Resenha : Vem — Mallu Magalhães

Edgar Dourado
Narrações Sonoras
5 min readNov 22, 2022

Esse texto foi publicado originalmente dia 31 de janeiro de 2018 no blog Faixa Musical e está sendo replicado aqui somente para estruturação de portfólio.
Confira o texto original em:
http://blogfaixamusical.blogspot.com/2018/01/resenha-vem-mallu-magalhaes.html

Mallu Magalhães é uma artista bem jovem, com apenas 25 a cantora apresenta uma carreira ao menos considerável. Como ela conseguiu esse feito ? Voltem à alguns anos atrás; Mallu se lançou à música adolescente, com 15 anos lançou seu álbum de estreia de forma independente,e mesmo nova e desconhecida ganhou espaço entre o público. O fato de ter começado tão prematuramente trouxe pequenos prejuízos á cantora; a timidez demonstrada em programas de TV e em entrevistas acarretavam criticas negativas á artista; o polêmico namoro com o cantor Marcelo Camelo; a relutância em cantar em português e o estilo excêntrico e infantil que a cantora apresentava contribuíram para a maré negativa que a circulava.

O lançamento de “Pitanga” terceiro álbum de sua carreira, em 2011 serviu para a cantora encerrar com os argumentos de todos seus críticos. Mallu já estava com 20 anos, entregue a MPB (mesmo que com algumas canções em inglês), a jovem ostentava estabilidade e maturidade ao cantar samba, bossa,folk e o próprio pop. O disco “Pitanga” caiu no gosto do público e concretizou Mallu como a cantora que ela queria ser e no estilo que ela dominava. A cantora seguiu com sua carreira, montou o projeto paralelo “Banda do Mar” com o seu já marido Marcelo Camelo e manteve seu público, até expandido-o . Com o fim de Banda do Mar, seu público esperava um retorno no nível de “Pitanga”; em “Vem” quarto álbum da cantora, Mallu superou todos os seus limites. A cantora gravou o álbum entre Rio de Janeiro, São Paulo e Lisboa (Portugal); compôs todas as faixas sozinha e produziu o álbum ao lado de seu marido Marcelo Camelo e de Rodrigo Amarante colega de Camelo membro da banda Los Hermanos. Entre viagens e sentimentos compostos por Mallu, temos aqui o seu melhor trabalho.

“Você Não Presta” abre o álbum com um samba daqueles que ao se escutar, já se sente com vontade de sair dançando. — Vem, eu não tenho mistério não; eu guardo as minhas cicatrizes, mantenho as minhas diretrizes- canta Mallu nos primeiros segundos de música. Parece aqui que a cantora está ditando um futuro em sua vida, nos chamando para conhece-la e mantendo todas suas lembranças e características. “Você Não Presta” é uma faixa chiclete e te garantirá várias repetições.

“Culpa do Amor” começa com um arranjo de cordas envolvente. Mallu conta de forma descontraída uma discussão de relacionamento que por fim acabou-se em beijo. “Culpa do Amor” é leve e envolvente. Mesmo tendo um tom pessoal na música, é impossível não simpatizar ou sentir o que Mallu canta. E é assim que seguimos com todas as outras faixas, sentimos tudo o que Mallu canta, vivenciamos e lembramos de situações ocorridas com a gente a cada situação cantada.

“Casa Pronta” segue o padrão de Culpa do Amor, a música inicialmente fala sobre a construção de uma casa, mas vai além disso, a música serve de metáfora à construção de um relacionamento, à mudanças, a espera de um amor e também a maternidade, sim ! Mallu claramente compôs essa música enquanto estava grávida de Luísa, sua filha.

“Vai e Vem” a descontraída quarta faixa do álbum é uma delicia de se ouvir. — A felicidade vem nos microssegundos-. Mallu canta com a leveza que a faixa precisa, entre agudinhos e falsetinhos é impossível não se alegrar ouvindo-a.

