LinhaRios
Um homem, na faixa dos 40 e tal (como já descreveu João Nogueira), chega para tomar o café da manhã numa apertada mesa compartilhada, na qual também estou. Mais parecia uma creche, com aquelas mesonas quadradas. Chamou atenção sua chegada de muletas, mas sem ferimento aparente. Chegou de papo, mas, coitado, confesso que eu estava naqueles dias de mau humor. Pouco falei, mas, como sempre, ouvidos e olhos ligados.
Minutos depois, chega mais uma tripulante. “Onde sentam quatro, sentam seis”, diz a mulher, na faixa dos 30, com uma filha pequena e endiabrada. Um fato curiosíssimo chama a atenção de todos, de imediato: a mulher, assim como nosso quase-personagem do João Nogueira, também chega de muletas. Qual a chance disso acontecer às 6h da matina, num pequeno hotel em Linhares, norte do Espírito Santo?
As muletas dela são por problemas no joelho causados pelo diabete. Já o parceiro faladô (passa mal) diz estar usando por um acidente mal curado – e mal explicado para estes ouvidos atentos.
A conversa começa. Ela é do Rio e, há 10 anos, vive em terras capixabas. Ele, ironicamente, profundamente carioca, tem assunto em comum que chega.
Ela não titubeou e já começou aquele clássico interrogatório por interesse (?). De onde era no Rio, se voltava ou ficaria, quantos dias hospedados – enquanto isso, não nos esqueçamos, a filha pestinha faz a festa com o copo americano abastecido de açúcar, entornando pra todo lado, na tentativa de remover a colher cravada, como uma excalibur.
E me parece que o interesse foi recíproco. Deu minha hora, levantei e deixei os pombinhos, não ironicamente apoiados em suas muletas e histórias parecidas, torcendo por um desfecho positivo nessa relação, seja qual for, namoro ou amizade. Dobrando o corredor pude pegar: “Então vamos comer essa pizza hoje.” Animado o rapaz em busca de um grande amor, não é mesmo?! Sim, estou Rodrigo Góes das ideias.
Ah, a menina só sossegou quando conseguiu, finalmente, quebrar o copo no chão, causando aquele transtorno para o moço da limpeza, um senhor, com um sorriso impensável para o horário e o momento daquele desastre, que me causou, inconscientemente, um constrangimento, por eu estar de mau humor.
