Uma reflexão sobre ~ Destino

Letícia Selene
MysticBujoWitch
Published in
4 min readJan 23, 2021

Nas perguntas que levantei dias atrás nos stories do Instagram, 100% dos que responderam disseram que “ACREDITAM EM DESTINO” e que “PROCURAM DESENVOLVER AUTO-CONSCIENCIA”. Pra mim são simplesmente respostas antagônicas e estou aqui pra explicar porque.

Fiz um post tempos atrás, também no Instagram, sobre Jung e sua célebre afirmação de que “Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e você chamará de Destino”. Daqui destrinchamos alguns pontos:

Primeiro — O que é Destino?
Do dicionário: 1. tudo que é determinado pela providência ou pelas leis naturais; sorte, fado, fortuna.
Ou seja, popularmente traz a ideia de que O Destino é geralmente concebido como uma sucessão inevitável de acontecimentos relacionada a uma possível ordem cósmica. Portanto, segundo essa concepção, o destino conduz a vida de acordo com uma ordem natural, segundo a qual nada do que existe pode escapar.

Segundo — O que é Inconsciente?
Pode ser compreendida como a palavra que define todos aqueles processos mentais que ocorrem sem que o indivíduo se dê conta. Seguindo a lógica do dicionário: 2. que perdeu o conhecimento, que está privado de consciência.

Para Jung, no entanto, bem como na psicanálise, o Inconsciente é um conceito. É então comumente definido como “o conjunto de processos psíquicos misteriosos para nós mesmos”.

No livro de Jung, O Desenvolvimento da Personalidade, ele explica o Inconsciente como sendo “A terra do jardim, da qual brota a consciência.” Por isso, o inconsciente é tudo aquilo que reside em nossa mente mas que não temos conhecimento.

Poderíamos facilmente fazer uma analogia com um Iceberg, ou como Jung faz nesse livro, “O inconsciente, em vista de sua extensão indeterminável, poderia talvez ser comparado ao mar, e o consciente seria apenas uma ilha que se erguesse sobre o mar.”

Terceiro — A auto-consciência

Tanto na frase quanto no livro citados, Jung traz a concepção de que nem sempre estamos totalmente direcionados ao que fazemos, sentimos e pensamos. No livro ele diz também que “tanto o inconsciente como consciente não representam algo de estável e permanente, mas cada um é algo vivo que está em contínua ação recíproca sobre o outro. Conteúdos conscientes acabam mergulhando no inconsciente quando perdem sua intensidade ou atualidade. A este processo denominamos esquecer.”

Se você é alguém que pratica auto-consciência, significa que é alguém que busca trazer luz ao que está inconsciente. É alguém que pretende compreender tudo aquilo que foi reprimido no decorrer da vida: atos falhos, esquecimentos, sonhos, traumas e até mesmo paixões — tudo o que se torne difícil de lidar ou se desatualiza. Alguém que quer uma explicação, no entanto, inacessível para nós mesmos pois foge da razão.

Tendo levantado esses pontos e dito tudo isso, eu agora me arrisco a dar meu ponto de vista.

Conhece a carta dos Enamorados do Tarot? Ela diz que todas as nossas escolhas são abençoadas pelo Universo. TODAS. Ou seja, dentro do nosso mar profundo do inconsciente, moram pensamentos os quais desconhecemos e que podem sim, definir nossa realidade. E digo isso principalmente pra quem se considera Bruxe, pois tem maior sabedoria sobre a ação da nossa intenção e sobre a força do nosso pensamento para modificar a realidade (afinal isso é Magia).

Não existe para mim um viés real onde você acredite que as coisas que acontecem na sua vida e ao seu redor “foram obras do Destino”, pois afirmar que acredita em Destino significa afirmar que não existe força nenhuma capaz de modificar os fatos. Estamos fadados a viver assim e ponto final. Teoria a qual já se desqualifica apenas pela citação do livre-arbítrio.

Nossa, e por falar em livre-arbítrio, você se considera livre?
Se você acredita em Destino eu já te adianto a dura verdade de que, não, você não é livre. Simplesmente por que acreditar nisso significa atribuir as suas limitações ao externo, às leis e paradigmas da sociedade. Esquivando-se da responsabilidade de admitir que é tanto (talvez até mais, alô crenças limitantes) escravo das estruturas internas quanto das externas. O mundo que conhecemos é apenas uma parcela pequena da vida.

E, conforme Jung explica em seu livro, o inconsciente e o consciente estão sempre agindo um sob o outro. Também não é saudável viver submerso no inconsciente sem trazer alguns aspectos à razão do consciente. Sempre falo que “olhar pra dentro só faz sentido se olharmos de novo pra fora”, é preciso existir esse exercício de consciência reflexiva, para o que está na estrutura interna fazer sentido na estrutura externa. De modo ético, sem limitações de potencialidades.

Agora ligando todos os pontos com o fator Destino, Jung também aponta a importância da consciência na conquista da liberdade individual com a frase “o que não enfrentamos em nós mesmos, encontramos como destino.” Isso significa que inevitavelmente vamos criar com nossos poderes mentais, propositais ou não, situações que nos fazem lidar com o que mora no nosso subconsciente. Claro, digo isso sempre num contexto e definição da psicanálise, na qual eu me apoio muito para construir novas realidades para mim e para quem gosta do que penso e falo.

Em conclusão, acredito ser simplesmente inviável alguém dizer que pratica autoconsciência, fazendo uma autoanálise e uma autocrítica ao mesmo tempo em que afirma que as coisas são imutáveis e frequentemente obra do Destino. Sendo que nossos pensamentos podem modificar intencionalmente a nossa realidade. Essa é a primeira lição de qualquer Mago.

Nossa capacidade de conversar com o inconsciente e com o consciente é totalmente eficaz na construção da auto responsabilidade de lidar com as estruturas da vida, tanto externas quanto internas. Assim como gosto de cantar na música do Engenheiros do Hawaii, “somos quem podemos ser”.

Estou disponível e aberta a conversar construtivamente sobre esse tema e a conhecer outros pontos de vista. Agradeço muito quem se disponibilizou em ler até aqui.

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Letícia Selene
MysticBujoWitch

Bruxa Mística, Mãe, Taróloga e Artesã. Aqui temos conversas cósmicas e muitas dicas mágicas. Hellcome witches!