Juan Duarte
nanicriticas
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2 min readFeb 2, 2020

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Crítica — 20th Century Boys

Literalmente não importa o segredo em si, o desvendar, o revelar sua substância, o encontrar o ponto de costura entre as evidências. A linha tênue entre delírio conspiracionista e convicção talvez seja mais tênue ainda do que se imagine. Talvez a tentativa de tornar as coisas mais palatáveis, as desconfianças mais seguras, seja só um medo profundo de abrir mão dessa vontade de encontrar um ponto final, um “fim de ciclo”, algo que permita a catarse e também o esquecimento. Essa necessidade de amontoar e construir uma colcha de retalhos onde cada coisa tem seu lugar determinado, numa harmonia forçada, enclausurada nesse pretensioso “eu”. O fim de 20th century boys, ou melhor, 21th century boys, é justamente essa irrelevância pisoteada em uma simples frase.

Naoki Urasawa tem seu solo fundamentado em histórias de investigação, Monster, Pluto, Billy Bat e o próprio 20th century boys. E mesmo nessa homogeneidade de narrativas, é como se com as mesmas ferramentas fossem sendo criados diversos produtos. Como um marceneiro que do seu ofício se desdobra em diversos produtos, Naoki se faz plural.

Não me interessa aqui me queixar sobre furos na trama, porque como já disse no começo, essa história não é sobre costurar evidências, o espaço privilegiado do leitor nessa obra não é de detetive. Aqui o privilégio maior é ver esse conflito, essa progressão historiográfica, como uma espécie de jornada caricata das dúvidas, aflições e perspectivas. O que é colocado em jogo, de forma muitas vezes bobalhona e galhofa, é a nossa convicção. Algo como um valor moral, uma espécie de subsídio inconstante pra quando a probabilidade não consegue mais conter a angústia. O poder de 20th century boys reside nessa busca de uma razão de ser pseudo-heróica, nessa impetuosidade modesta, da bondade porque, como diria o próprio protagonista, “é muito mais fácil ser do bem”.

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