Crítica — Delicious in Dungeon Vol. 1.

Juan Duarte
nanicriticas
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3 min readFeb 16, 2018

A superlotação de “mangás medievais de lutinha” aparentemente não intimidou o autor de Delicious in Dungeon (Dungeon Mashi), e para ser sincero, ainda bem, porque esta obra é um ar fresco para todo o ambiente mainstream enraizado nesse contexto. Cheia de bom humor, Delicious in Dungeon reinventa a construção básica de aventuras medievais cheias de magia e ação, e investe no cunho alimentício. Desde o primeiro capítulo essa temática é apresentada como de suma importância, já que o grupo perde uma batalha contra um dragão por causa da fome. E mesmo sendo um mangá com cunho claramente humorístico, as motivações dos personagens são muito bem colocadas, bem como as interações sobre tais motivações. Lyos é um cara extremamente interessado em monstros e na culinária de monstros, e isso é extremamente estranho e “creepy” para Marcille e Tirchac (mais para a Marcille, por causa da religião dela), mostrando que é um tabu generalizado mesmo. Sendo que quando os três são vistos cozinhando monstros, as pessoas em volta olhavam com cara de nojo e desgosto, e é aí que entra o Sanshi. A princípio eu achei bem forçada a aparição dele, bem do nada, mas assim que eles estabelecem um diálogo a justificativa se mostra bem convincente (culinária de monstros é um tabu, logo achar pessoas que se interessam por isso é muito animador, principalmente para um entusiasta do assunto).

A construção teórica dos elementos apresentados é muito fluida devido a um dinamismo muito bem aplicado das ferramentas ilustrativas, passando muito bem o que a obra quer passar, tanto pelos monólogos divertidos e absurdos do Lyos e do Sanshi, quanto pelas artes em si das receitas e a forma como os ingredientes são adquiridos. Porém, a medida que a obra avança na busca pela integrante da guilda em apuros, as coisas começam a ficar bem repetitivas, mostrando uma estrutura bem circular no decorrer do primeiro volume. Ele tenta dar uma dinâmica diferente para cada “busca pelos ingredientes”, mas é visível a enrolação. E algo que é muito importante apontar, é que no volume inteiro o único personagem que entrou em algum conflito interno, que fez trapalhada e que teve de ser consolada, foi Marcille, a única personagem feminina do volume, o que me incomodou bastante. Não existiu nesse primeiro volume uma representatividade feminina consistente, já que para que isso ocorresse, de forma bem torta, foram necessário diálogos de encorajamento de um bando de cara. Trazendo uma “Síndrome de Sakura” (é, a do Naruto) onde a única personagem feminina do grupo se mostra com aspectos inseguros e de “gênio forte”. Enfim, é um mangá divertido com uma pegada bem diferente, mas que não se mantém muito bem ao longo da história e que peca feio em reafirmar estereótipos femininos toscos.

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