Crítica — Jigokusei Remina

Juan Duarte
nanicriticas
Published in
3 min readApr 25, 2018

As idols são as novas bruxas.

Imagem da internet.

Ficha técnica:

Título: Jigokusei Remina / Hellstar Remina (地獄星レミナ)

Autor(a): Junji Ito

Não é editado no Brasil.

Algumas considerações para quem ainda não leu:

Essa obra é um retrato fantástico das duas coisas que o Junji Ito sabe fazer muito bem: Expressões faciais e climática. Tudo nessa obra, mesmo que por vezes um pouco atropelado, tem um clima muito lógico e interessante, que agrega importância para aquilo que é explorado na obra, contribuindo para uma imersão importantíssima para obras de horror. Sendo que, as expressões faciais das pessoas agregam não só mais consistência ao clima, como também auxiliam na interpretação do contexto. Agora, quando olhamos para a história, várias metáforas são óbvias e claras, porém alguns pontos me incomodam profundamente por serem explorados de uma forma um tanto desajeitada.

Coerência com a proposta:

Se falamos de Junji Ito, automaticamente pensamos horror, e não é à toa, já que esse gênero é plenamente dominado pelo autor. Isso não é diferente em Jigokusei Remina, onde tudo é estruturado, desde o ambiente, expressões faciais, interações, para que transmita a impressão de insanidade e caos, instigados pelo elemento sobrenatural principal da trama: O planeta Remina. A angústia e o incômodo que as expressões faciais propõem (mais uma vez com isso, mas é algo que merece ser pontuado) é algo tão interessante e inteligente de se utilizar, já que tal é a forma como nós humanos nos reconhecemos e, ao deixar tal bizarro e carregado de linhas fortes e “grosseiras”, efetua o seu papel no gênero.

Verossimilhança:

Existe uma série de forçações de barra na trama que por muitas vezes parecem “ok”, por outras engraçadas, mas muitas vezes “ah cara, sério?”. Um desses “ah cara, sério?” que mais me incomodou foi o fato de que a Remina e o primogênito dos Mineishi estavam flutuando numa altitude extrema e conseguiam respirar tranquilamente, e não satisfeito, após isso aterrissam na terra por função de, como o primogênito mesmo diz, um “milagre”. Então, o milagre disso se chama “autor” e sinceramente, não precisava disso. Toda aquela coisa de girar o planeta terra e gente flutuando atrás da Remina, sim, demonstrou a questão da obsessão e etc, mas acabou ficando tão forçado e sem pé nem cabeça, que tirou bastante do clima criado previamente na história. Mas tirando essa forçação desnecessária, o mangá em si não peca na sua “emulação da realidade”, trazendo personalidades que agregam à temática geral da história, mesmo que extremas e exageradas, sem deixá-las simplórias e clichês.

Coesão:

Pela questão da narrativa, a história se comporta de forma proveitosa, sem alongar momentos desnecessários, e trazendo um ritmo frenético à história, algo lógico quando pensamos em caos e insanidade. Não é a única forma de lidar com esses dois temas, mas foram estruturados com cuidado o suficiente para não se tornarem superficiais. Não há nenhuma ressalva, porém, não há qualquer êxito muito significativo em relação à “contação” da história. Agora, no quesito enredo, sinceramente, eu achei extremamente broxante o final melancólico. A história se dosa bem entre humor e bizarrices, com coincidências bobas e ambientação sinistra, porém, ao excluirmos esses dois elementos, a história se mostra bem fraca e sem muito a oferecer. É uma experiência meramente sensorial, mas nem tanto, com algumas metáforas interessantes, mas nem tanto.

Relevância:

O paralelo criado entre caça às bruxas, com a obsessão japonesa pelas Idols, é algo bem pontuado e explorado de uma forma linear e clara, trazendo por um lado, o religioso, a culpabilização de uma figura específica pelos males desconhecidos que atingem a população, satirizando e ironizando a ignorância generalizada fomentada pelo caos. E pelo outro lado, o “otaku”, o sadismo de uma população que enxerga em Remina uma forma de depositar todas as suas frustrações na forma de uma violência legitimada pelo objetivo de “salvar a terra”.

Conclusão:

É um mangá que pisa no calo de muitas pessoas e grupos sociais nocivos, trazendo com o clássico horror Junji Itiano (?), um aspecto de sarcasmo para todas as críticas, mesmo que deixando-as bem claras e acessíveis a uma leitura não tão preocupada com os detalhes. Entretanto, mesmo que com vários elementos interessantes, não estrutura consistentemente a sua provocação, deixando o final apenas aquele ar de “é só isso mesmo?”.

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