Amadurecimento individual
“Eu acho que muitas pessoas cresceram com a ideia de que não podem aprender as coisas por conta própria. Elas acham que precisam de uma instituição para lhes suprir conhecimento e ensinar a como fazer as coisas. Eu não poderia discordar mais.” (Tara Westover)
Atualmente, uma significativa parcela da população considera a tão famigerada “escola” como sendo fundamental para o acúmulo de conhecimentos sociais de um indivíduo, visto que integramos uma sociedade influenciada pela constante atuação de órgãos que visam assegurar os direitos de cada cidadão, sendo a convivência em centros educacionais um desses. Com isso, a contínua presença de crianças, adolescentes e adultos em instituições de ensino é algo fixo no cotidiano de cada ser humano, o qual é constantemente “bombardeado de informações”. Todavia, a ausência de uma base de informações essenciais para a vivência de uma sociedade está presente na vida de milhares de pessoas, da forma que esteve na infância de Tara Westover.
A americana consagrou-se como a autora do livro “A menina da montanha”, no qual relata sua trajetória de vida até a conquista do Doutorado em História, na Universidade de Cambridge. Apesar da leitura ser marcada por uma linha temporal construída com base nas lembranças da autora, descrevendo desde a conturbada relação com a família em sua cidade natal até os primeiros passos em um ambiente escolar desconhecido aos seus olhos, uma revelação surpresa é capaz de expulsar o leitor de seu ambiente de conforto para uma nova realidade, na qual um fato é exposto: a primeira experiência da autora com um ambiente escolar foi aos 17 anos.
Tara Westover nasceu em meio às montanhas de Idaho, Estados Unidos, no ano de 1986, sendo a caçula de sete irmãos. Desde pequena, sempre soube que um fato tornava sua família diferente do modelo que as pessoas cultivavam em suas mentes: tanto ela quanto os irmãos não frequentavam a escola. Crescendo em meio ao fanatismo religioso exacerbado do pai, a infância da autora consistiu em uma preparação para o “fim do mundo”, baseada na possibilidade de sobrevivência caso a família se adaptasse a viver de forma independente das ações do governo, levando em consideração a desaprovação do pai com relação a centros de ensino e a desconfiança acerca de hospitais.
Além disso, com o desenvolvimento do enredo, a autora deixa cada vez mais claro o quão influenciadora foi a figura autoritária, machista e ignorante do pai sobre a construção de uma convivência tóxica entre os membros da família, os quais eram constantemente controlados pelas escolhas do patriarca.
Com uma relação familiar sendo diariamente abalada por um contexto de violência tanto física quanto psicológica, o isolamento social junto da rejeição pela família tornaram-se pensamentos comuns para Tara em seu cotidiano. Entretanto, a busca incessante pelo conhecimento que tantos julgavam como essencial surgia como uma voz mais alta do que todo o rancor guardada pela negação ao aprendizado, o qual foi conquistado por Tara devido ao tamanho sentimento de mudança que sonhava.
Ademais, a autobiografia destaca-se ao alternar os sentimentos de insegurança, por parte da autora, com relação a “quebra” ou a reconstrução dos laços familiares, além da aguçada curiosidade demonstrada ao longo das páginas pelo rumo ao desconhecido.
Em virtude de tudo isso, o livro “A Menina da Montanha” demonstra da variadas intensidades o quão influenciador e intrometido o amor pela família atua como sendo um agente externos na tomada de decisões relacionadas à fidelidade e ao egoísmo em abandonar aquilo o que nos torna únicos. Afinal, a educação é uma ferramenta relativa ao amadurecimento de cada indivíduo, o qual nem sempre está associado a um centro escolar.