Uma nova era para os museus

Daniel Quirino
Museus e Museologia
3 min readOct 1, 2015

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Um lugar para apreciar coleções, compreender o passado, ver “coisas velhas”. Talvez estes sejam os termos mais comuns para uma definição simplória da grandiosidade de significados do que é um museu.

Apesar de não traduzir de fato o que há por trás desta instituição tão antiga e importante na sociedade humana, não se pode negar que há um fundo de verdade nelas.

Mas calma, não me julgue tão rápido. Admito que usei a palavra “velho” de propósito para criar uma atenção raivosa em você que se interessa pelo tema.

No entanto, há um problema real: infelizmente, ainda entendemos o tal velho ou o passado como algo desprovido de valor, o que definitivamente não é. E nestes tempos de obsolescência programada, do culto ao instantâneo da geraçãoMillennials (dispersa por natureza, conversando em diferentes telas ao mesmo tempo), tudo fica pior.

Haveria interesse destes nativos da informação touch screen consumida a qualquer hora e em qualquer lugar pelo formato do museu clássico? Spoiler alert: sim. Muito. Mas é necessário temperá-lo com pitadas saborosas das novas tecnologias de informação e muita, mas muita criatividade. E é aqui que entra uma dicotomia saborosa e tranquilizadora.

A discrepância museu-tecnologia é apenas aparente, ou melhor, nunca existiu. A verdade é que os dois estão uma lua de mel, e se deus quiser, será eterna.

Instituições museológicas ao redor do mundo, das mais diversas temáticas, estão se adaptando “muito bem obrigado” às novidades, sejam elas surgidas nas redes sociais, nos aplicativos de celulares ou qualquer novo hardware que promova a imagem ou uma experiência imersiva em uma visita.

Mesmo as já manjadas projeções, os “video mappings” e afins, ainda encantam quando bem produzidos, ajustando-se a qualquer tipo de tema. O público (principalmente os mais jovens), são seduzidos por esta forma de interação.

Claro que não estou dizendo nenhuma novidade. Desde a antiguidade, quando ainda era o seminal “Gabinete de Curiosidades”, o museu sempre esteve em transformação. Nunca deixou de expandir seus próprios horizontes, incluindo novas categorias, temas e, principalmente, tecnologias.

No longínquo ano de 1952, por exemplo, Willem Sandberg, diretor do Stedelijk Museum, em Amsterdan, foi pioneiro em introduzir gravadores portáteis em museus, tornando-se praticamente o criador do audioguia nesses ambientes. (Saiba mais: http://www.stedelijk.nl/en/visit-us/hours-and-admission/audiotours).

Os museus são charmosos e antenados, clamam por serem inseridos nas novas tendências, querem viver a companhia das novíssimas gerações.

A definição de museu no portal do IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus) é pura poesia, e está conectada a vontade de expandir horizontes por meio da tecnologia (mesmo não estando explicito):

O museu é o lugar em que sensações, ideias e imagens (..) Espaço fascinante onde se descobre e se aprende, nele se amplia o conhecimento e se aprofunda a consciência da identidade, da solidariedade e da partilha. (…) São casas que guardam e apresentam sonhos, sentimentos, pensamentos e intuições que ganham corpo através de imagens, cores, sons e formas. Os museus são pontes, portas e janelas que ligam e desligam mundos, tempos, culturas e pessoas diferentes. Os museus são conceitos e práticas em metamorfose.

Apps, QR codes, i-beacons, impressoras 3-D, realidade aumentada. Mesmo que você nunca tenha ouvido falar em alguns destes termos, eles estão sendo usados dos modos mais eficientes possíveis, ampliando as possibilidades de conhecimento citadas na definição do IBRAM.

A nova era para os museus está alicerçada nas possibilidades que estes gadgets podem proporcionar quando inseridos de modo criativo em um ambiente. E como bem disse o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, “o mundo da realidade tem seus limites. O mundo da imaginação não tem fronteiras. ”

Visionários serão os espertos e empreendedores que enxergam de longe as novas possibilidades dos museus. Há um novo nicho de mercado/entretenimento que precisa ser explorado. Ir em busca destes recursos poderosos vai fazer toda a diferença. Será uma jornada de conhecimento interativo sem precedentes.

Viagem ao passado, uma definição pobre. Todos os fluxos da história na realidade do presente, o futuro. Imagens, cores, sons, portas, pontes, janelas, metamorfoses. Eis o novo museu.

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