Tailândia e o debate sobre o terceiro gênero

Francine Oliveira
Nada Errado
Published in
3 min readJan 20, 2016

Na sociedade tailandesa, homossexuais, cross-dressers e transgêneros (principalmente mulheres trans) têm um importante papel na indústria do entretenimento. Os shows produzidos e protagonizados por pessoas LGBTQ no país são responsáveis por atrair milhões de turistas e gerar grandes receitas. A especialidade em cirurgias de redesignação genital a preços acessíveis é também responsável pela estadia de muitas estrangeiras no país.

Contudo, ao contrário do que muitos pensam, essas pessoas não são completamente aceitas nessa sociedade majoritariamente conservadora e com frequência sofrem com o preconceito e a exclusão. O fato de terem encontrado sucesso no âmbito do entretenimento não isenta de ainda haver mulheres trans se prostituindo nas ruas, por exemplo.

Para além das apresentações de encher os olhos, em que garotas trans cantam e dançam com roupas elaboradas, e dos concursos de beleza, o mercado do sexo é grande atrativo para estrangeiros, gerando ainda o tráfico de crianças e adolescentes que são levadas de áreas mais pobres para se prostituírem em grandes cidades.

Nong Tum se tornou famosa no mundo todo por lutar muay thai; competindo em categorias masculinas, venceu todas as lutas de que participou. Após sua transição, protagonizou o filme “Beautiful Boxer”, que retrata sua história.

O termo thai “kathoey” é comumente usado para se referir às mulheres trans e aos homossexuais efeminados. Porém, muitas mulheres transgênero consideram-no derrogatório e preferem referir a si mesmas como “phuying” — sendo que algumas delas se identificam como “phuying praphet song”, que significa “um segundo tipo de mulher”. Na verdade, muito poucas chamam a si mesmas de “kathoey”.

Para a maior parte da sociedade, a pessoa “kathoey” é considerada pertencente a um terceiro gênero, uma vez que, como acontece no Brasil com as travestis, parte delas não se enxergam nem como homens nem como mulheres. A expressão thai para designar um “terceiro gênero” é “phet thi sam”. Não existe uma tradução específica, no português, para “kathoey”, palavra originalmente usada para se referir a pessoas intersexo e que se tornou popular no sudeste da Ásia; no inglês, seu equivalente seria “lady boy”, ou seja, um “garoto-menina” ou “garoto-lady”.

Em janeiro de 2015 o debate sobre o reconhecimento de um terceiro gênero pela Constituição tailandesa fez surgir a esperança, entre as mulheres trans, de que o país se empenhe em combater a discriminação. Um comitê encarregado de redigir a nova Constituição, designado pelo governo militar que tomou o poder após um golpe de Estado em maio de 2014, pretendia lançar o referido projeto para que fosse aprovado ainda em agosto de 2015, mas, até agora, não há notícias sobre o andamento dessa questão.

A pretensão de se reconhecer um terceiro gênero, no entanto, não significaria a possibilidade de mudar o “sexo” constante nos documentos do indivíduo transgênero, algo que a Tailândia continuaria a não permitir, segundo o porta voz do comitê, Kamnoon Sidhisamarn.

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Francine Oliveira
Nada Errado

Doutore em Estudos Literários e pesquisadore de Estudos Queer e extrema direita. Tradutore, revisore e escritore.