CoCo Montrese: “Quero inspirar as pessoas”

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Nada Errado
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5 min readOct 10, 2015

Colaboração: Antonio Roque

A gente chegou ao camarim da CoCo, a princípio, para fazer uma entrevista, tirar umas fotos e ir embora. Mas a conversa rendeu tanto e ela foi tão receptiva e carinhosa que, com o passar da noite, estávamos ajudando na montação (eu fechei o zíper da roupa amarela icônica), conversando sobre a vida, comendo Doritos e ensinando algumas expressões brasileiras pra ela. No palco da festa @bsurda, na Josefine, em BH, Coco cumprimentou a plateia: “Oi migas! Bota a cara no sol!” (de nada, migas).

Foto: Alexander Rodrigues

– Essa é, provavelmente, a pergunta que você mais ouviu na vida: como a sua vida mudou depois de “RuPaul’s Drag Race”?

Coco: Uau. É inacreditável. Eu fazia meu show em Las Vegas e nunca pensei em ir para um reality show, porque eu não sabia se conseguiria passar a mensagem correta para as pessoas. Mas um dia eu decidi participar das audições. Pensei ‘eu vou fazer isso’ e foi a melhor decisão que eu tomei na vida.

– Como foi essa decisão?

Eu estava na internet e vi um comercial. E fiquei naquela ‘eu não sei se devo’. Eu estava muito bem em Vegas e não sabia se estava pronta para compartilhar minha vida com o mundo e mostrar quem eu sou.

– Quem é Coco Montrese?

[Pensativa] Quem sou eu? Uau. Quem é Coco Montrese? [Respira fundo] As pessoas assistem ao programa e vêem o nosso melhor e pior, mas não fazem ideia do que está se passando nas nossas cabeças. Coco Montrese é alguém que não está apenas fazendo performances, mas dizendo para as pessoas que está tudo bem em ser você mesmo. Inspirando pessoas a ser o que elas são e dizendo que está tudo bem. Existem muitas pessoas que cometem suicídio porque estão com medo de serem quem são. Ser artista e fazer apresentações é inspirar as pessoas e incentivá-las a fazer o que querem — a sobreviver.

Foto: Alexsander Rodrigues

– Como é isso? O que passa pela sua cabeça quando alguém vem te agradecer pelo que você faz?

É a coisa mais maravilhosa do mundo. Porque é tudo o que eu mais almejo na vida. É um sentimento maravilhoso. Quando eu estava gravando RPDR, meu marido estava fazendo quimioterapia para tratar um câncer, e foi difícil porque eu achei que estava sendo egoísta. E ele me encorajou a ir lá e inspirar o mundo. Ele me pediu para ir em frente e levar essa mensagem: ‘Tudo bem ser você e se amar’. E foi por ele que eu fiz tudo o que fiz.

– Quando conversamos com a Raja, ela disse que ser drag é mais do que apenas colocar maquiagem e perucas. Ser drag é algo político…

[Interropendo] Sim, é isso mesmo. Muitas pessoas não percebem que colocar peruca e maquiagem é algo muito, muito… não quero dizer religioso, mas é uma espécie de revelação sobre quem nós somos de verdade, sobre como nós nos expressamos.

Foto: Alexsander Rodrigues

– Como você decidiu que queria fazer este tipo de apresentações, este tipo de drag?

A primeira vez que eu vi uma drag eu achei aquilo a coisa mais inspiradora do mundo. Eu comecei a me apresentar na escola e pensei que aquilo era divertido demais — além de um jeito de ganhar uma grana. Então eu comecei a me apresentar em boates e as pessoas comentavam que eu tinha ‘algo especial’. E eu não sabia o que era. Minha primeira grande inspiração foi a Janet Jackson; não só a força com que ela se apresenta, mas o comportamento e a vida dela fora dos palcos. Ela é tão carinhosa e comprometida. Ela é maravilhosa.

– Você já a conheceu?

Sim, eu a encontrei e ela é a pessoa mais doce e incrível que eu já vi. E ela sabia que eu a imitava no palco [risos] É um mundo completamente diferente, quando se está nos palcos de Las Vegas e você percebe que pessoas como ela, Shania Twain ou Miley Cyrus estão na plateia te assistindo, porque nós é que estamos acostumados a assisti-las. É inspirador demais.

– Você já fez Las Vegas, participou do reality show, se apresenta pelo mundo afora, encontra seus fãs. O que mais você quer fazer, artisticamente?

Ai meu Deus. [Respira fundo] Eu me formei em teatro, então eu quero fazer televisão, cinema. Quero desenvolver personagens fortes e mostrar outro lado da minha arte.

– Aqui no Brasil nós não temos muita representação LGBT na midia. Como você vê essa representação nos Estados Unidos?

Ainda é estranho, mas eu acho que RuPaul mudou a mídia americana e, eventualmente, algo similiar pode acontecer no Brasil. As pessoas começam a assistir programas como RPDR e perceber que nós conseguimos fazer entretenimento e, mais do que isso, revolucionar o entretenimento. O que eu acho que o Brasil tem de mais único é que as pessoas aqui tem uma paixão absurda pela arte, vocês fazem tudo com muito amor. Olha só as pessoas que estão nessa sala comigo [aponta para as outras drags que estavam no camarim se aprontando para subir ao palco], são maravilhosas. E isso é algo que os norte-americanos precisam aprender com os brasileiros: amar arte. Estou me segurando, mas vou chegar ao hotel e chorar de emoção por ter conhecido tanta gente inspiradora e bonita hoje. Essa festa é praticamente um RuPaul’s Drag Race acontecendo ao vivo.

Foto: Alexander Rodrigues

Confira mais fotos das apresentações de CoCo Montrese em Belo Horizonte

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.um ser humano fantástico, com poderes titânicos △△