Três T100a e dois T110.

JBL T100a: o depois

A experiência real ao longo de três anos e a chegada do JBL T110

Julli Rodrigues
Ouvindo Coisas
Published in
7 min readMar 21, 2018

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Há quase três anos, escrevi uma resenha sobre o fone de ouvido JBL T100a. Como dito no início do texto, resolvi fazer isso porque não encontrei informações consistentes sobre o equipamento em português, e só depois de ouvi-lo pude atestar a qualidade. Mas eu não esperava pelo que aconteceu depois: a resenha foi lida por milhares de pessoas, que acabaram decidindo comprar o fone depois de ter acesso a ela. Hoje é possível dizer que ela se tornou a principal referência em português sobre o T100a, e eu me sinto honrada por isso.

Pois bem: dessa vez, dando continuidade às resenhas, venho contar o que aconteceu de lá pra cá. Desde a minha experiência com o T100a até a recente substituição dele pelo T110, que nada mais é do que um T100a repaginado.

O ponto fraco

Entre 2015 e 2017, foram quatro unidades do JBL T100a, sendo que a primeira foi a que mais durou: um ano e dois meses. Mesmo com o plug já bem arrebentado, rasgado em todos os lados da “dobra” de proteção — e assim mais suscetível a ter o cabo partido por flexões — , ele continuava íntegro, sem ocorrência de mau contato.

Esse é guerreiro. (foto tirada com uma lente macro para celular)

Até que me deparei com um calcanhar-de-aquiles que causaria a falência parcial dele (e de outro, comprado depois). O problema não veio de danos causados pela tração no cabo, mas de questões relacionadas à impedância e à altíssima sensibilidade dos drivers.

Tudo começou quando notei que um dos canais do fone apresentava uma leve atenuação nas frequências graves: elas não eram reproduzidas da mesma forma que no outro lado. A princípio, até achei que fosse só impressão, mas quando eu invertia os canais do fone nas orelhas, o problema continuava. Apesar de ser um defeito sutil, que não chegava a aparecer tanto quando eu escutava apenas vozes — um programa de rádio, por exemplo — , me incomodava muito na hora de ouvir música. Principalmente música pop contemporânea, que costuma dar uma atenção especial a essa faixa de frequência na hora da mixagem. Talvez outras pessoas não ligassem ou nem mesmo percebessem o problema, mas pra mim aquilo foi determinante para a decisão de trocar o fone. Comprei outra unidade, então.

Tudo seguiu normalmente com o segundo T100a durante pouco mais de um mês, até que ele apresentou o mesmo problema. E eu finalmente descobri qual a causa do defeito. Na rádio em que eu trabalhava, às vezes nós usávamos uma espécie de placa de áudio USB de marca desconhecida, que funcionava como “splitter” (divisor) de fone de ouvido, para conectar dois fones de uma só vez. Era um recurso importante para que duas pessoas opinassem sobre um mesmo aspecto de uma edição de áudio, por exemplo.

Quem vê nem imagina o estrago que ela faz

O que eu achava muito estranho era que meu fone de ouvido sempre esquentava quando eu o plugava nessa placa, e permanecia quente enquanto estivesse ligado. Nunca ficava por muito tempo, porém. Apesar disso, eu não achava que o aquecimento dos drivers pudesse significar grande coisa. Foi só nessa segunda ocasião que eu fiz a relação de causa e consequência: o fone estava perfeitamente normal antes de plugá-lo na placa, e ficou com graves atenuados logo em seguida. Ou seja, havia questões elétricas envolvidas.

Com um pouco de pesquisa, concluí que a tal placa de marca desconhecida (xing ling, vamos ser francos) devia enviar uma corrente elétrica acima do normal para a saída de fone de ouvido. Normalmente, em fones de ouvido com 32 ou mais ohms de impedância, essa “falha de regulagem” não causa impacto algum. Mas no pequeno JBL T100a, cuja impedância é de 16 ohms, essa diferença levou a uma sobrecarga — daí o aquecimento — , que se manifestou em dano progressivo aos drivers. Se o fone permanecesse ligado à placa por mais tempo, talvez fosse ser completamente “torrado” pela mesma. Não cheguei a encontrar dados técnicos consistentes sobre a placa, o que prova como é boa a procedência dela (rs).

Em uma definição básica retirada da Wikipédia, impedância é a oposição que um circuito elétrico faz à passagem de corrente quando é submetido a uma tensão. Grosso modo, pode-se dizer que, quanto maior a impedância, maior a resistência desse circuito a essas variações. Como o T100a é um fone voltado para uso em celulares, a baixa impedância não é, em si, um problema. Basta não desviá-lo de sua finalidade, ou não plugá-lo em equipamentos de procedência duvidosa.

