Geração do (des)Sucesso

Osvaldo Daumas
ODesign
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5 min readNov 10, 2016

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Mês passado eu fiz 24 anos e esse ano, em específico, tem me trazido muitas reflexões. Considero que já fiz bastante coisa nesse pouco tempo. Tenho um diploma técnico, estou no último semestre da faculdade, já não moro mais com os meus pais desde os 15 anos, e trabalho desde então. Já estudei em uma Universidade americana de renome, trabalhei e morei em Nova York, faço trabalho voluntário desde os 18 anos e atualmente trabalho como freelancer, depois de atender remotamente uma das melhores agências da minha região. Mas você se engana se acha que esse texto é para eu discorrer sobre os meus feitos, como a minha vida é maravilhosa e como você pode alcançar as mesmas coisas, largar o seu emprego, sua casa e ir viajar pelo mundo. Depois de ter passado por essas experiências, que é uma realidade muito distante para o brasileiro médio de 20 e poucos, eu posso afirmar: não me considero bem sucedido e não sou nem um pouco feliz com a minha vida profissional no momento, o que tem me afetado psicologicamente, levando à crises de ansiedade e insônia, por exemplo. E se você também se sente assim, não se preocupe, não estamos sozinhos.

Tivemos acesso “muito fácil” à educação e somos filhos de uma geração que teve bem pouca, ou ainda nenhuma. Muitos de nós até mesmo representamos o “primeiro da família a entrar na faculdade e ter um diploma”, como muitas mães e avós devem falar por aí. E isso veio a um preço muito alto para nós, ditos millennials. Sofremos com a pressão do sucesso prematuro. Fomos criados sobre a perspectiva de que somos fadados ao sucesso profissional e pessoal, sejam essas expectativas alimentadas pelas nossas famílias, amigos, a sociedade em geral, e com um maior peso ainda, por nós mesmos. Entretanto a realidade não é bem essa. E existem alguns pontos importantes que explicam isso.

“Educação”

A educação no nosso país ainda é um privilégio, apenas pouco mais de 11% da nossa população adulta (25 anos ou mais) possui um diploma de ensino superior*. E ainda assim, a entrada em uma instituição pública ou particular de renome, não é garantia de sucesso. Nosso ensino ainda é medíocre. Os profissionais da nossa educação não são valorizados, nossas salas de aula possuem estruturas ultrapassadas, tais quais os métodos didáticos aplicados. E embora a experiência de uma Universidade seja imprescindível, é bem capaz de que no final, você tenha apenas um papel para emoldurar, por na parede e deixar a sua mãe ou avó orgulhosas por alguns poucos meses, até vocês perceberem o segundo problema.

“Mercado de Trabalho”

Sinto muito orgulho de ter no meu ciclo social vários amigos recém formados que possuem um ótimo currículo para a idade deles, todos nos 20 e poucos. Com diploma em várias Universidades Federais pelo Brasil, tendo feito estágio em multinacionais no exterior, falando mais de uma língua, e que ainda assim encontram muitos desafios quando o assunto é mercado de trabalho. A verdade é que as oportunidades são escassas, e quando elas existem nós somos explorados. O empreendedor no Brasil passa por muitas dificuldades, isso é fato, no entanto as nossas empresas não valorizam os seus funcionários. Ao sair da Universidade você verá critérios absurdos para que você seja contratado, e caso essa contratação aconteça, os salários não serão justos, a carga de trabalho será enorme e a satisfação inerente ao trabalho que você realiza será quase nenhuma a médio ou longo prazo. É comum ouvir de pessoas da geração anterior, e que provavelmente vai ser quem está lhe oferecendo a vaga de emprego, que somos a geração mimimi, já que não queremos passar pelo árduo percurso que eles tiveram que percorrer para serem promovidos ou conseguir aquele trabalho dos sonhos. Mas se somos a geração que gasta anos investindo em educação, especializações e experiência, deveríamos mesmo nos contentar com o abuso e desrespeito do empregador? E infelizmente essa é uma realidade que atinge a todos, sejam os que se lançam em uma região do país com um mercado de pequeno ou médio porte aos que estão tentando o sucesso nas grandes cidades. É difícil para quem quer trabalhar por “amor” à profissão, e ainda mais difícil para quem procura justa remuneração.

Esses são apenas dois pontos cruciais nessa história toda do porquê somos a geração do (des)sucesso. E essa busca pelo êxito em um ambiente social, educacional, político e trabalhista que não nos fornecem ferramentas e o reconhecimento necessário para a realização profissional, que nossos pais tanto achavam que teríamos, está criando jovens doentes de corpo e alma. Nos foi prometido um futuro que nunca existiu, e que dificilmente será a realidade do nosso país nos anos que se seguem. Então não se culpe caso você não se encaixe nessa geração de sucesso, acredite, mesmo aqueles que tiveram acesso a oportunidades que a maioria não têm também não chegaram lá. E aqueles que já conseguiram, bem provavelmente, fazem parte da mesma minoria que usufrui do sucesso desde séculos passados. A verdade é que pessoas como nós, terão que se esforçar bem mais até alcançarmos o famigerado sucesso, contudo nossa saúde física e mental não deve ser encarada como moeda de troca para que alcancemos esse objetivo. Deveríamos ser conhecidos como a geração que se permite experimentar, que arrisca e erra sem medo, já que temos um conceito de realização profissional bem diferente do que o status quo ditava há anos atrás. Lamentavelmente, ainda não somos essa geração.

Descubra o que realmente te faz se sentir realizado. Realização é um conceito muito diferente de sucesso, que por sua vez geralmente está ligado ao que esperam de você, ao invés do que você realmente espera de si mesmo. Dinheiro pode ser um degrau pra alcançar essa realização, mas acredite não é o essencial, e trabalhar com o que você não gosta, ou deixar que uma empresa desperdice o seu potencial não irá te proporcionar nem um nem outro. Sucesso pode vir aos 20, como só aos 50, mas realização vai bem além disso, você pode começar a encontra-la agora.

*fonte: IBGE — Censo de 2010

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