O meu gênero é mais importante do que o amor que sinto por você?

Vou te contar sobre quando me dei conta de que estava realmente apaixonado por você.

Foi na quinta vez que eu te vi. Uma rede de vôlei nos separava. Você anunciou para todo mundo que a partir daquele momento me chamaria de “luquinhas”. Como eu odiava aquele apelido. Mas como eu amava quando ele saia da sua boca. Porque você sabia que eu não gostava e usava ele para causar alguma reação em mim. Você se importava.

Era o jeito que você me estudava quando me tirava do sério. Era a preocupação em se desculpar quando algum amigo babaca seu fazia uma piada homofóbica. Era o interesse que você tinha nas minhas experiências com vôlei que sempre se transformavam numa forma de você me elogiar.

Era você demonstrando que eu importava.

A gente nunca teve um fim. Eu não considero o seu namoro o nosso fim. Mas sei dizer exatamente quando foi o começo de nós. Um torneio num dia invernal, frio e chuvoso. Você sempre fica nervoso e com dor de barriga. Eu tentei te acalmar fazendo uma massagem nos seus ombros. A gente perdeu. Mas assistimos aos jogos até o fim, abraçados e enrolados na minha blusa. Não tinha lugar mais quente para você estar naquele dia do que no meu coração.

Eu me entreguei durante aqueles dias. Não me importava se você era um menino que gostava de meninas. Será que meu gênero valia mais do que meu amor?

Nossas mãos dadas. Sua necessidade de me animar. Surpresas com meu chocolate favorito. Lágrimas de amor por mim. Sua cabeça deitada na minha perna. O beijo depois de um dia de video game.

Foi um sonho? Deve ter sido. Depois do beijo, você começou a namorar com ela. Sem conversa, você saiu e deixou a porta aberta. O inverno se instalou, também, no meu coração.

Foram 13 meses até que a gente se reencontrasse por acaso e voltasse a conversar. Em nenhum dia sequer esqueci o peso dos seus lábios nos meus.

As cores da primavera retornaram. Novos ares ganharam passagem aqui dentro. Mas o seu quarto está trancado esperando você voltar.