O dia em que o Museu Brasileiro do Futebol se posicionou contra a homofobia
Vira e mexe, a homofobia no mundo dos esportes — especialmente no futebol — vira pauta e ganha destaque. Infelizmente, na maioria das vezes não pelos melhores motivos.
Toda semana, durante alguma partida, insultos LGBTfóbicos preenchem estádios e arenas no país inteiro. E isso independe dos times em campo ou do campeonato disputado.
Recentemente, duas atitudes retornaram o tópico para as discussões públicas. A Nike retirou o patrocínio do boxeador filipino Manny Pacquiao após uma entrevista na qual ele afirmou que “gays são piores que animais”. Dias antes, a Adidas anunciou uma revisão importante em seus contratos com atletas patrocinados. Desde fevereiro, os atletas parceiros e funcionários da marca tem liberdade para falar abertamente sobre suas orientações sexuais. A inclusão da cláusula, além de beneficiar os atletas, também traz conforto a funcionários que trabalham em países onde a homossexualidade é vista como crime e passível de demissão.
Entretanto, enquanto empresas referências no esporte se posicionam, é raro vermos times e estádios se posicionando de maneira similar. Até hoje.
Pela manhã, o Museu Brasileiro do Futebol, que faz parte do Estádio Mineirão, em Belo Horizonte, postou em suas redes sociais um poderoso comunicado sobre a homofobia nos gramados. Luiza Macedo, Analista Educativa do Museu, explica o posicionamento: “Periodicamente postamos chamadas no Facebook para instigar as pessoas a refletirem sobre os temas propostos nas discussões do visões e, além disso, sobre situações que transpõem o futebol e estão presentes em nosso cotidiano, nas relações sociais e o post de hoje é um desses”.
Já passou da hora de falar sobre homofobia no futebol!
Um novo movimento tem tomado as arquibancadas na hora do tiro de meta do goleiro adversário. A torcida grita ‘BICHA’ bem na hora que o arqueiro chuta a redonda. Alguns dizem que faz pressão no adversário. Mas, oras, qual a pressão exerce em uma REPOSIÇÃO DE BOLA?
No futebol é normal ofender alguém. Mas, também no futebol, é normal a democracia. Brancos, negros, altos, baixos, homens, mulheres, homossexuais, heterossexuais, enfim! O esporte é de todos!
Aqui sempre debatemos sobre este tema em nosso Visões (re)torcidas e somos totalmente contra esta prática. Mas queremos ouvir você!
O que você acha da homofobia no futebol?
Confira aqui a postagem original
Este é um primeiro — e importantíssimo — passo para esta discussão. Existem, por todo o país, torcidas organizadas formadas por membros LGBT (como a Galo Queer, também em Belo Horizonte, e a Gaivotas Fieis, em São Paulo), mas são atitudes isoladas e, nem sempre, apoiadas e reconhecidas pelos times.
>> Conheça torcidas LGBT pelo Brasil
Além de posts nas redes sociais, o Museu também discute temas delicados dentro da programação regular. Segundo Luiza, a discussão é recorrente: “O roteiro Todo Mundo Grita Gol! discute o racismo, machismo e homofobia, explicitada em cânticos e gritos entoados pelas torcidas nos estádios”.
A analista frisa, ainda, a importância da problematização:
“Gritos de ‘bicha’, ‘boiola ou ‘gay’ são reproduzidos por milhares de pessoas com entonação pejorativa, sem nem perceberem o real sentido do que dizem e o impacto que aquilo tem. Muitos reproduzem esse ‘discurso’ sem perceber que isso exclui e ofende uma parcela de torcedores e da própria população”
O discurso do Museu não está isento de erros e não é perfeito (não podemos, nunca, normalizar ofensas), mas é pertinente.
Que venham mais atitudes como essa, por parte de estádios, arenas e times — do Brasil e do mundo. E que a homofobia (dentro e fora dos estádios) seja repreendida e punida com a severidade necessária.