Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

.ricardo .laranja
Nada Errado
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3 min readJan 16, 2017

Ser uma “pessoa boa” não te impede de ser preconceituoso

Na última sexta-feira, 13, uma usuária do Facebook fez um post contando sua (péssima) experiência como cliente em uma barbearia em São Paulo. Segundo a moça, os profissionais da barbearia se recusaram a atendê-la pelo fato de ser mulher e o empreendimento apenas atender homens.

A situação virou um quiprocó, com muitas pessoas comentando e avaliando (de forma negativa) a página da barbearia. Ao mesmo tempo, é claro, vieram os defensores da moral e bons costumes, alegando que as feministas que denunciaram a conduta dos profissionais são pessoas “sem educação”, “não respeitam o próximo”, “meninas choronas”. Um usuário no Facebook disse que “Mulheres de verdade estão muito ocupadas fazendo algo de útil da vida e não têm tempo de ficar denegrindo a imagem de estabelecimentos sérios”.

Aí a proprietária do estabelecimento postou um vídeo na página oficial se pronunciando sobre o acontecido. No vídeo (se quiser, assista aqui) ela utiliza, basicamente, dois argumentos para justificar o fato de que a sua equipe negou atendimento à moça:

1 — é uma barbearia e o foco são os clientes homens (mas não são machistas, veja bem: ela é mulher, tem uma filha, o lugar recebe muitas mulheres, inclusive as esposas dos clientes); e
2 — eles não são preconceituosos. São pessoas de bem, trabalhadoras e que amam seus trabalhos. Eles não são pessoas ruins.

Ouvimos, todos os dias, que as pessoas não são ruins, que não tiveram más intenções, que é apenas uma opinião — mas eles são BONS. Ouvimos essa justificativa, inclusive, recentemente, no caso dos dois homens que agrediram e mataram um vendedor no metrô de São Paulo.

“Eu não sou uma pessoa má”, disse Ricardo do Nascimento, 21 anos, que assassinou um senhor que tentou defender uma travesti.

A mãe de Itaberli Lozano, adolescente morto e carbonizado que virou manchete na semana passada, também não era uma pessoa má. “Só” estava cansada e “não aguentava mais” lidar com o “comportamento rebelde” do filho. É uma “mulher boa”, “trabalhadora”, que não teve “intenção de matar, apenas de se defender”, disse o advogado de defesa.

Ser uma pessoa trabalhadora, amar seu trabalho, levantar, todos os dias, pela manhã e cumprir suas obrigações sociais é apenas isso: obrigação. Não quer dizer NADA sobre a sua índole ou a sua relação com os outros seres humanos.

Porém, ser uma pessoa que luta pelos direitos iguais, pela inclusão social e pela diminuição das diferenças na sociedade:
1 — diz muito sobre a minha índole e relação com os outros seres humanos; e
2 — não quer dizer que eu não seja um “trabalhador honesto”.

Parafraseando a desastrosa campanha do Governo Federal, gente boa também mata. Mata todos os dias, destilando ódio por aí. Quantas pessoas o machismo matou hoje? Aposto meu emprego honesto e minha CLT que a maioria destes crimes foi cometida por pessoas que nem eram más.

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.ricardo .laranja
Nada Errado

.um ser humano fantástico, com poderes titânicos △△