O romance existe no mundo gay, as provas de amor também

Lucas Panek
Não faz a frígida
4 min readMay 5, 2017

“Os homens gays não querem saber de namorar” e “Se você é gay e quer romance, desista” são falas que eu ouço praticamente toda semana quando estou conversando com meus amigos. Muitos deles já desiludidos com o amor na comunidade gay, que tem aquela fama de querer só relacionamentos casuais (ideia que surge do próprio preconceito e estereótipo do homem gay como uma pessoa promíscua). Será que nos tornamos o pior de nós mesmos?

Eu prefiro não ser cético a este ponto. Eu acredito no amor e no romance e meus relacionamentos provaram que eles existem.

A primeira prova de amor

Se eu já tive relacionamentos banais? Claro que já. Já fui pedido em namoro por whats app, já tive namoro que durou uma semana e já namorei sem amar. Mas aprendi que um relacionamento toma o rumo que você permite que ele tome. E, às vezes, uma prova de amor está em uma coisa bem pequena, como atravessar a cidade para ver quem se ama e estar junto.

Foi assim que eu aprendi o que é uma prova de amor. Meu namorado e eu estávamos no hospital e brigamos por conta da coisa mais idiota do mundo: um garoto bonito que estava sentado perto da gente e que nenhum de nós dois tinha interesse. Eu fui embora bravo, corri para pegar o ônibus sem que ele pudesse me alcançar. Fui de Piraquara até o Terminal do Campina do Siqueira, cerca de 35km percorridos, pensando sobre a briga.

Quando desci do ônibus, fui surpreendido pelo meu namorado, com lágrimas nos olhos, uma caixa de chocolate e um imenso pedido de desculpas. Ali, eu senti o amor, senti-me desejado e tive a minha primeira experiência com o que as pessoas chamam de “prova de amor”. É uma questão de perspectiva.

Cartas de amor

Se tem uma forma melhor do que a fotografia para nunca esquecer o amor que sentimos por alguém, essa forma seria a carta. Mesmo quem não é bom com as palavras, consegue deixar registrado algum sentimento quando escreve uma carta, seja copiando um poema, uma música ou provando que conhece bem a pessoa: “Queria estar aí agora, para ver o teu sorriso, porque sei que sorriste e provavelmente continuas a sorrir com o que te escrevo”.

“Você está transformando a minha vida. Conseguiu preencher cada espaço vazio que havia em meu coração”. As cartas de amor guardam o que há de mais bonito em um relacionamento. Pode parecer piegas, brega, mas o romance não é bonito justamente porque é tudo isso misturado?

Um pedido em namoro especial

Era pra ser só mais um encontro com o menino que eu estava ficando. A gente já estava juntos há algum tempo e gostávamos de sair para comer em lugares diferentes. Então, ele me convidou para tomar um café em um Coffe Shop perto da casa dele, depois, assistiríamos algum seriado juntos.

Quando cheguei, atrasado, vi uma super preocupação e nervosismo na cara dele: “É porque o lugar fechava meia hora atrás. Eles estão abertos só pra gente”. Não entendi porque tinha que ser lá, não poderíamos comer em outro lugar. Mas tudo fez sentido quando cheguei. Era uma cafeteria com floricultura, tudo muito romântico, simples e bonito.

Antes de eu sair de casa, a minha mãe falou: “Eu acho que ele vai te pedir em namoro hoje, filho”. Como mãe pode saber dar coisas? O meu chocolate quente veio acompanhado de um buquê de flores e um lindo pedido em namoro. Foi um dos momentos mais especiais, mas singelos, da minha vida. Sentir o nervosismo dele, ver a felicidade dos atendentes que ficaram tempo além do expediente só para ajudar a dar início a uma história de amor, ver as minhas mãos tremendo e passar pela situação de não saber o que falar por conta da emoção.

Se isso não é romance, o que seria, então?

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