Sashay Away para o seu racismo

Nada Errado
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4 min readOct 10, 2015

Por Vitor Pereira

Recentemente encontrei um meme, no qual ME eram drags brancas e magras e preferidas do publico e YOU drags gordas e negras. Comecei a problematizar aquela questão e comentar com umas amigas. Vi que não era a única que observava como a mídia estava massacrando os negros e gordos. Isso sempre existiu né? Mas precisa ser mudado. Existem pessoas de diversas formas e todas elas deveriam ser representadas.

Quero especialmente falar sobre o “RuPaul’s Drag Race” — um reality show americano realizado pela produtora World of Wonder e exibido nos Estados Unidos pelo canal Logo. Idealizado pela famosa drag queen RuPaul, o programa procura uma sucessora ao título de “America’s Next Drag Superstar” — lembrando que o programa é apresentando por uma queen negra, empresária e a mais renomada. Na primeira temporada de “RuPaul’s”, uma drag negra maravilhosa — Bebe Zahara Benet — levou o prêmio para casa. Quando assisti, fiquei emocionada, me senti representada por ela. Pensei que o programa daria mais espaços para os negros e corpos que fugissem do padrão. Os episódios foram se passando e percebi que casa vez a coisa se embranquecia mais. Tanto pela maior presença de pessoas brancas, quanto por apenas pessoas brancas e magras ganhando o reality.

No mundo da mídia, apenas poucas imagens representam em físico ou em comportamento a vivencia do negro. Sempre é retratado nas mesmas imagens: traficantes, prostitutas e pobres. Difícil a gente achar um negro empresário, ou nos papeis principais das novelas. E os gordinhos? Quase sempre representados como personagens caricatas, que são carentes e para matar a carência precisam passar a novela inteira apenas comendo. E se você for gordo e negro, será muito mais difícil ser representado. Pouco se discute também a presença do negro como roteirista, diretores e produtores. Temos diversos exemplos de como a mídia é racista, por exemplo, aqui no Brasil a novela “A Cor do Pecado” protagonizado por Taís Araujo. Temos também, “ Sexo e as Negas” em que um homem branco escreve sobre a vida de mulheres negras e reforçando a ideia que mulheres negras estão sempre dispostas a sexo. E o maior símbolo do carnaval da Globo, “a mulata Globeleza”. Isso tudo apenas vem mostrando que em pleno século 21, a mídia brasileira racista, sexista que hiperssexualiza ou marginaliza o corpo negro. Herança do período escravocrata.

Voltando para o RPDR. Creio que seja difícil para as drags latinas, gordas e negras participarem do reality. Além da pressão que as mesmas passam e que sempre tem que estar parecendo mais magras possíveis, entra naquela lógica que o seu corpo não foi feito para você. Que você deve mudar ou passar horas e horas na academia entrando em dietas malucas. Apenas parem. É extremamente difícil aceitar nosso corpo e nossa cor nesse sistema racista e gordofóbico, mas é preciso.

Nessa última temporada, do pouco que assisti, estava recheada de gordofobia e racismo. Quando o pessoal começou a fazer meme com a Kennedy Davenport comparando-a com um dinossauro, isso é racismo. Não foi só nessa temporada que teve muito racismo e gordofobia. Na época da Coco Montrese, o pessoal comparava a make dela com Doritos e fazendo memes com a cara dela — isso é racismo. Foi difícil não só para as drags negras, mas também para as gordinhas, como a Jiggly Caliente - o câmera fazia questão de gravar toda hora que ela estava comendo. Isso é gordofobia. São diversos exemplos de preconceitos que precisamos quebrar. Existem vários tipos de drag queens. Não só as de face bonita e que tem dinheiro! Existe drag pobre, rica, as que fazem por hobby, as que sobrevivem com isso, as DJs, as da make de guache, as que não usam make, as performáticas, as brancas que não sabem rebolar (como Miss Fame) as finíssimas, as porta de balada, as que se montam em casa e vão de táxi para o rolê, existe também as que se montam no metrô e vão para o role de transporte publico. As que botam e as que não botam a cara no sol.

O mundo drag é maravilhoso, amplo e não está em uma bolha. Portanto, reproduz milhares de opressões que devemos parar de reproduzir já.

Achar que o programa tem mais drags brancas porque elas se esforçaram é loucura, pessoal. As negras, latinas e gordas dão seu sangue por isso.

Então não me vem com o papinho de que tem que ser boa pra chegar lá por que a gente sabe que você tem que ser branca, magra e rica para ganhar esses programas. São críticas que precisam ser feitas: não podemos mais invisibilizar as drags que também ralaram para conseguir entrar no programa.

A mídia compartilha muitas opressões, não podemos nos enganar. RPDR também.

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