Uma vida em canto, ritmo e partituras

Naldinho Freire
Naldinho Freire
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6 min readApr 3, 2017

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Naldinho Freire é brasileiro, nordestino, filho da Paraíba, mas cidadão do mundo. Em cada lugar que visita, se deixa alimentar pelas cores e expressões de seus anfitriões, enriquecendo a percepção de suas próprias raízes e seu lugar no mundo. Qual toda boa embarcação que encontra sentido no ato de navegar, Naldinho continua desbravando territórios e construindo pontes entre todos os povos, consegue enxergar a cultura como um dos bens mais preciosos de uma nação.

Sua essência e vocação podem ser consideradas uma só: sensibilidade de artista; a curiosidade lúdica das mentes em eterno estado de juventude e a vontade de amplificar e repassar tudo aquilo que aprendeu. Sua trajetória no registro musical dos seus achados e influências começou com o LP Lapidar, em 1995. A escolha de tal título não foi coincidência, visto que Naldinho enxergava a cultura como um material bruto que, embora devesse ser preservado como tal, também poderia ser lapidado para dialogar com as novas gerações, estabelecendo assim uma ponte entre o passado e o presente, fortalecendo o futuro das inúmeras identidades culturais que formam a colcha de retalhos do homem.

Em 1996 participou do CD ALUMIAÇÃO da Companhia Carroça de Mamulengos e integra o CD Coletânea Musiclube, com a música “Boi do Brasil”, composição em parceria com * Percival Henriques. A visibilidade e o reconhecimento de crítica e público o levou ao circuitos dos festivais, tanto no nordeste, quanto em outros palcos do país. Participou do Festival de Música Cidade Canção (FEMUCIC) nos anos de 1998, 1999, 2000, 2002 e 2004, que acontece em Maringá-PR, integrando os CDs do festival. Em Alagoas, marcou presença nas mostras Teatro Deodoro é o Maior Barato, Viva Jaraguá e Som no Arena, além dos circuitos do SESC.

Mas a verve de artista não se restringiu somente ao palco. Desenvolveu o Projeto Piaçabuçu Musical que deu origem ao GRUPO CAÇUÁ (Piaçabuçu-AL) e coordenou atividades de música do Projeto Olha o Chico. Em 2005, no projeto MISA ACÚSTICO, lançou o CD VIANDANTE, gravado ao vivo no Teatro SESC Jofre Soares. No mesmo ano participa do CD do Projeto Palco Aberto com a canção “Tesouros”, parceria com Dalva de Castro (In Memoriam).

Em 2006 publicou, através da Coleção Memória Musical do SESC Alagoas, o CD RAÍZES, fruto de sua pesquisa na música de tradição oral do Nordeste. Entre os palcos alcançados pelas raízes de Freire, estão o Mercado Cultural de Salvador, Feira da Música de Fortaleza e do CD Sound of Alagoas lançado em Berlim por ocasião da POPKOMM.

2007 foi a vez da Feira Música Brasil/2007 em Recife/PE e a Caravana Cultural — SECULT/AL. 2008 foi marcado pelo retorno das raízes ao continente que as originou. Naldinho Freire levou seu disco e sua pesquisa para as Ilhas de Cabo Verde (Santiago, São Vicente e Sal), numa ação articulada em parceria com o escritor e compositor caboverdiano Mario Lucio.

Em 2009 e 2010, foi a vez da França, Portugual e Holanda receberem o projeto Raízes. As apresentações foram intercaladas com as atividades Culturais do VI Congresso de Estudos sobre a América Latina, na Universidade Le Mirail e do Festival Voix du Brésil na cidade de Toulouse/FR. No mês de outubro do mesmo ano realizou vários concertos na cidade de Praia e São Domingos / Ilha de Santiago, através da Embaixada do Brasil em Cabo Verde. Era lançado ali a versão audiovisual de sua pesquisa, o DVD RAÍZES: TRAÇOS CONTEMPORÂNEOS, que faz um diálogo entre a música de tradição oral do Nordeste Brasileiro e a música moderna.

