser atendido na Santa Casa.

Trecho de matéria sobre a destruição do Café Java. A Tribuna, Santos, 15 mar. 1926, p. 4 | Acervo Biblioteca Nacional

No dia seguinte, novamente A Tribuna, com mais detalhes:

Futebol e policia

Sem mais outro interesse que noticiar um facto policial, como um outro qualquer entregue á acção da policia, relatámos, hontem, o conflcito havido no Café Java, conflcito esse provocado por jogadores, sócios e adeptos de dois conhecidos clubes da cidade, os quaes haviam disputado uma partida do campeonato, na tarde de hontem.

O conflicto verificado naquelle café nada mais foi que a sucessão dos acontecimentos havidos durante a realização dos jogos entre os clubes S.P.R. e Portuguesa, ambos muito conhecidos em Santos, e com largo circulo de sócios e admiradores.

Na noticia a que nos referimos, dissemos ter o jogador Cortez, do S.P.R., que ficára ferido na cabeça, dito, na Central, que o seu ferimento fôra occasionado pelo presidente da Portuguesa e por um outro senhor.

Isto o ouvimos claramente, da boca de Cortez, quando relatava o sucedido ao sr. Major Arthur Alves Firmino, suplente de subdelegado, então de serviço.

Sabemos, porém, que o presidente da Portuguesa se achava no local do conflicto, tendo elle próprio isso nos declarado, hontem, á noite.

O inquérito, no entanto, prossegue e tudo, afinal, será esclarecido como qualquer outro affecto á policia.

A confusão é relevante para que possamos apreender a apropriação desses locais de sociabilidade pelos jogadores de futebol. A documentação deixa clara que nesses estabelecimentos, comemorações e frustrações eram acompanhadas de xícaras de cafezinhos. Além disso, a proximidade dos estabelecimentos: o Café Paris, “ponto” dos boleiros da agremiação futebolística da São Paulo Railway, localizava-se quase em frente ao Café de Java, assim como todos os outros cafés que ficavam mais ou menos situados na mesma Praça do Rosário. Tal fato, sem dúvidas, contribuía para o ambiente de animosidade em caso de divergências esportivas, que também poderiam ter motivações pessoais.

Localização aproximada dos cafés no mapa atual da Praça Rui Barbosa, em Santos — SP.

CAFÉ PAULISTA E O SANTOS FUTEBOL CLUBE

Dos quatro Cafés citados, o mais ligado ao esporte foi também o mais longevo. O Café Paulista, fundado em 1911 como um café e restaurante funcionou até 2017.

Oito anos após sua fundação já era possível encontrar informações que ligavam o estabelecimento ao futebol que iam além de reuniões dos sportsmen locais. Em maio de 1919, o então proprietário do Café Paulista Francisco Augusto Real, contratou no Rio de Janeiro uma pessoa que o enviava “os principaes detalhes dos jogos do campeonato de football pelo telefone”.

Assim, pois, os afficionados do sport britannico poderão saber os acontecimentos de mais importância, no Café Paulista, onde será afixado num quadro negro o resultado imediato do que ocorrer no match de hoje entre brasileiros e chilenos. (A Tribuna, 11maio 1919, p. 4).

Alguns anos depois, em junho de 1921, o Paulista foi além: publicou um anúncio em A Tribuna informando que sua linha telefônica estava disponível para qualquer pessoa da cidade que desejasse informações esportivas. Quem quisesse saber sobre partidas de futebol e outras modalidades esportivas (como as famosas regatas), tanto regionais quanto de outras localidades, poderia ligar para o número 1049.

Anúncio do Café Paulista apresentado como “ponto predilecto da reunião dos esportistas de Santos”. A Tribuna, Santos, 02 abr. 1921, p. 4 | Acervo Biblioteca Nacional.

Apesar do futebol ser a grande vedete a partir dos anos 1920, sabe-se que os estabelecimentos de café, nesse período, estavam interessados em outros esportes. O mesmo Café Paulista dizia-se como “único estabelecimento que se interessa, de facto, pelo esporte no geral”. Lógico que a propaganda sempre valorizará o seu estabelecimento e não o do vizinho, mas foi possível localizar importantes incentivos para as regatas, por exemplo, de outros estabelecimentos. O Café Java, ponto de encontro dos jogadores da Portuguesa Santista, teve um troféu com seu nome para competições da modalidade. Isso mostra, na verdade, uma intrínseca relação com as práticas esportivas e esses estabelecimentos do centro urbano do porto santista.

