Estações

Mayra Gomes
Não é poesia
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2 min readSep 23, 2020

O calendário está mais fino.
O amanhã está ali, em algum lugar.
E, no entanto, não sinto os frios do inverno.
Não quero que minhas folhas se rasguem.
No começo, pensei que não me importaria
Laranja e amarelo não eram o plano.
Eu queria vermelhos e vermelhos de sobra.
Ainda assim, eu seguro cada uma deles com força.

A maioria já está no chão.
A brisa as leva embora de qualquer maneira.
Meu erro foi esperar mais,
Achei que dessa vez elas ficariam.
Agora estou aqui, exposta, nua, cinza.
Eu sei, eu deveria simplesmente deixá-las ir.
É para o próprio bem delas, dizem eles.
Hoje, já estou coberta de neve.

O tempo e eu não nos movemos mais
Endurecidos pelo frio, branco.
Sempre terei algo a provar.
A luz do sol me dá esperança.
Devagar, estou de volta e voraz.
Minhas folhas são verdes douradas.
Não vão durar para sempre, me disseram
Mas elas estão felizes em serem vistas

Agitadas com os ventos,
Águas e flores vieram e partiram.
Expondo minhas tristezas e pecados
Alguns galhos quebraram, outros dobraram.
Minhas raízes estão duras, minhas pontas, gastas.
Há muito mais para aprender
Mas esse sol queima diferente.
Será que algum dias as folhas vermelhas virão?

Tradução por Nice Araujo

©Mayra Gomes. Todos os direitos reservados.

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