Apuração — a vivência da reportagem

Poliana Ribeiro
NARRATIVA
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3 min readNov 28, 2016

Nas redações, sempre houve uma máxima em relação à reportagem: lugar de repórter é na rua! Editores e chefes de redação sempre foram os maiores proclamadores dessa frase, que, embora tenha sido atualizada nesse mundo hiperconectado, nunca perdeu o sentido.

É na rua mesmo que tudo acontece, em que a reportagem começa, de fato, a se delinear. Mas e a pauta? Muitas vezes ela nem existe fisicamente — sabe aquele modelo que a gente aprende na faculdade, cheio de detalhes e indicações sobre o assunto a ser abordado? Esqueça! Ele é ideal, mas não é real, principalmente no webjornalismo.

A pauta pode ser apenas uma tirinha de papel — quando muito — ou mesmo uma ordem verbal: “vai lá no Centro porque tem um prédio pegando fogo”. E o repórter sai para apurar a situação e depois ordenar as informações colhidas, transformando-as na narrativa jornalística.

A apuração é a vivência da reportagem, é quando o repórter interage com os fatos, observa o cenário, conversa com fontes, anota o que é importante, e começa a construir o seu texto. É claro que nem sempre o repórter precisará sair da redação para produzir uma boa reportagem — principalmente com tantas possibilidades que as tecnologias digitais proporcionam (falaremos disso mais à frente) -, mas são as reportagens que exigem essa imersão do repórter as mais interessantes.

Planejamento

Mesmo que você não tenha uma pauta organizada, é importante planejar os seus passos antes de começar a apurar uma reportagem. Isso pode ser feito no bloquinho mesmo que você usa para fazer suas anotações. Veja qual é o assunto, se é um fato novo ou se tem relação com algum fato anterior (vale dar uma pesquisada), saiba quem são as fontes, que tipo de informações você precisa coletar e qual é o foco principal dessa matéria (embora, em muitas situações, o foco da matéria acabe mudando ao logo da apuração — falaremos disso mais à frente).

Atenção aos detalhes

A primeira coisa que o repórter precisa ter em mente na hora da apuração é ficar atento a tudo e a todos. Às vezes as informações estão muito aparentes, mas, em outras ocasiões, é preciso ter atenção. Um detalhe pode ser o grande lance de uma reportagem.

Lembro que, quando eu era repórter da editoria de Cidade de O Estado, tive que fazer uma matéria em um bairro bem perigoso aqui de São Luís, onde um taxista tinha sido assassinado. Os moradores estavam assustados e quase não quiseram falar comigo. Fiquei ali, no meio daquela rua quase deserta, procurando algo que nem sabia direito o que era. De repente, olhei na parede de um estabelecimento comercial a marca de uma bala. Aquele detalhe passaria despercebido se eu não estivesse atenta ao que estava ao meu redor.

Curiosidade

Repórter precisa ser curioso! Quando estamos apurando informações para uma reportagem, não podemos nos dar logo por satisfeitos. Precisamos indagar mais as fontes, observar mais o local, cavar mais fundo. É isso que vai enriquecer o texto jornalístico. Infelizmente, muitos repórteres acabam voltando para a redação com dúvidas, o que não vai ser nada bom na hora de produzir o texto.

Organização

De nada adianta coletar informações, anotar tudo no seu bloquinho, se depois você não vai entender nada do que escreveu. Por isso, é importante criar algum tipo de método de organização para não se perder em meio às informações. Tem repórteres que gravam na cabeça as informações e só anotam no bloquinho palavras ou frases-chave (ou informações que requerem mais atenção, como nomes, por exemplo). Outros preferem deixar gravando enquanto anotam até por questões de segurança. Há ainda quem seja criterioso e prefira anotar tudo bem certinho, o que nem sempre é muito agradável para o entrevistado, que, muitas vezes, precisa repetir várias vezes o que falou. Veja o que funciona para você e utilize.

A apuração também está muito relacionada com o tipo de matéria que o repórter está fazendo. Falaremos mais sobre isso em outro post.

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Poliana Ribeiro
NARRATIVA

Jornalista e professora, mestra em Cultura e Sociedade (PGCult — UFMA). Especialista em Jornalismo Cultural (UFMA). Graduada em Jornalismo (UFMA).