Crítica — Hotel

Juan Duarte
nanicriticas
Published in
5 min readJun 28, 2018

Nada de muito espetacular.

Essa imagem é simplesmente catártica.

Ficha técnica:

Título: Hotel (Boichi作品集 HOTEL)

Autor(a): Boichi

Não é editado no Brasil.

Algumas considerações para quem ainda não leu:

É um mangá composto por 5 pequenas histórias, todas com temática apocalíptica e de calamidade. As três primeiras remetem diretamente ao aquecimento global e a construção do “Hotel”. As outras duas possuem uma conotação um pouco diferente, mas ainda seguindo o raciocínio geral do “fim do mundo”. Em poucas palavras, é um mangá bastante destoante entre suas histórias, umas trazendo temáticas interessantes, outras nem tanto. Com bastante conotações existenciais básicos e interações bem humanizadas, é uma obra que trata os seus momentos de forma orgânica. Quando é pra ser sério, é sério, quando é pra ser engraçado, é engraçado. Desanda bastante nos contos 4 e 5, mas ainda sim creio que é uma leitura interessante, até porque é bem curtinha. Nada de muito sublime, mas também nada de muito idiota.

Fim da zona protegida de spoilers.

Coerência com a proposta:

A primeira história traz o aspecto mais sério e melancólico, mostrando como a IA se manteve durante milhares e milhares de anos tendo que sobreviver aos inúmeros problemas climáticos que a terra sofria, lembrando de seus “pais” e como era importante aquilo que estava fazendo. É triste, interessante, mostrar numa escala gigantesca, a questão da perseverança e esperança. São temas comuns e bem óbvios, mas que são tratados com uma dose de detalhe e cuidado que tais, mesmo que clichês, acabam se mostrando bem comoventes.

A segunda história, a sobre a mulher que viveu 40 anos em coma, infelizmente trás o mesmo aspecto da primeira história. Ligações fraternas que de alguma forma tiveram de ser rompidas, num ambiente de tecnologia hiper avançada e etc. Tenta, assim como a primeira história, invocar uma certa comoção e uma reflexão sobre a tecnologia e as interações humanas, mas força um pouco a barra. Acaba ficando bem superficial e com um quê de filme-de-comédia-romântica-com-final-triste.

A terceira história é a que mais me cativou e elevou a qualidade da obra nos patamares em que a primeira havia apresentado. É engraçada, absurda, bem intencionada e não se leva muito a sério. Mostra um aspecto humorístico bem colocado mesmo num ambiente onde o principal sentimento é receio e medo. O único ponto que deixa a desejar é a transição entre o “não se levar a sério” ao “se levar muito a sério”. Porque enquanto o clima é de humor, tudo que é coisa absurda é tranquilo, porque afinal, é humor, mas ao tentar mostrar um lado mais “sério e reflexivo” de tudo isso, acaba numa superficialidade e insuficiência quase tão ruim como a da segunda história. Só não é tão ruim, porque a temática em si abordada, consegue sobrepujar a “ruimdade” do fim.

E finalizando este tópico gigantesco, as duas outras histórias são horríveis. Saem completamente do escopo do Hotel e entram num domínio “sobrenatural fantástico” que não tem clima nenhum. Destoa totalmente e acaba se tornando uma encheção de linguiça pra fechar um volume. A quarta história com o Stephanos é tão atropelada que eu fiquei com uma enorme interrogação na cabeça tentando entender qual é o propósito daquilo tudo na obra. E a última história, assim como a quarta, tenta construir um paralelo mais “mítico” que não cola em momento algum.

Verossimilhança:

Sobre as três primeiras histórias, neste quesito, não tenho muito do que reclamar. Os fatos são bem colocados, a questão tecnológica bem apresentada e as interações entre os personagens são orgânicas e interessantes. Infelizmente, as duas últimas histórias são horríveis. A garota grávida na quarta história é tão chocha e sem personalidade que fica óbvio que ela é desimportante e descartável na história. Assim como o médico, ambos personagens não agregam em nada na trama, o que deixa a “responsabilidade” da qualidade de tal nas mãos do “plot twist” que é um bichão maluco saindo da barriga da garota, falando um monte de frase pronta tirada de algum livro antigo. “Eu sou o Alpha e o Ômega, blablabla”, me poupe né. E a última história com a Lilith com peitos gigantescos e com o ideal da “liberdade” foi uma coisa tão, mas tão clichê, que me deixou um gosto muito amargo na boca. E isso sem contar que a Lilith tinha seios enormes, os deixava soltos no meio da batalha (o que por si só é absurdo) e não tinha sequer uma cicatriz nem sujeira no corpo. Esse fanservice idiota com certeza marcou negativamente essa obra.

Coesão:

Nenhuma. As três primeiras histórias que dialogam com o “Hotel” não concluem muita coisa. A primeira e segunda com temáticas bem parecidas, apenas demonstram esse paralelo entre humanidade/sentimentos/etc e tecnologia, enquanto a terceira mostra um lado mais cômico e irônico de toda a situação. Faltou muita coisa para que de fato essas três histórias constituíssem um diálogo profundo sobre uma calamidade generalizada. E quando adicionamos as outras duas histórias no “balaio” tudo fica ainda pior, já que essas só possuem premissa parecida, mas dialogam pouco ou quase nada com o “Hotel”. Na narrativa e na arte, nada que mereça muito destaque, apenas a primeira imagem colocada no início da crítica.

Relevância:

Num todo, existem alguns diálogos interessantes sobre a forma como o humano lida com o planeta terra, mas não é algo muito incisivo nem inovador. Parece uma grande e óbvia cartilha da ONU, dizendo que o mundo vai acabar por culpa de nós mesmos e que devemos nos conscientizar antes que seja tarde demais. E sobre as últimas duas histórias, nenhuma delas sequer espiou fora da esfera do clichê e do básico.

Conclusão:

Histórias bem destoantes entre si que não compõem uma unidade suficientemente interessante para a criação de uma climática imersiva, com temas óbvios e construções bem superficiais.

Menção honrosa:

As pequenas historinhas no final de cada capítulo são bem simpáticas e engraçadinhas.

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