Por que as pessoas não são veganas (segundo elas mesmas)

Eduardo Pacheco
Senciência com ciência
6 min readJan 20, 2017
Se queremos mudar os efeitos precisamos agir nas causas

Em setembro do ano passado fiz um questionário para uma pesquisa informal no público não-vegano. O único objetivo desse questionário é saber por quais razões, segundo os próprios entrevistados, os mesmos não são veganos . Ele tinha uma única pergunta (“Não sou vegan porque…”), um monte de respostas, deixava adicionar comentários e propor novas respostas.

Uma das respostas era “por que não me importo”. Coloquei essa pergunta de propósito ( todas elas, na verdade rs) porque os veganos creditam muita importância para essa crença e eu quis testá-la. As outras falavam de saúde, de bem-estarismo , do gosto da carne e de dificuldades para implementar as mudanças necessárias no dia a dia. No total tivemos mais de 2.200 respostas em um período muito curto: por alguma razão os não veganos quiseram dizer por que não mudam seus hábitos.

Você pode conferir o questionário nesse canto esquerdo ou clicando aqui.

Você pode conferir o questionário aqui

O resultado me surpreendeu por várias razões. Primeiro por ter tantas respostas em tão pouco tempo. Segundo pelo engajamento já que um monte de pessoas me procuravam para discutir a questão e se justificar se for o caso. A discussão foi longe e parte dos entrevistados se sentiu extremamente ofendida enquanto a outra parte considerava nossos pontos e dizia que no fundo estamos certos. A mera existência da resposta “Eu não me importo com a exploração dos animais”, que não era obrigatória de ser marcada e acompanhava um disclaimer dizendo que se você se importa basta não marcar essa opção desencadeou uma série de reações indignadas dos respondentes. Como assim está dizendo que eu não me importo? O curioso é que efetivamente eu não disse.

O mais interessante, porém, foi ver como as respostas se distribuíram. Isso me surpreendeu porque muitas das nossas preocupações parecem não ter lá tanto fundamento assim e acabamos deixando de lado o que realmente impede que as pessoas veganizem. Antes de prosseguir com a leitura sugiro que olhe o questionário e tente imaginar como seriam as respostas. Qual a porcentagem para “eu acho a carne gostosa” por exemplo?

Você pode conferir a resposta aqui ( ou aqui ) e os resultados são surpreendentes. As cinco principais respostas são :

40.4% me sensibilizo com o sofrimento animal mas não consigo/acho que vou conseguir adaptar a dieta ao meu cotidiano

31.3% Eu acho a carne gostosa.

26.3% reconheço os valores mas tenho dificuldade de criar novos hábitos

23.5% é muito caro ser vegano

22.4% é muito pouco prático

A soma passa de 100% porque é possível marcar mais de uma resposta. Desse jeito eu vejo qual a parcela dos entrevistados que leva determinada resposta em consideração para não ser vegano . Logo de cara um monte de coisas chamam a atenção. A primeira é que razões associadas ao como ser vegan são muitos frequentes. Praticidade, dificuldade em criar hábitos e adaptação foram a regra aqui. O segundo ponto é que embora o sabor da carne seja importante ( 31.3% ) essa razão parece normalmente ser superestimada. Eu imaginava que mais da metade das pessoas justificariam dessa forma e não foi o que aconteceu. Questões como saúde, reducionismo e bem-estarismo ficaram em segundo plano.

As respostas me fazem pensar que talvez estejamos errando o alvo. Nosso foco hoje deveria ser facilitar a vinda e a permanência de pessoas para o veganismo. Se duas mil pessoas quiseram gastar seu tempo livre para nos contar que de alguma maneira está difícil o mínimo que deveríamos fazer é ouvi-las. Os animais só têm a ganhar com isso.

Inspirado nesses resultados comecei a desenvolver uma série de aplicativos para facilitar que as pessoas se tornem veganas. Peguei as dificuldades mais comuns e tentei fazer um jeito simples de resolvê-las. Tente imaginar o que era a vida há quinze anos sem o Google Maps ou quanto o Uber e o Waze facilitam o nosso dia-a-dia. Por que isso não pode ser aplicado ao veganismo?

