Rótulos

Bruno Deolindo
Na Moita
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4 min readOct 4, 2017

Vamos ser polêmicos logo de início, todos nós criamos preconceitos sobre as pessoas, inicialmente ao vermos qualquer indivíduo, nossa cabeça começa a formar uma ideia sobre quem é esse ser a nossa frente, seja inicialmente pela aparência, gordo, magro, feio, bonito, negro, branco, azul etc. ou seja por alguns traços da personalidade da pessoa, alegre, triste, serio, descompromissado, enfim isso é um ato normal de nos seres humanos, na verdade é algo até primordial de qualquer animal isso é um mecanismo de defesa, analisar as possíveis ameaças e não há mal nenhum em fazer suposições iniciais sobre as pessoas, mas existe um sério problema quanto você passa para o próximo passo e rotula elas.

Quando você está desenvolvendo um conceito, uma suposição de uma pessoa, o processo está sempre em andamento e a cada passo você dá a chance de mudar esse conceito e o ideal é mantê-lo como essa eterna metamorfose e sempre se permitir ser surpreendido, porém é um processo muito complicado, infinito e cansativo e tendemos a uma solução mais prática e finita e aplicamos rótulos, sociável, chato, agradável, irritante, e isso é uma armadilha pois a partir do momento que você rótula uma pessoa ela deixa de ser algo indecifrável e se torna colocações frias e definitivas do que ela é, de qual grupo ela pertence, de qual é sua capacidade, de qual é o seu limite. Parece ser algo bobo mas tente conversar com uma pessoa que você automaticamente já rotulou como chata, não existira uma conversa, qualquer coisa que ele fale será chato, qualquer ideia que ela tenha é chata, qualquer encontro será chato e assim por diante. Talvez esteja rolando um questionamento interno, mas a pessoa é chata mesmo oras, é provável que a pessoa preencha os requisitos de uma pessoa chata em algum momento, então qual o mal em rotular o que a pessoa é? Simples você estará limitando ela a apenas esse posto e nenhuma pessoa é somente algo, todos temos inúmeras vertentes e muito da nossa psique e personalidade podem variar com os menores dos motivos, seja do relacionamento entre uma pessoa e outra ou até por fatores externos, tente ficar de bom humor no meio de uma gripe ou não ficar bobo frente a pessoa amada e ser definido por apenas esse ínfimo momento é no mínimo exagerado.

Rótulos não se aplicam apenas a personalidade, lembra que falei sobre que todos criamos preconceitos e não há problema nisso, você olhar uma pessoa e enxergar que ela é negra não é um pecado, apenas prova que você possui visão e consegue discernir tons de pele o problema é o que você faz com essa informação, se instintivamente você a coloca num grupo x e atribui uma série de adereços pejorativos a esse grupo, por qualquer fator que seja esse é o verdadeiro problema e o real pecado, pois ela será limitada novamente a somente isso e todas as diferenças que ela possa possuir vão ser trancafiadas dentro de um padrão. Não imagino que temos que nos olhar e achar que somos todos iguais também, pois somos pessoas diferentes, de vivencia diferente, cores diferentes, alturas diferentes, com milhares de diferenças e acredito que ao enxergarmos essas diferenças conseguimos alcançar a harmonia não de um pensamento igual, mas sim de aceitação, ser diferente não é ruim, o normal não existe pois é um rotulo, temos sempre que ter a consciência e a vontade de descobrir que todos somos mais do que convém nossa vã filosofia.

Obviamente não é fácil não rotular as pessoas, pois é algo primordial, nos mantermos no lugar comum, no conhecido, se sabemos que um grupo de indivíduos são assim que são limitados a apenas isso temos ali nosso senso de segurança e isso é algo que todos as espécies buscam um lugar confortável e estável, onde todos as ações são controladas e premeditadas. Imaginar que estamos no escuro convivendo com pessoas que podem ser qualquer coisa sem forma é apavorante, pois nos tira nosso senso de controle e todos nós somos maníacos obsessivos por controle, pois é o que nos garante a proteção de assegurar nossa realidade, nossos costumes, nossos padrões.

Todos somos mais do que aparentamos e os rótulos nunca iram demonstrar isso, pois são limitações que não só podem ser aplicadas à outras pessoas como a nós mesmos, se definir como um rockeiro, funkeiro, nerd, conservador, feminista e etc é delimitar até qual nível irá seu gosto musical ou sua tolerância é reduzir seu alcance, sua qualidade, suas ambições e inúmeros etc. Para se encaixar em um grupo ou para ter um senso de pertencimento e abrir mão no processo de ser tudo que é possível. Se existe um rótulo que possamos nos dar e aderir a outras pessoas que seja o de ilimitado.

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Bruno Deolindo
Na Moita

Um cara foda e humilde aos fins de semana andando por aí na rua da vida, enquanto escreve um pouco sobre o que o coração das cartas mandar.