O empoderamento feminino em Garotas Mágicas… ou não é bem assim?

Laura
nanicriticas
Published in
3 min readJul 18, 2018
Créditos: Naoko Takeuchi/Kodansha/Toei Animation

Nesse texto, eu queria compartilhar uma coisa que li em um artigo uma vez e me fez refletir bastante sobre minha opinião em obras de garotas mágicas, geralmente aclamadas pelo público por empoderarem as mulheres, visto o protagonismo feminino e papel ativo das mulheres nessas obras. Mas, antes, quero deixar claro que tanto o artigo quanto o grosso do meu consumo de obras de garotas mágicas se referem aos anos 90 e começo de 2000 (ou seja, coisas como Sailor Moon e Cardcaptor Sakura).

É verdade que essas obras contam sim, num geral, com heroínas poderosas e ativas, mas, como bem notam Schwartz e Rubinstein-Ãvila (2006), elas não abandonam o papel da mulher como cuidadora. As personagens são boas filhas (nem sempre nas notas, mas cuidam dos familiares e da casa adequadamente), boas namoradas, enfim, respondem prontamente às necessidades da família/amigos/comunidade e, implicitamente ou não, colocam as necessidades alheias frente às delas.

Assim, apesar de aparentemente empoderadas, elas, na verdade, não transgridem os papeis de gêneros, apenas possuem responsabilidades a mais. Ao invés da mulher independente, estão mais próximas da mãe trabalhadora que realiza dupla-jornada (no caso delas, tripla-jornada, porque estudam, cuidam dos outros/de casa e ainda salvam o mundo). O protagonismo feminino foi inserido nas tramas, assim como a mulher foi inserida no mercado de trabalho, mas a “função primordial” da mulher na sociedade não foi realmente questionada em momento algum nesses dois processos.

Com isso tudo, não quero propor que garotas mágicas são ruins, só quero apontar que protagonismo feminino por si só não necessariamente implica libertação. Essa questão é importante, representatividade é importate, mas é preciso olhar para além da simples presença de personagens femininas “fortes”. Senão, vamos continuar reproduzindo as mesmas coisas sem perceber, só que num rótulo diferente. Não é para parar de assistir/ler e criar o movimento em nome do fim das garotas mágicas. Acho que protagonistas fortes representam um avanço, principalmente pensando na fragilidade que é comumente atribuída às mulheres, só que não é aí que a história acaba.

Eu falo de garotas mágicas, mas isso vale para shoujos num geral. Sei bem que esse gênero não se restringe à indústria shoujo, mas é nela que ele nasce e é dela que ele empresta muitos conceitos. Existem exceções e também há produções mais novas que parecem estar mudando um pouco as coisas. Mas, para as coisas mudarem mesmo, precisamos olhar as coisas um pouco mais a fundo e pensar para onde elas apontam e o quanto elas realmente nos servem.

Referências

Schwartz, A., & Rubinstein-Ãvila, E. (2006). “Understanding the Manga Hype: Uncovering the Multimodality of Comic-Book Literacies”. Journal of Adolescent & Adult Literacy, 50(1), 40–49. Disponível em < http://www.jstor.org/stable/40012306 >.

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Publicado julho 18, 2018julho 18, 2018

Originally published at animejournalaj.wordpress.com on July 18, 2018.

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