Essas adoráveis mulheres!

Poliana Ribeiro
NARRATIVA
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4 min readDec 23, 2021

Quando era uma adolescente, vivendo em uma casa predominantemente feminina, assisti ao filme Adoráveis Mulheres, de 1994, e me encantei pela história. Revia sempre que passava na televisão — principalmente nesse período natalino -, o que se tornou cada vez mais raro ao longo do tempo. Busquei em todos os catálogos de streaming a que tive acesso, mas só este ano o filme estreou na Netflix. Comentei com André e Malu do quanto eu era apaixonada por essa história e eis que, no Dia das Mães, eles me deram uma edição linda de Little Women, da Lousa May Alcott, que eu terminei de ler no mês passado.

A edição que eu li é a da Martin Claret, capa dura, com 680 páginas (por isso demorei tantos meses para ler). Em português o livro ganhou a tradução de Mulherzinhas (título que eu detesto porque parece meio pejorativa na nossa língua).

Em um breve resumo, o livro conta a história das irmãs March — Meg, Jo, Beth e Amy — que crescem em meio à Guerra da Secessão, entre os anos de 1861 e 1865, sob os cuidados da mãe zelosa, enquanto o pai defende o Estados Unidos nas trincheiras.

A narrativa tem como figura central Jo, a irmã desbravadora, que sonha em ser escritora e rejeita o papel feminino centrado no casamento. É ela quem cria as peças teatrais caseiras, das quais as outras irmãs participam, o que confere maior dinâmica ao ambiente doméstico. É Jo também que conhece Laurie, o vizinho que acaba fazendo parte da vida das March.

Depois de ler o livro, percebi o quanto a diretora Gillian Armstrong e a roteirista Robin Swicord foram bem-sucedidas na adaptação da obra para o cinema, em 1994. Elas não apenas conseguiram fazer jus ao livro de Louisa May Alcott — considerado um clássico da literatura norte-americana — como também fizeram a melhor seleção de elenco possível. Susan Sarandon (Sra.March), Winona Ryder (Jo), Claire Daines (Beth), Kirsten Dunst (Amy) e Christian Bale (Laurie) são alguns dos atores que dão vida aos personagens do livro com absoluta fidelidade.

Aparentemente, parece ser mais fácil fazer um roteiro adaptado de uma obra literária do que criar um original, mas, com meus parcos conhecimentos cinematográficos — fruto dos livros que já li sobre o assunto e dos cursos que participei — essa é uma tarefa inglória na qual muitos não se saem tão bem assim.

É o caso da adaptação mais recente de Little Women, que tive a oportunidade de assistir no último fim de semana. Talvez seja mera implicância por amar tanto o filme de 1994, mas Adoráveis Mulheres, de 2019, é, para mim, apenas uma pálida referência ao livro de Louisa May Alcott. E os motivos são exatamente as maiores qualidades da adaptação mais antiga: falhas na seleção de elenco e problemas na narrativa.

O filme, dirigido e roteirizado por Greta Gerwig, falha em seus saltos temporais que dificultam uma conexão maior com os personagens. Esse recurso funciona em muitas narrativas, mas creio não ser o caso nessa história que precisa que os espectadores acompanhem o crescimento e a evolução das meninas. A impressão que se tem é que há uma pressa desnecessária, o que compromete momentos encantadores da história. Talvez isso seja um pouco reflexo dos tempos atuais, no qual tudo precisa ser ágil — o que não é verdade.

Mas, na minha opinião, o grande problema do filme é a escolha do elenco, principalmente das irmãs March. E aqui não é uma crítica aos talentos individuais, mas ao encaixe — na ausência de palavra melhor — com as personagens. O maior exemplo é a escolha de Florence Pugh para o papel de Amy, a mais nova das irmãs, que parece até mais velha do que as outras. Emma Watson teria sido muito mais adequada ao papel de Jo do que de Meg. E por mais que eu ache a Laura Dern uma atriz fabulosa, falta muito para que ela seja a Marmee Mach que povoa o meu imaginário. O que dizer, então, de Timothée Chalamet como Laurie? Sério, de quem foi essa ideia? Nada contra o ator, mas ele parece um menino de 13 anos!

E só para não soar injusta, Meryl Streep, que interpreta a rabugenta tia March, está maravilhosa como sempre.

Apesar de não ter gostado muito dessa adaptação mais recente, reconheço os méritos da obra, principalmente o fato de Greta Gerwig — uma admiradora confessa da história de Louisa May Alcott — ter trazido essa história de volta aos dias de hoje.

É fascinante que essa história sobreviva tanto tempo depois de ter sido escrita, e seja sempre redescoberta, como quando minha filha se interessou pelo que eu contei a ela sobre o livro e quis lê-lo (terminou antes de mim, inclusive).

O fascínio sobre Little Women talvez venha do fato de lidar com questões universais, mesmo tendo sido publicado em 1868. Não é apenas uma narrativa sobre quatro irmãs, mas uma história com uma perspectiva muito interessante sobre o universo feminino e suas peculiaridades. Mulheres diversas com visões particulares sobre o mundo.

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Poliana Ribeiro
NARRATIVA

Jornalista e professora, mestra em Cultura e Sociedade (PGCult — UFMA). Especialista em Jornalismo Cultural (UFMA). Graduada em Jornalismo (UFMA).