A cultura como um direito do cidadão

Naldinho Freire foi o representante da Fundação Nacional de Artes (Funarte) para o Norte e Nordeste de 2011 a 2017, acumulando ampla experiência na área de políticas públicas direcionadas à cultura. “Foi um período gratificante para mim, o que só confirmou aquilo que percebia desde as minhas pesquisas acadêmicas: as expressões artísticas são um tesouro cujo valor nem sempre é percebido pelas pessoas. Por isso é importante que ações afirmativas sejam realizadas, desde as comunidades que guardam saberes nos locais mais ermos, passando pela parceria com a educação e fincando uma antena com o setor criativo e tecnológico, a fim de costurar a teia que possibilita uma comunicação e um fortalecimento contínuo dos indivíduos de uma nação.”

Naldinho trabalhou pela circulação e intercâmbio entre artistas desde a década de 90, quando fez parte do Musiclube da Paraíba, uma ativa entidade que reuniu compositores, poetas, cantores e musicistas daquele estado. Tamanha expertise fez com que ele representasse o estado de Alagoas nas Câmaras Setoriais, se inserindo posteriormente na articulação nacional dos agentes culturais, quando participou da criação do Fórum Nacional de Música e do Fórum Permanente da Música de Alagoas.

Durante sua atuação, Naldinho Freire promoveu ações de mobilização e formação entre os segmentos assistidos pela Funarte: música, artes visuais, teatro, dança e circo. Oficinas, workshops, e rodas de diálogo marcaram os processos institucionais mediados por Naldinho, unindo agentes públicos e a sociedade civil, no âmbito das ações de fomento e incentivo à cultura pelos programas de governo do Brasil.

Após cumprir sua missão na Funarte, Naldinho Freire içou suas velas rumo à Belém do Pará, onde encontrou um porto rico de cores, sabores, aromas, e principalmente sons. O estado do Pará desponta como o mais novo polo de tendências estéticas, musicais e empreendedoras no âmbito da cultura, fervilhando de iniciativas criativas que estão chamando a atenção do Brasil. E lá, sem esquecer os oceanos e rios pelos quais navegou, criou novos laços.

“Estabelecer conexões é a melhor forma de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, ainda que simbolicamente. O nordeste é minha casa e sempre será. Minhas raízes têm um pouquinho de cada lugar que eu passei.”

Na cidade de Belém do Pará, no ano de 2019, Naldinho Freire lançou o álbum “sem chumbo nos pés, quarto da sua trajetória musical. O CD tem a participação de Chico César, Ana de Holanda, Pinduca, Pedro Osmar, Natália Matos, Mario Lucio, Manel di Kandinho, de outros artistas caboverdianos e brasileiros. Produzido por Marcel Barreto, as canções fazem um diálogo com elementos da música eletrônica, considerado pela crítica especializada um dos melhores álbuns lançados naquele ano, além de sua versão física, encontra-se em todas as plataformas de streaming.

Atualmente Freire reside na Capital da Paraíba, cidade em que nasceu. O seu primeiro álbum, o vinil “Lapidar”, em 2021 chegou as plataformas de música, celembrando 25 anos do seu lançamento físico em 1995.

No mês de março de 2023 iniciou o projeto que proporciona a continuidade do intercâmbio entre Alagoas e Cabo Verde, através de emenda parlamentar do Deputado Federal Paulão – PT Alagoas, realiza o intercâmbio cultural entre as Batukadeiras de São Domingos, município caboverdiano da Ilha de Santiago e o Quilombo Poços do Lunga, comunidade quilombola localizada no agreste alagoano.

Ação que entre outros frutos, lançará o documentário “Quilombo Lunga e as Batukadeiras de São Domingos”. Para além dessas atividades, Freire prepara o que virá a ser o seu próximo álbum musical.

Texto: Juliano / Naldinho Freire

Fotos:

Capa – Sandra Rodrigues Bolwerk

Fotos 1, 2, 3 e 4 – Acervo do artista

Foto 5 – Jadir Pereira

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