O Colecionismo na Antiguidade

Mouseion: Museus em Foco
Museus e Museologia
3 min readJul 18, 2016

É inegável que o homem sempre teve um sentimento colecionador. O homem o faz por natureza, se não de algo material, então de algo imaterial, como memórias e experiências, de imagens registradas pelos seus olhos e guardadas no fundo de sua mente. Porém, para compreender por que o homem coleciona, é necessário primeiro entender porque o homem cria.

O Homem sempre teve uma necessidade criativa, tanto para finalidades de uso quanto de contemplação. Os objetos foram criados para várias finalidades, como para expandir os nossos sentidos naturais, como o microscópio e o telescópio, expandir nossas formas de deslocamento, como os carros, os navios e os aviões, para auxiliar e aumentar a eficácia de nosso trabalho, como as ferramentas que utilizamos, utensílios, entre outros. Aqui estão alguns exemplo das várias utilidades que os objetos nos proporcionaram. O homem cria objetos para viver, para alterar a natureza, para compensar as suas limitações, para se relacionar com o mundo real, para satisfazer suas necessidades.

Sendo assim, os objetos se tornam testemunhos sobre o homem, a realidade, sua cultura e suas formas de entender o mundo. Por mais que sejamos todos humanos, os gregos não criaram objetos idênticos aos egípcios. Semelhantes, talvez, porém até mesmo a forma dos objetos é escolhida segundo uma visão do mundo que aquele cultura que o criou tinha. Em outras palavras, recolher objetos é como recolher pedaços de um mundo que se quer compreender e do qual se quer fazer parte ou dominar. Por isso que as coleções retratam, ao mesmo tempo, a realidade e a história de uma parte do mundo, onde foi formada, e, também, a daquele homem ou sociedade que a coletou e transformou em "coleção".

O Colecionismo na Antiguidade

Durante a antiguidade, vários povos empregavam o colecionismo, especialmente povos que conquistavam outros povos. Há tumbas de faraós cheias de tesouros e objetos em ouro e prata colecionados de seu império. A dinastia Ptolomaica, como mencionado no artigo anterior, decidiu por colecionar, armazenar e catalogar todo conhecimento do mundo antigo, e não apenas escrito em papiros, mas objetos de toda sorte que eram coletados por todo reino e levados para o Mouseion de Alexandria. A Ilíada, de Homero, contém várias menções a coleções-tesouros, tanto em poder de privados como de templos. E vários autores romanos, entre os quais Plínio, listavam as peças pertencentes às coleções dos ricos romanos.

Foram 0s romanos, aliás, os maiores colecionadores da Antiguidade. Com objetos vindos de toda lugar de seu império, desde egípcios, romanos, gregos, judaicos, objetos vindo da Ásia e do norte da África, esse colecionismo tinha um finalidade específica, de mostrar a superioridade romana sobre os gregos, pois os romanos não tinham um relacionamento muito pacífico entre os gregos, e, também, demonstrar fineza, educação e bom gosto. As coleções pertenciam a elite romana, aos ricos, e aos templos. Haviam templos que tiveram anexos construídos a ele para abrigar tantos objetos. Esse lugares eram abertos ao publico para visitação, porém é necessário distinguir entre aberto ao público e ao serviço do público. Enquanto um é apenas para visitação, sem qualquer preocupação com as necessidades dos visitantes, o outro tem um foco maior nos visitantes, o transformando no centro dos estudos e no centro das instituições museológicas, onde a instituição tem como objetivo comunicar sua pesquisa ao público.

Os romanos amealharam tantos objetos em Roma que a partir do século III a.C., pinturas e esculturas eram colocadas nos corredores de edifícios públicos romanos, como as termas, fóruns, as basílicas, entre outros. Júlio césar doou suas coleções ao templo de Vênus Genetrix, e vários outros imperadores romanos seguiram seu exemplo. O colecionismo entre os romanos ricos se transformara em competição que elevara tanto os preços dos objetos.

Porém, aos poucos, com a queda do Império Romano e o início da Idade Média, a prática colecionista é abominada pela Igreja, modificando essa dinâmica, e exigindo dos fiéis que se livrasse das coisas materiais, de suas coleções.

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