No começo havia "Mouseion"…

Mouseion: Museus em Foco
Museus e Museologia
5 min readJul 13, 2016
The British Museum, Londres.

No final do século XX e início do século XXI, o mundo experimentou uma síndrome de museus. Museus começaram a surgir em todos os países de forma assustadora. De acordo com os dados do IBRAM, no Brasil existem por volta de 3 mil museus, com esse número sempre crescendo. Porém, mesmo que seja algo muito comum em nossa sociedade, os museus são ainda pouco compreendidos pela grande parte da população, especialmente no Brasil, e muito pouco frequentados, em comparação com os países europeus.

Dentro dos cursos de museologia, os alunos estudam extensivamente sobre a museologia como uma área científica e os museus como um campo fértil para troca de experiências, de preservação da memória social, e a pesquisa. Porém, as discussões acadêmicas nunca chegam a esfera pública, por mais que estejam publicadas em periódicos que podem ser encontrados na internet.

Há pouca bibliografia dentro da área da museologia especificamente sobre a história dos museus, sendo que, as que existem estão focadas em outros assuntos e utilizam-se, de forma breve, de partes da história dos museus para contextualizar suas pesquisas.

Então, o que são museus?

Apolo e as Musas no Monte Parnaso

A mitologia grega como início de um imaginário museal

A palavra museu tem ínicio na Grécia antiga, com a palavra grega mouseion, que significa Templo das Musas. Ou seja, a palavra museu tem ínicio na mitologia grega.

Zeus, o olímpico, rei e pai de muitos dos deuses, casado com Hera, a rainha dos deuses e a deusa do casamento, sempre teve seus casos fora de seu casamento. Frequentemente mantinha casos com outras deusas e mortais, e Hera sempre terminava por descobrir e, enfurecido, sempre encontrava uma forma de punir as amantes de Zeus.

Após a guerra contra os titãs, as divindades anteriores aos deuses, Zeus se encontra com Mnemosine, deusa da memória, e, por dez noites consecutivas, se deita com ela. Após um ano, Mnemosine dá a luz às nove musas. As nove musas foram encarregadas de cantar a vitória e os grandes feitos dos deuses, sobre as suas divindades e belezas. Eram as preservadoras da memória. Cada musa possuía um nome e uma atribuição, dada por Hesíodo em seu livro Teogonia, sendo elas:

  • Calíope: Era a primeira das irmãs e era a musa da eloquência;
  • Clío: A musa da história;
  • Euterpe: A musa da poesia lírica;
  • Tália: A musa da comédia;
  • Melpômene: A musa da tragédia;
  • Terpsícore: A musa da dança;
  • Érato: A musa dos versos eróticos;
  • Polímnia: A musa dos hinos e a narradora de histórias;
  • Urânia: A musa da astronomia.

As musas eram a personificação das artes e das ciências. Eram donas da memória absoluta, imaginação criativa e presciência e, com suas danças, músicas e narrativas, ajudavam os homens a esquecer a ansiedade e a tristeza.

Segundo a mitologia grega, o templo das musas era localizado sobre o Monte Hélicon, e era frequentado por poetas, filósofos, astrônomos, entre outros estudiosos em busca de inspiração. Em muitos casos, essas buscas eram seguidas de presentes para as musas, objetos de todo tipo. Era uma mistura de templo e instuição de pesquisa destinada ao conhecimento filosófico. Havia exposições de artes e objetos dentro do museu, porém eram mais com uma finalidade de agradar as divindades do que para a contemplação humana.

É importante, aqui, mencionar que quando tratamos do início da palavra museu ao templo das musas, não queremos dizer que o templo das musas seja um protótipo de museus como conhecemos hoje. São ideias diferentes que compartilham um certo imaginário museal. O templo das musas era um templo, dedicado a adoração, a busca por inspiração, e a contemplação aos deuses. Os museus não possuem esse caráter.

Enquanto muitos tratam do templo das musas, como descrito, um local de adoração, de contemplação e busca por inspiração, poucos olham para as musas como personificação do imaginário museal. As musas eram as preservadoras da memória e cantavam com o intuito de manter a lembrança viva, elas representavam a compilação de todo conhecimento, das ciências e da memória.

O Museu de Alexandria

Poucos sabem que a Biblioteca de Alexandria não era apenas uma biblioteca, mas sim uma espécie de convergência de tudo quanto é disciplina científica da época.

Durante a dinastia dos Ptolomeus, no Egito do século II antes de Cristo, a principal preocupação do mouseion de Alexandria era ensinar e discutir todo o saber enciclopédico existente na época, nos campos da religião, mitologia, astronomia, filosofia, medicina, zoologia, geografia, entre outros. O Museu possuía, além de estátuas e obras de arte, instrumentos cirúrgicos e astronômicos, peles de animais raros, presas de elefantes, pedras e minérios trazidos de terras distantes, etc.

Era constituída por um jardim botânico, observatório astronômico, laboratórios, bibliotecas, arquivos, exposição de objetos, zoológico, entre outros.

Dessa forma, muitos autores, dentro da museologia e áreas relacionadas, o chamam de Museu de Alexandria. Porém, mais uma vez, como nos templos das musas, o Museu de Alexandria não deve ser encarado como uma instituição museólogica atual. o Museu de Alexandria apenas compartilha um imaginário museu, alguns elementos. Também não deve ser encarado como um predecessor do museu. Cada instituição, através da história, que já teve alguns elementos que constituem o museu no presente, não era um predecessor, pois não almejava se tornar um museu. Porém é importante notar que o Museu de Alexandria representa uma parte da ideia de museu, que durante o renascimento até o nascimentos dos museus modernos, ficará ligada ao nome do museu; como uma compilação exaustiva, quase completa, sobre um determinado tema.

Podemos, a partir desses pontos, notar que a ideia de colecionar é tão antiga quanto o homem. Desde que o homem começou a produzir objetos de toda sorte para atuar, modificar e interpretar a realidade, o homem começou a colecionar objetos de fascinação, de estética atraente ou "amuletos mágicos" para a proteção.

Até aqui, vimos um panorama sobre algumas da ideias presentes no conceito moderno de museus, que tiveram suas origens em ações e ideias tão antigas quanto o homem. Por mais moderno que sejam os museus, ele possuí raízes na antiguidade.

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Mouseion: Museus em Foco
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