Pensei em três problemas principais que me propus a resolver. O primeiro deles é comer fora. Muitas pessoas simplesmente não querem perder sua vida social e gostariam de ter opções veganas onde quer que fossem. Seria ótimo então ter um app prático para encontrar restaurantes por perto.

O segundo é descobrir se caralhos um produto é vegano. Os grupos mantém discussões constantes e há uma incrível troca de informações entre os veganos. Aprendemos sobre como as coisas são produzidas, detalhes de nutrição e questões envolvendo a indústria alimentícia. Se por um lado é bom ter esse conhecimento acumulado, por outro, precisamos admitir que assusta um pouco quem está de fora. É simplesmente muita informação, muita coisa nova e ninguém quer ter essa sensação de estar perdido.

É por isso que um aplicativo que mostre de um jeito rápido e confiável se um produto leva ingredientes de origem animal, se o produto testa em animais, se a empresa testa em animais, se usa soja da amazônia, se usa trabalho escravo ou outras questões seria muito bem vindo. Não proponho aqui discutir quais desses critérios devem obrigatoriamente ser seguidos mas sim apresentá-los para as pessoas. Com isso elas tem condições de tomar decisões éticas melhores.

Por fim, noto que o mercado vegano ainda está em desenvolvimento e é restrito em alguns aspectos sim. E ele só pode se desenvolver caso as pessoas se tornem veganas e tenham oferta de produtos veganos. Para esse fim pensei em um aplicativo que seja um Uber para o veganismo. As pessoas podem comprar e vender produtos como sabonetes artesanais, marmitas e leites vegetais. Sem comissão ( pensei em deixá-la não obrigatória, assim o vendedor paga ao aplicativo apenas se quiser), sem propagandas, facilitando a vida de todo mundo. Você pratica esportes, é vegano e quer marmitas? Nenhum problema. Entre no aplicativo digite o que você quer e pode comprar diretamente pelo app ou pedir para entregar e paga ao produtor. Você quer complementar a renda fazendo docinhos veganos? Fácil, vá fazer seus doces e deixe o app ligado que os clientes chegam até você. Em tempos de crise criamos até uma forma de aquecer a economia: veganos ficam felizes, o Fora Temer fica feliz, os animais ficam felizes.

Uau! E quando isso sai?!

Calminha jovem Padawan. Os aplicativos estão em desenvolvimento e o primeiro deles sairá nas próximas semanas. Vai se chamar It’s Vegan e facilitará que as pessoas encontrem restaurantes veganos ou com opções veganas perto de onde estiverem. Você pode ajudar no desenvolvimento desse aplicativo simplesmente respondendo a essa pesquisa de mercado aqui. Eu postei nos grupos veganos nos últimos dias e tive menos de 200 respostas , o que é ainda pouco para considerar uma amostra suficiente para tentar atender as necessidades dos veganos. Esse app vai ajudar a desenvolver o veganismo e facilitar a vida de quem já é vegano. Peço que por gentileza dedique alguns segundos do seu tempo para ajudar a desenvolvê-lo dizendo o que você pensa :) . Clique no Banner para responder ao questionário.

Os outros dois apps estão em desenvolvimento e devem sair nos próximos meses. Essa ideia de “uber vegano” teve cerca de 100 respostas e apresentou alguns resultados interessantes.

Você pode ver os resultados abaixo:

Descobri por exemplo que muita gente venderia produtos pelo app se ele existisse e que existe uma carência para produtos de higiene pessoal.

E não se esqueça de também pegar alguns segundos e responder a esse questionário . Assim você ajuda a tornar essa ideia realidade sem precisar dar um tostão por isso: é só clicar aqui.

Vimos que boa parte das pessoas sentem dificuldade em se tornar veganas. Nós queremos um mundo mais compassivo para os animais e para isso precisamos da aderência das pessoas. Quanto mais fácil e prazeroso for ser vegano, mais pessoas ficam por aqui e melhor para os animais. É nosso trabalho então criar as condições para isso.

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