Anúncio da Taça “Café Java”. A Tribuna, Santos, 31 dez. 1912, p. 3 | Acervo Biblioteca Nacional.

Em um Café, a “palestra” era o tempero de todo cafezinho. No Paulista, o Santos F.C. era o que dava a tônica dessas conversas. Jornalistas que queriam alguma informação ou comentário sobre o time iam ao estabelecimento e invariavelmente tinham pauta para as edições seguintes. Por isso, os jornais foram fontes inesgotáveis dessas histórias ligando o estabelecimento comercial à memória do alvinegro praiano.

Um nome que sempre marcava as páginas dos jornais era o de Salustiano da Costa Lima, ou simplesmente “Salu”. Sócio do Santos desde 1928, foi jogador, preparador físico, técnico do time juvenil e durante anos animou a banda que cantava hinos populares na Vila Belmiro em dias de jogo. Essa mesma banda também saía nos carnavais com o nome de “Bloco da Bola Alvinegra”. Não eram raras as histórias de Salu que começavam no estádio e terminavam no Café Paulista, como esta (contada por Hamieto Rosato, em A Tribuna de 18 de novembro 1993) na qual caminhou por todo o percurso de bumbo e baquetas em riste:

Salu acompanhado de Athiê Jorge Coury e Modesto Roma na Rua XV de Novembro. Acervo: Museu do Café | Foto: José Dias Herrera.

Numa tarde em Vila Belmiro, o Santos perdia de 1 a 0 do seu eterno rival. Alguns dos torcedores sofrendo mais do que outros. O dr. Paulo H de Moura (pai do padre Paulo) e Vidal Sion, atrás das arquibancadas, quase mastigando os charutos nas bocas, caminhavam de lá para cá. Entravam em sentido contrário. Quando se encontravam trocavam palavras. O jogo corria solto no campo. Houve uma explosão. O Santos empatou. Gritaria infernal. Cessada esta, a voz de Salu, do alto da arquibancada para o dr. Paulo e Vidal Sion: podem vir para cá para assistirem ao Santos marcar o segundo. Parece que ele advinhara, pois nem bem cabara de falar e outra gritaria. Mais um pouco e terminou: Santos 2 x 1 Corinthians. Salu, feliz, rindo à toa, foi ‘encher’ a cara. Todo o seu sofrimento passara a ser felicidade. Pegou no velho bumbo e saiu. Foi cantando, a pé, para a Cidade, rumo ao Café Paulista, que era uma espécie de subsede do Santos F. Clube, embora José, seu proprietário, tivesse simpatia pelo Jabuca. Ali se reuniram outros esportistas: Renato e David Pimenta, Eugenio Fernandes, Virgilio Pinto de Oliveira (Bilu, o do ‘carrinho’), Sebastião Meneses, Renê, enfim aqueles que davam sua alma pelo Santos. Salu continuou batendo bumbo. Passou pela porta do jornal, à rua General Camara. Cantava, gritava o nome do Santos, sua maior paixão. Seguiu pela Martim Afonso e foi para o Café D’Oeste. Tomou mais umas e outras e continuou. Passou a dar voltas pela Praça José Bonifacio. Varou a noite toda. Lá pelas tantas, não resistindo ao esforço, encaminhou-se para a Casa Rosário. Subiu o degrau e largou-se no chão, totalmente exausto.

A relação de Salu, o Santos, o Paulista e a própria praça comercial de café eram íntimas. Nas fases áureas dos anos 1950 e 1960, de títulos do Santos a carnavais, todos tinham ponto certo tanto no Café, quanto nas ruas onde aconteciam os negócios cafeeiros. Exatamente a uma quadra do Paulista estava o entroncamento das Ruas XV de Novembro com a do Comércio. Lá, tanto o “Bloco da Bola Alvinegra” como os mundiais, nacionais e estaduais de Pelé, Zito, e companhia eram comemorados com serpentinas e chuva de café verde.

Festa na Rua XV de Novembro por ocasião da entrega da Taça Gazeta Esportiva, mais conhecida como Taça dos Invictos. A Gazeta Esportiva, São Paulo, 30 out. 1956, p. 24 | Acervo Biblioteca Nacional.

