Precisamos de uma cena na Globo?

.ricardo .laranja
Nada Errado
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4 min readJul 13, 2016

Faz, mesmo, diferença na minha vida o sexo de André e Tolentino?

Rede Globo/Reprodução

Na noite de ontem, 12/07/16, foi ao ar a primeira cena de sexo gay da história da teledramaturgia brasileira. Na novela “Liberdade, Liberdade”, da Rede Globo, os personagens André e Tolentino (interpretados por Caio Blat e Ricardo Pereira, respectivamente) “se entregaram ao amor”, como anunciou a emissora.

O momento é histórico por ser a primeira vez que a emissora, maior do país, exibe um momento íntimo entre dois homens — sem censuras, sem meias palavras, mostrando tudo o que se permite (da mesma maneira e naturalidade que cenas de sexo entre casais heterossexuais são feitas, com direito a bundinhas a mostra, carícias e aquele romantismo todo típico das nossas novelas).

Vale ressaltar, aqui, que não assisto a essa novela e não sei como é a relação entre os personagens mas, a julgar pelos comentários que li, a história dos dois vem sendo construída desde o começo da trama e a relação evoluindo naturalmente até chegar no momento da consumação carnal do sentimento crescente.

A novela se passa no Brasil do século 19 e já abordou temas delicados, como a tortura de escravos e violência contra a mulher em cenas bastante explícitas (sei disso a partir de comentários, também). Lembrando que, nesse período, as relações homossexuais eram crime — o que pode impactar, ainda, na história dos dois.

Mas, afinal, precisamos de uma cena de sexo gay na Rede Globo?

Não sei dar uma resposta definitiva, mas levanto alguns pontos.

Acredito que essa cena e este momento sejam importantes — por se tratar da maior emissora aberta do país e, também, uma das mais conservadoras (senão A mais), é bacana que exista essa representatividade nas produções da casa. Ainda que cheia de clichês (temos a “bichinha delicada” e o “machão ativo discreto”, por exemplo) e exibida num horário “menos nobre e popular” (a novela é exibidas às 23h), acho ser relevante a inclusão de personagens que são bem construídos e com sua sexualidade tratada de maneira natural. São dois homens que se amam e, portanto, vão fazer sexo, ao contrário de personagens de outras novelas e séries que, no máximo, se abraçam e andam de mãos dadas.

A afeminada e o ativo discreto — até quando?

“Mas eu nem assisto a Globo, manipuladora, não preciso, tenho Netflix e Youtube”

Parabéns! :)

Netflix e Youtube (e a internet como um todo) são lugares incríveis, cheios de representatividade em todos os sentidos. Graças aos deuses das conexões digitais, podemos escolher quem e quando vamos assistir, temos canais que falam sobre a nossa realidade (já conhece o meu canal, aliás?) e discutem nossos temas. Temos séries e filmes na Netflix com t-o-d-o tipo de personagens e histórias.

Mas e a tradicional família brasileira? Ela mesma, que nos agride e nos mata todos os dias. Ela ainda assiste às novelas e às produções da Rede Globo. Ela ainda acredita que, se a Globo está dizendo, deve ser verdade. O Jornal Nacional ainda é referência quando se pensa em notícias, bem como as novelas são referência quando se pensa em entretenimento.

No ano passado, a Netflix ultrapassou, em lucros, SBT e Bandeirantes, duas redes de TV grandes. Está longe, ainda, de chegar perto da Globo e ter o impacto cultural que a emissora carioca tem. (Fonte)

Não podemos esquecer do papel histórico que as novelas tem, no Brasil, na formação da nossa cultura (para o bem e para o mal, tenho consciência disso). Não estou, aqui, defendendo a Globo e suas produções (e nem comemorando migalhas); apenas levantando a importância do discurso dela para a nossa realidade.

Será que, se a emissora levar cenas de amor LGBTs para todas as suas produções, tratadas com a naturalidade que aconteceu em “Liberdade, Liberdade”, não podemos presenciar uma mudança cultural?

Nós não precisamos que a Globo dê aval para nossas relações. Não precisamos que ela diga que estamos certos em amar quem amamos e nos relacionar com quem quer que seja. Temos nossos representantes e nossos próprios canais de comunicação.

Mas ainda existe muita gente, MUITA MESMO, que precisa nos ver, na tela da TV para nos respeitar no meio desse povo.

(Ah, quer ver a cena? Clica aqui)

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.ricardo .laranja
Nada Errado

.um ser humano fantástico, com poderes titânicos △△