5 Frases de Joe Pass em “How High The Moon”
Começo hoje uma série de posts em que transcreverei e analisarei 5 frases de um solo de qualquer músico, em alguma música. O objetivo deste post é descobrir características linguísticas de músicos diferentes, porém dentro do espaço de uma música apenas. Uma visão micro que facilita a visão macro.
As frases desta edição são do guitarrista americano Joe Pass, cuja história se confunde com a história recente da guitarra no jazz. Pass tinha um jeito muito peculiar de tocar. Possuía uma técnica incrível, passando por várias escolas do jazz com maestria e aparente facilidade. Com um repertório praticamente infinito, era chamado para gravar com todos os grandes jazzistas de sua época.
Além disso, Joe Pass fez história com suas gravações solo e como “bandleader”. O disco “Virtuoso”, lançado em 1973 pela MGM, é considerado até hoje um dos marcos da guitarra jazz. E é desse album que vamos tirar as nossas frases de hoje. Mais particularmente, da música “How High The Moon”, faixa 5 do album, composição de Nancy Hamilton e Morgan Lewis:
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Nesta primeira frase, me chama a atenção a prioridade dada por Joe Pass para o desenho melódico da frase, até mesmo ignorando temporariamente o acorde de G7M no 4º compasso para não perder a linha. A sonoridade pode fazer você se perder no compasso, mas o grande guitarrista não se perde e rapidamente devolve ritmo e notas alvo nos tempos fortes. A ponto de, inclusive, adicionar um lick muito utilizado por Charlie Parker no compasso 6 desta frase. Mestre.
2. 1:43
Como é de praxe em suas interpretações solo, Joe Pass não para nunca de tocar. Esta segunda frase, portanto, está colada na primeira acima. Aqui temos um pequeno gosto de blues no segundo compasso. Pass costuma utilizar o recurso de frases blues quando não há muito movimento harmônico ou quando um acorde de tônica é alcançado após uma cadência. É uma forma interessante de equilibrar a tensão formada por licks com notas alteradas em acordes dominantes.
Além disso, repare no tratamento da tétrade aumentada no 3º compasso: C7#5.
3. 1:47
Mais uma vez seguimos Joe Pass pisando forte no acelerador. É a terceira frase seguida, sem parar pra respirar!
Nesta frase, depois de resolver o acorde de F7M, o guitarrista desce cromaticamente até a nota-alvo Ab, terça menor de Fm7, no terceiro compasso. Ele continua o movimento descendente, desta vez respeitando a escala diatônica de Fá Dórico, para aplicar um arpeggio de Cm7 em cima de Bb7 (!!!) e atingir a terça de Eb7M cromaticamente.
Perceba que, quase sempre, a primeira nota de um compasso faz parte do acorde que o acompanha. E também, esta quase sempre é aproximada de forma diatônica ou cromática. Fica a dica de estudo para melhorar as suas frases!
4. 2:12
Esta frase incrível é um show de aproximações. Cromática ascendente para a nota B no 3º tempo do 1º compasso, cromática descente + ascendente para G# no 2º tempo do 2º compasso e diatônica para as notas C no terceiro compasso.
Repare no uso dos arpeggios de G e Em em cima de Am7 no 3º compasso, duas ferramentas comuns no repertório de Pass, e também em um de seus mestres: Wes Montgomery.
Em D7, mais uma vez, a tétrade aumentada e uma resolução antecipada no tempo 3 do 4º compasso. É como se o guitarrista estivesse “adiantando” o acorde de resolução G7M.
5. 2:19
Nesta última frase, Pass começa com um arpeggio extendido de Bb7M em cima de Gm7 e, logo em seguida, faz uma longa aproximação para a nota F no segundo compasso. Basicamente um cromático ascendente duplo seguido de um cromático descendente duplo. Complicado de explicar mas é fácil de aplicar no instrumento!
O terceiro compasso começa com uma nota A aproximada cromaticamente e um pequeno padrão em terças descendentes já brincando com a sonoridade blues (Pass varia entre as notas Ab e A).
Mais uma aproximação cromática de ambos os lados para alcançar a nota-alvo A no 3º tempo do 4º compasso, para finalizar com a tríade de C sobre F7M para terminar bem na fundamental do acorde de Fm7.