Descoberta a fonte causadora do defeito, substituí o fone mais uma vez e cuidei para mantê-lo longe de placas assassinas. Essa terceira unidade foi perdida dois meses depois, por pura falta de atenção. Lá fui eu comprar o quarto e último T100a, que sobreviveu até meados de 2017, quando acabou submerso num copo d’água. Talvez eu não seja uma pessoa lá muito cuidadosa, nem atenta. O fato é que, a essa altura, já era difícil encontrar o mesmo modelo à venda nas lojas. Tinha chegado a hora de substitui-lo pelo T110.

Sobre o JBL T110

Quando passei a usá-lo, até pensei em escrever um novo review, mas logo vi que não seria necessário. Em termos de sonoridade, ele é exatamente a mesma coisa que o T100a. Nas especificações, pouca coisa muda. A principal diferença nos números é a resposta de frequência: o T100a vai de 20 a 22000 Hz, enquanto o T110 fica nos 20000 Hz. Vale lembrar que o espectro da audição humana vai dos 20 aos 20000 Hz, então essa “perda” não significa muito.

As principais diferenças são estéticas. O cabo passou a ser “tangle-free”, achatado, feito para não enrolar facilmente, e ganhou dez centímetros, passando a ter 1,2 m. O plug também mudou e agora é em forma de L. O botão de controle e o microfone mudaram de posição, indo para o lado direito. No T100a, eles ficam do lado esquerdo. O formato dos fones é outra novidade: ficou mais anatômico, direcionado para o encaixe perfeito, a ponto de você simplesmente não conseguir colocar o L na orelha direita por engano. A marca agora fica gravada em baixo-relevo no fone do lado direito, enquanto no lado esquerdo há aquela “exclamação” que faz parte da logo da JBL. Abaixo seguem algumas fotos que mostram as diferenças estéticas.

À esquerda, o T100a. À direita, o T110.
Os novos detalhes do T110 (fotos tiradas com uma lente macro para celular)

No mais, continua sendo um ótimo fone, com graves presentes sem exageros, médios equilibrados e agudos brilhantes. Continua não distorcendo em volumes altos. Continua tendo isolamento acústico passivo. E o mais legal de tudo é que é possível encontrá-lo por um valor muito abaixo do que era cobrado pelo T100a. No meu review, eu contei que o primeiro T100a foi comprado por R$ 90 em 2015. Pois bem, hoje o T110 pode ser encontrado por R$ 60 em Salvador, nas lojas da Login Informática. E em outros estados ele é ainda mais barato, chegando a custar R$ 44 em Aracaju, por exemplo. Pra quem não gosta de fios, tem até o T110 BT, versão bluetooth desse fone (obviamente mais cara).

Nem tudo são flores

Ao contrário do que pontuei na primeira resenha, hoje acredito que o grande ponto negativo desses fones — não só dos da JBL, mas de praticamente todos os fones intra-auriculares — é a impossibilidade de conserto. As cápsulas são lacradas de fábrica, provavelmente para impedir reparos sem estraçalhar o fone todo. Ou seja, você é obrigado a comprar um novo e não há alternativa para reaproveitamento.

Como resultado, em meio a esses sucessivos desastres provocados pela falta de atenção, tenho hoje três “sucatas” de JBL T100a e duas do T110 (uma caiu num copo de café e a última simplesmente parou de funcionar, por causa do fim da vida útil, mesmo), que aparecem na foto de abertura deste texto. Muitas vezes, o “lado bom” de uma delas é o lado que não funciona na outra. Eis a condição perfeita para um “transplante” que reabilitaria um desses fones. Uma solução econômica — porque não são fones lá muito baratos — e sustentável. Mas, aparentemente, essa não é uma prioridade para a Harman, dona da marca JBL.

Ainda assim, a compra vale a pena. Sempre vale a pena.

Deixo aqui algumas dicas de conservação, para que vocês evitem problemas.

  • Guarde seu fone num estojo, para prevenir que o cabo se enrole e prolongar a vida útil do mesmo. Sempre fiz isso. Eu uso uma caixinha plástica redonda, daquelas que acondicionam fitas isolantes da 3M.
  • Evite plugar seu fone de ouvido em outros aparelhos que não sejam celulares, computadores, mp3 players e discmans. Por exemplo, aparelhos de som antigos estão terminantemente proibidos, devido às questões de impedância e corrente elétrica já mencionadas. Num passado distante, queimei um fone de celular assim.
  • Essa é óbvia: mantenha seu fone longe de líquidos. O T110 que caiu num copo de café até hoje conserva o cheirinho, inclusive.

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