Crítica — My Lesbian Experience With Loneliness.

Juan Duarte
nanicriticas
Published in
3 min readFeb 16, 2018

Sinceramente quando li o título e vi a capa desse mangá eu já senti que ele de alguma forma iria ser uma obra excelente. Sim, não é muito saudável nem confiável se levar por nomes ou por capas, mas levando em conta que isso também é de responsabilidade do autor do mangá, pode-se dizer que não foi tão errado assim. E no fim das contas, The Private Report On My Lersbian Experience With Loneliness superou toda e qualquer expectativa que eu tinha. Com uma arte despretensiosa e amigável, um assunto super interessante, uma narrativa impecável e direta, e uma sobriedade cômica incrível, esta obra com certeza me conquistou assim como tenho certeza que conquistou (ou vai conquistar) vocês. Se ainda não leu, saia deste site e vá ler agora! Brincadeiras à parte, agora vamos pro papo sério (risos): A obra em questão é uma mistura extremamente bem dosada de comicidade, complexidade e objetividade, que torna a história em si um conteúdo riquíssimo de informação com uma experiência de leitura extremamente gostosa.

A apresentação da protagonista como uma “excluída social” com transtornos psicológicos gravíssimos é tão simples e direta que foge das climáticas padrões, tanto de uma romantização banal quanto de uma seriedade avassaladora (não que seriedade seja algo ruim), mostrando sua própria forma de tratar tais problemas e explanando de forma pessoal. Mostrando que bulimia, depressão, e outros transtornos que se manifestam corriqueiramente na adolescência não são uma “fase” ou algo que se cura apenas com “força de vontade”. Argumentando consistentemente tal reflexão com conceitos impactantes: “Quando minha mente está doendo, não há uma forma ou indicação para se olhar, então eu não consigo entender muito bem. Mas quando meu corpo dói é tão fácil de entender que isso ajuda a me acalmar.”; “Para colocar em palavras, a dor mental que você está sentindo por dentro, leva muito tempo e esforço para ser compreendida. É muito mais rápido e mais limpo mostrar alguma dor visível. Ela ajuda a entender a causa e efeito por trás da dor dentro de você, e pode ser reconfortante ter marcas físicas para olhar.”. E a medida que a história avança, mais e mais informação é apresentada, e o melhor: De forma extremamente acessível, palpável e bem humorada. E o bom humor não debocha de tais situações, apenas torna mais nítido ainda como tais problemas agem nas pessoas.

A busca que a protagonista percorre durante toda a história à aceitação própria e o desprendimento da necessidade de agradar seus pais, escancara também a negligência generalizada. Não é só uma questão de ignorância da família, mas sim uma questão de tabu congênito numa sociedade que impõe que tais assuntos não importam ou que são coisas inventados. Mostrando que existe sim uma pressão no adolescente (principalmente aquele que está finalizando o ensino médio), não para que ele encontre aquilo o que ele realmente quer fazer e consequentemente se encontre em harmonia com sua própria existência, mas para que ele se enquadre na linha de pensamento de “sobrevivência social” (conseguir um emprego, ter filhos, etc). Bem como a mistificação da sexualidade como algo que deve ser tratado apenas na intimidade entre as pessoas ou em míseras aulas de educação sexual que por ventura alguém possa vir a ter. Mostrando que o despreparo emocional dos adolescentes é construído pela desinformação e pelo julgamento negativo daqueles que buscam por essa informação.

É uma obra que conversa com quem está lendo e trata a experiência como um depoimento tímido e amigável, como quando a gente desabafa com um amigo. Os erros não aparecem porque a preocupação principal da obra não foi com a comercialização e sim, com a forma de melhor transmitir a mensagem desejada.

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