“Será que um dia” nos remete a uma música mais jovem guarda. Lembra muito algo que seria cantado por Nara Leão ou Roberto Carlos. A letra traz incertezas e uma leve tristeza, cantada a pulmões por Mallu.

“Pelo Telefone” volta ao estilo de “Culpa do Amor”. Mallu canta sobre estar chorando ao telefone, e esperando que o amado a visite. Mesmo sendo pessoal, a música cai bem para qualquer pessoa. Quem nunca chorou ao telefone ou desejou a visita daquela pessoa especial né ?

“Navegador” a sétima faixa do álbum é uma das melhores de todo o disco ( mesmo sendo difícil encontrar uma favorita). A faixa nos trás uma Mallu Magalhães forte, madura e decidida. A faixa lembra “ Por Que você faz Assim Comigo” presente no seu álbum Pitanga. Talvez a faixa sirva de continuação para a faixa de seu álbum anterior, nela temos uma Mallu triste e dependente, querendo ser forte e seguir seus próprios passos; já em Navegador Mallu encontrou sua força interior e segue adiante. O arranjo e efeitos presentes na música possuem qualidade proporcionais a letra. Uma canção que agradará até a pessoa mais relutante em ouvi-la.

“Guanabara” nos leva a uma das muitas transições de locais que Mallu realizou na confecção desse disco. Na música atual nos encontramos numa sexta-feira, na praia do Rio com o pé na areia. Uma canção leve e com arranjos bem diversos.

“São Paulo” quebra a leveza da faixa anterior, temos aqui uma canção mais animada e agressiva, temos Mallu cantando a pulmões da mesma forma que cantou na faixa “Será que um dia”, mas dessa vez com alegria e bravura na voz. A faixa traz um orgulho regional ao paulistano que a escutar, e para quem não é paulista, uma vontade de visitar a Praça da Sé e comer um bolo e café.

“Gigi” é uma faixa escrita em homenagem para Gisele, mãe de Mallu. É a faixa mais pessoal do álbum, mas não há algo ruim nisso. Como podemos julgar o amor que uma filha sente pela mãe ?

“Love You” penúltima faixa do disco nos trás uma lembrança a antiga Mallu. A faixa em inglês possui uma letra fofa, e um arranjo agradável e brincalhão. Para quem conhece o trabalho de Mallu, recomendo essa aos fãs de “Tchubaruba” e “J1”; e para os que não estão familiarizados com Mallu, digo-lhes que é uma faixa excelente para se ouvir em repetição, enquanto descansa ou faz algo de forma descontraída.

“Linha Verde” décima segunda e última faixa do álbum nos transporta para outro cenário. A rede metropolitana de Lisboa, Linha Verde. A faixa é acompanhada por um violão e possui letra mais pessoal. É uma música mais calma, e é disso que precisamos para o final do seu álbum, uma faixa calma para um álbum leve. E Mallu nos brinda com o verso mais fofo de todas suas músicas -E aí em casa, a gente aninha. E a nossa filha sorri- essa parte derrete o coração de todo romântico apaixonado e de todos que viram o amadurecimento de Mallu e o tão aguardado nascimento de sua filha; uma linda faixa, para um lindo álbum.

Mallu pode não ser uma cantora de voz forte e potente. Pode não ser uma cantora que tocará em rádios e baladas. Mas é uma cantora única, autoral e principalmente amorosa. Mallu nutre um amor por sua música e defende o seu trabalho. Com inspiração em Nara Leal e Tom Jobim, e com elementos de samba, bossa e MPB, Mallu nos entrega “Vem”, um álbum para ser sentido, escutado e amado. Minimalista mas mesmo assim intenso, “Vem” com certeza absoluta entra na lista dos melhores álbuns de nossa MPB; e prova o por quê de Mallu ser a referência e o nome mais forte à carregar a atual MPB. Divirtam-se.

Nota: 10/10

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Edgar Dourado
Narrações Sonoras

Designer, Ator, cronista do caos e Carrie Bradshaw Tupiniquim. Escrevo sobre o que der na telha. Instagram: edgar_dourado