O Homem Vitruviano, Leonardo da Vinci.

Os gabinetes de curiosidade e o Renascimento

Mouseion: Museus em Foco
Museus e Museologia
4 min readJul 29, 2016

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Se o colecionismo foi algo encorajado durante a Antiguidade, durante a Idade Média, essa dinâmica muda drasticamente. Com a Igreja Católica ascendendo ao poder, a mesma pregava o despojamento pessoal, o desprendimento dos bens materiais supérfluos. A Igreja passa a ser a principal receptora de doações e dessa forma acumula verdadeiros tesouros, o principal tendo sido o "tesouro de São Pedro". Com esse despojamento, a Igreja se beneficiou imensamente, já que usava seus tesouros para lastrear alianças, formalizar pactos políticos e financiar guerras contra os inimigos do estado papal.

No fim da Idade Média, a força de alguns príncipes das cidades-repúblicas começa a se fazer sentir pela formação de tesouros privados. Percebendo os benefícios de acumular tesouros e o status e poder que conferia, datam, assim, do século XIV, as primeiras coleções principescas de que se tem notícia. Dentre as mais notáveis coleções do doge de Veneza, dos duques de Borgonha, na França, e a s do duque Berry, que enchia seus dezessete castelos com manuscritos, pedras preciosas e relíquias.

Os Gabinetes de Curiosidades

O museu particular do naturalista Ferrante Imperato, em Nápoles.

O Século XV representou uma grande mudança na sociedade humana e em suas atividades. Com a igreja perdendo o poder, dando lugar as famílias reais e a crescente burguesia, o homem passa a ser a centralidade de tudo concernente a ciências e artes. O humanismo influenciou grandemente o colecionismo, e todas as produções artísticas, poéticas e literárias.

Com as escavações feitas na Itália, e as várias porcelanas, esculturas, pinturas datadas do Império Romano, um grande afinidade com o classicismo greco-romano passa a imperar na sociedade, as artes e na literatura. Dito isso, justifica-se o nome dado a esse período, de Renascimento.

Além das coleções principescas, começaram a surgir, a partir do século XV os famosos Gabinetes de Curiosidades. Estes que eram coleções privadas da elite, eram repletas de livros, mapas, instrumentos óticos, manuscritos, gemas, pedras, relíquias, porcelanas, pinturas, esculturas, fósseis, ossos, animais empalhados, objetos trazidos das terras além-mar, objetos etnográficos e arqueológicos, entre outros.

Porém, não satisfeitos em apenas coletarem tudo o que conseguiam, a burguesia passa então a investir em artistas contemporâneos, como Da Vinci, Tintoretto, Botticelli, Michelangelo, Brunelleschi, Rafael, entre muitos outros artistas e incorporavam a maior parte das produções desse artistas em suas coleções e seus gabinetes. Das coleções, as mais notórias são as coleções de Borghese, Farnese e Doria de Roma, as coleções dos duques de Este, de Módena e, provavelmente, a mais espetacular de todas, as coleções da família Médici, de Florença, da qual faz parte até mesmo um raríssimo manto de plumas dos Tupinambá, do Brasil.

Além dessa forma de gabinetes, existiam ainda riquíssimas coleções formadas por naturalistas, quer para seu próprio deleite ou para uso em suas aulas nas universidades. Tais coleções eram formadas por uma grande quantidade de espécimes e nunca pela clareza de organização.

O museu particular de Franceso Calceolari, em Verona, Itália (gravura de Cerut e Chiocco, 1622)

Os gabinetes de curiosidade não eram abertos ao público, sendo privado e tendo acesso apenas por convite pessoal de seu dono. Para muitos, a organização dos gabinetes de curiosidade era confusa e aparentava ser um amontoado de objetos, não havia uma lógica organizacional. Porém isso é apenas uma meia verdade. Enquanto não havia uma lógica padrão ou uma lógica comum estabelecida, existia uma lógica pessoal do dono do gabinete. Ou seja, a organização refletia na lógica de seu dono. Eram salas destinados ao estudo e ao exercício intelectual. Para seus visitantes, era um lugar de deslumbramento e de representação de status e poder.

Alguns autores cometem o erro em afirmar que os Gabinetes de Curiosidades se transformaram em museus, porém isso não ocorre. Os Gabinetes de Curiosidades são antecessores aos museus, porém tinham uma característica única e não possuíam os mesmos objetivos que os atuais museus possuem. Eram situados em espaços pequenos, de propriedade privada. Tiveram começo, meio e fim. O que ocorre é que posteriormente essas coleções começam a ser doadas e transformam-se em acervo público.

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