Eu não gosto de queijo (e porque não tem nada demais nisso)

O queijo que a Klara me deu :)

Não saber andar de bicicleta não é a única peculiaridade da minha vida, longe disso. Entre outras várias que provavelmente dissertarei a respeito (ou não) nos próximos posts está o fato de que não gosto de queijo. Tudo começou muito antes do queijo, na verdade, quando eu me recusei a tomar qualquer tipo de leite que tivesse apenas gosto de leite, lá pelos meus seis meses de idade.

Papai e mamãe se desesperaram com a filha em processo de inanição e recorreram prontamente a pediatra Ana Lúcia, que decretou sem delonga a solução para a crise então instaurada e o início do meu sobrepeso na infância: “mistura na mamadeira uma colherinha de achocolatado em pó, vai funcionar”. E funcionou!

O fato é que desde bem cedo eu demonstrei uma rejeição profunda e feroz pelo leite e seus derivados (o leite condensado está fora dessa lista, por razões que dispensam maiores explicações), especialmente o queijo. Ele não me descia. Não desce até hoje, aliás. O único jeito de eu comê-lo é bem derretido na pizza (e só vale mussarela, nada de parmesão e afins). Obviamente não rola pizza do dia seguinte. Ah, eu também o como quando ele atende pela alcunha de Catupiry ou de Philadelphia (anuncie aqui \o/), recheando minha babata rostie, minha empada de camarão ou meu pastel de frango estupidamente quentes. Mas enfim, deixa eu ir direto ao ponto, antes que acabe me alongando demais…

Essa condição sempre acabou me excluindo de alguma forma, inegavelmente. A macarronada de forno, tradição de papai, passou a ter metade da travessa sem gratinar desde a minha chegada a esse mundo, até que para evitar a fadiga ela deixou de ser uma tradição de papai. Não rola lasanha, não rola escondidinho. Cheeseburguer também não! Dividir aquela batata frita cheia de cheddar e bacon (ah, também não como carne vermelha, sorry, not sorry) com os amigos? Não dá também. Tão pouco ir a festinha de queijos e vinhos (até porque, a propósito, eu não bebo). E eu também não suporto manteiga, o que torna tudo ainda mais difícil. Enfim… Obviamente as pessoas me perguntavam frustradas porque eu não gostava de queijo e me tratavam como fresca, maluca e… Diferente. Desde sempre. Ou desde que eu me reconheci como gente, pelo menos.

Acreditar que somos diferentes é um problema sério. Primeiro porque nos torna incrivelmente soberbos e segundo porque nem verdade isso é. Aposto que tem mais gente que não gosta de queijo no mundo, eu só não encontrei essas pessoas ainda (não ao menos que não sejam intolerantes a lactose). Além disso, nós enquanto humanos somos seres tribais. Gostamos de nos encaixar, de fazer parte, e eu não me adequava em nenhum lugar, pelo menos em nenhum lugar legal, né? Ser a diferentona, a única, a barroca (hahaha melhor meme) não me ajudava em nada nesse sentido, só me tornava um estorvo na hora das refeições em família ou entre amigos. Só me isolava tristemente e me fazia ter aquela sensação chata de que estou atrapalhando, dando trabalho, sabe?

Foi para evitar esse tipo de constrangimento (ou antecipa-lo) que logo que conheci meu noivo tratei de falar a real. Ele é argentino, descendente de italianos, então o esperado para mim era uma grande decepção, parecida com a que acontecia sempre que eu não avisava a mãe dos meus amigos que não comia isso ou aquilo e ela preparava para o almoço ou janta justamente isso ou aquilo. Mas na verdade o que rolou foi mais ou menos isso aqui:

_ Então, eu não gosto de queijo.

_ Sério?

_ Pois é…

_ Legal, sobra mais pra mim!

Essa resposta tão desprendida, tão debochada e tão sacana foi revolucionária pra mim em tantos graus que eu nem sei explicar. Passei uma existência (tá, nem tanto assim, conheci ele com 20 anos…) encontrando maneiras simpáticas e polidas de informar os outros da minha “deficiência”, porque no fundo as outras pessoas tratavam isso como se fosse uma enorme perturbação, um incômodo absurdo, sendo que sempre dá para simplificar, para incluir, para ajustar.

Se eu aturo a sua mania de fumar em ambientes fechados a travessa realmente precisa ser toda gratinada? Já que eu nem reclamo (tanto assim) dos seus atrasos constantes, porque não pedir o cheddar a parte da batata frita? Precisa tacar parmesão no macarrão inteiro, considerando que você nunca devolveu meu exemplar de Harry Potter e o Cálice de Fogo? As coisas podem ser mais fáceis, mais suaves mesmo. Que tal um pouquinho de paciência com as “manias” alheias e, porque não, tolerância?

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