Dessa áurea fase, outro habitué do Paulista era o corretor de café Athiê Jorge Coury. Seu colega Álvaro Vieira da Cunha, contou aos pesquisadores do Museu do Café em depoimento de História Oral de 2011 que:

O Athiê Jorge Coury, ele, ele… ia sempre no Paulista. Então, botava o café na xícara dele, ele levantava a tampa do negócio, pegava a colherzinha, pegava um pouco de pó e misturava. Fazia o café árabe, né? Porque o árabe não côa o café. Ele toma com aquele pozinho. Ele achava muito bom, isso aí. [2]

Athiê, para quem não conhece, foi famoso presidente do Santos Futebol Clube, responsável pela contratação e manutenção dos escretes multicampeões dos anos 1950 e 1960. Além disso, durante décadas, manteve escritório de corretagem de café na Rua XV de Novembro e atuou como vereador, deputado e senador. Sua circulação garantia com que tivesse bom relacionamento com diferentes setores da sociedade e conseguia ativar importantes redes de solidariedade que iam além do próprio Café Paulista para manter as finanças do Santos Futebol Clube.

Segundo relata Álvaro Vieira da Cunha:

- Bom, o corretor — quando a Santa Casa precisava de — tinha problema, corria um livro de ouro lá na Rua Quinze, até à tarde, estava resolvida a situação da Santa Casa. O Santos Futebol Clube, o Athiê ia lá com um livrão, a turma assinava e acertava a situação do Santos, também. Era uma categoria muito poderosa. [3]

Entretanto, a história de Athiê e do setor cafeeiro dentro do Santos Futebol Clube é muito maior e não cabe nas mesinhas do Café Paulista. Essa história envolve acordos com o Instituto Brasileiro do Café, patrocínio à seleção brasileira e até o envolvimento de Pelé como embaixador do produto no exterior. Tudo isso, deixamos para um próximo texto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde pelo menos o fim do século XIX a cidade de Santos é conhecida como o “Porto do Café” e não deixou de ser o principal porto escoador do produto até os dias de hoje. Pelo fato da relação intrínseca do crescimento da cidade junto a sua região e junto ao “boom” do café, essa relação sempre foi bastante estudada.

Com o desenvolvimento dos esportes na cidade no início do século XX e o interesse específico pelo futebol, principalmente a partir dos anos 1910 e 1920, redes de sociabilidade de adeptos a essa prática foram criadas.

Um dos principais pontos de encontro nesse momento eram os cafés públicos. Neles, os integrantes das principais agremiações formaram ponto de encontro regulares, mimetizando práticas já vistas em outros centros urbanos, como o Rio de Janeiro.

Dentre esses cafés, o Café Paulista se destacou ao longo do século 20 pela circulação de pessoas ligadas ao comércio do café e que, também, tinham relação estreita com aquele que se tornaria o principal time de futebol da cidade: o Santos Futebol Clube.

Naquele café e restaurante, assim como nas imediações onde se localizavam as empresas de corretagem e exportadoras do grão, diversas memórias resistiram sobre comemorações de títulos, carnavais, momentos de crise financeira, etc.

Por fim, nas mesas dos Cafés, dizia Noel Rosa em Conversa de Botequim, o garçom trazia uma média e um pão com manteiga enquanto perguntava-se, à mesa ao lado, o resultado do futebol. Em Santos, essa conversa certamente estaria entremeada com o mercado do café, exportações do grão e como isso poderia afetar o principal time da cidade.

NOTAS

[1] Nos livros de memorialistas de Santos, se dizia que o reduto dos jogadores da Portuguesa Santista era o Café da Leoneza, contemporâneo do Café de Java. No entanto, o entendimento é que o último adquiriu o ponto do primeiro, que manteve a clientela dos boleiros da Briosa.

[2] CUNHA, Álvaro Vieira da, corretor de café da cidade de Santos — SP. Entrevistadores: Bruno Bortoloto do Carmo e Pietro Marchesini Amorim. Santos, Museu do Café, 2011.

[3] Idem, ibidem.

AUTORIA

Bruno Bortoloto do Carmo é Doutor em História Social (2022) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) com período de estágio doutoral sanduíche na École des Hautes Études en Sciences Sociales (2019/2020). Por 13 anos foi pesquisador do Museu do Café, participando de diversas curadorias de exposições, projetos de história oral, pesquisas de referenciamento e publicações. Atualmente é pesquisador do Museu da Imigração.

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