Precisamos conversar sobre as afeminadas

.ricardo .laranja
Nada Errado
Published in
3 min readOct 10, 2015

Aloka!

Há alguns meses, na minha timeline do Facebook, pipocou o link dessa notícia sobre o ator Russel Tovey, da série “Looking”, agradecendo à vida por não ter se tornado afeminado.

Confere no replay o texto lá do PapelPop:

Em entrevista ao The Guardian, Russell, que é assumidamente gay, fez alguns comentários que soaram como homofóbicos para alguns de seus fãs, ao falar sobre o seu sonho de infância de ir a uma famosa escola de teatro. Confira o que ele disse:

“Eu tinha inveja de todos os que foram para a Escola de Teatro Sylvia Young. Eu queria ir, mas meu pai não deixou. Ele achava que eu iria me tornar dançarino de sapateado esquisito e sem qualificações. E ele estava certo de alguma forma. Eu estou feliz que eu não fui. Isso poderia ter me mudado… Eu sinto que eu poderia ter ficado muito afeminado, se eu não tivesse ido para a escola que eu fui, quando eu senti que precisava endurecer. Se eu tivesse sido capaz de relaxar, saltar por aí, cantar na rua, eu poderia ser uma pessoa diferente agora. Agradeço a meu pai por não ter permitido que eu descesse a esse nível. Porque isso provavelmente me deu a qualidade única que as pessoas acham que eu tenho.”

Essa qualidade, que o Tovey fala no final, é a de poder interpretar na TV e no cinema tanto personagens gay quanto héteros. “Me dizem o tempo todo que eu consegui conquistar meu caminho. Que não há muitos atores que estão fora do armário e são capazes de atuar tanto como hétero quanto como gay, e todo aceita isso”, completou.

A matéria continua com mais declarações de Tovey, que também diz que entrou na academia e deixou de ser um “rato magrelo” para evitar ataques homofóbicos. É tão errado — e tão óbvio — que eu nem sei direito por onde começar. Mas vamos lá:

Não tem NENHUM problema em ser afeminado. Nenhum mesmo. Também não tem problema nenhum em ser magro. Ou em ser gordo. Ou em qualquer corpo.

O discurso do ator (e de tantos outros que gays que eu encontro todos os dias — inclusive tenho amigos com esse discurso e eu tento, né, dizer que, amiga, assim não dá pra te defender) corrobora com uma falsa impressão de que, se “adequando” à sociedade, ou seja, parecendo “normal”, parecendo um “homem de verdade”, vamos sofrer menos homofobia. O que Tobey não percebe é que, ao afirmar que não é legal ser afeminado ou magro demais, ele está apenas fortalecendo nossos opressores. Afinal, quem oprime já nos enxerga como “seres inferiores”. Essa visão não pode ser compartilhada pelos oprimidos.

Nós temos que nos fortalecer. E não nos auto-subjulgar. O preconceito interno é um dos maiores problemas da comunidade LGBT.

Quantas vezes eu já não recebi, via Facebook, Twitter, Whatsapp, imagens e vídeos que tiram onda de algum gay — e a piada é o fato de ser afeminado? Para a afeminação virar chacota, basta o gatilho. Por isso, minha primeira reação quando recebo este tipo de conteúdo é comentar: “Mas que maravilhosa!”. Primeiro porque, sim, eu acho as afeminadas maravilhosas e segundo que todo mundo devia se permitir ser mais afeminado.

Se permita ser e curtir afeminados. Quem ganha é só você.

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.ricardo .laranja
Nada Errado

.um ser humano fantástico, com poderes titânicos △△