A Neotevê

Dos Discursos
Na Era da Neotevê
Published in
3 min readSep 22, 2019

Hoje, vivemos na época da Neotelevisão, marcada pela multiplicação de canais e privatização. Uma mesma personagem pode ter papéis diferentes. A Neotevê fala de si mesma e do contato que estabelece com o público, busca entreter o espectador dizendo “eu estou aqui, eu sou eu e eu sou você”.

Paleotevê vs. Neotevê

A Paleotevê é era uma forma mais restrita de disseminação da informação. Com canais mais reduzidos, era possível lembrar as principais figuras (sejam elas do jornal ou do entretenimento) de cada canal. Com a invenção da Neotevê, isso ficou impossível. A multiplicidade de vozes, canais, apresentadores e programas e formatos de programas trouxe esta confusão para o espectador. Aliás, o espectador não é mais passivo, ele entra na programação e é parte integrante dela.

Informação e Ficção

Há uma divisão dos programas televisivos em dois grupos:

Programas de informação, nos quais a tevê fornece enunciados a respeito dos eventos e há uma separação entre informação e opinião.

Programas de fantasia, também denominados “programas de espetáculo”, são aqueles em que se aceita como verdadeira aquela premissa de que tudo que se passa ali é fantasia e não tem compromisso com a verdade. Aqui, a avaliação é feita através de verdades parabólicas (valores que circundam o enredo).

Observação: Nos programas de informação, a realidade (veracidade da informação) pode ser questionada e é socialmente aceito que seja. Já nos programas de fantasia, a realidade não é questionada (se, por exemplo, as sereias têm de fato a cauda daquela cor ou se aquelas palavras realmente produzem um feitiço) e não faz sentido que seja.

Outro ponto importante é quando essas duas classes se misturam: a informação diz respeito à ficção. Isto é, sendo a fantasia um reforço da cultura, a mudança de paradigmas culturais gera uma reação.

O olhar para a Câmera

Em geral, pode-se tomar por regra que o olhar para a câmera já diz se o programa é de caráter informativo ou fantasioso.

Normalmente, quem fala olhando para a câmera, representa a si próprio:

E quem não olha, está representando um outro:

Isso ocorre por que, no primeiro caso, se quer enfatizar a presença da câmera e a relação do espectador com o âncora.

No segundo, essa relação com a câmera é suspensa, de modo que se tem a impressão de que aquela cena aconteceria com ou sem a presença da câmera. A televisão quer desaparecer como sujeito do ato de enunciação.

Com o tempo, o olhar ou não para a câmera começou a se emaranhar, de modo que, nos programas de auditório, o olhar para câmera é quase irrelevante.

Programas de informação e ficção passam a ser indissolúveis. Com essa análise percebe-se o parentesco de programas de informação e entretenimento:

Eu estou transmitindo a verdade

Passa a ocorrer uma crise da relação de verdade factual sobre a qual repousava uma dicotomia entre informação e ficção. A Televisão se torna um veículo de produção de fatos, que, nem sempre, são fatos verídicos.

Encenação: Grande parte dos eventos apresentados na televisão passam a acontecer por conta própria, ou seja, se tornam uma clara encenação. O Bom senso e atenção crítica encontram-se vulneráveis diante da transmissão ao vivo da TV.

O “ao vivo” opera com seleção de eventos/pontos de vista. Desde os primórdios da tevê percebe-se que transmissões ao vivo pressupõe uma manipulação. Saber que o acontecimento será filmado influi sobre sua preparação e a presença de telecâmeras influencia o curso do evento.

Em programas ao vivo, o bom senso se encontra em perigo, uma vez que as próprias pessoas que noticiam pões suas opiniões particulares em jogo (que muitas vezes são agressivas ou até mesmo preconceituosas). Ocorre exposição ao ridículo:

Bombinhas para terminar

Explicar conclusivamente grandes diferenças de objetivos da paleotevê para neotevê. A primeira queria ser uma janela que mostrava o imenso mundo, mostrando somente o mais adequado e direcionado para um publico ideal.

Já a neotevê, mostra a realidade mesmo que ela não educada ou bonita, o que gera identificação. Ocorre a exploração do masoquismo do telespectador, que gosta de assistir o desconforto do outro semelhante. Existem dezenas de canais para ver, o que dá a sensação de controle ao espectador, que pode escolher ver qualquer coisa em qualquer momento.

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