O fim de um sonho profissional

Poliana Ribeiro
NARRATIVA
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2 min readJan 2, 2018

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Na minha vida profissional, sempre pensei em ser jornalista de redação. Nenhuma das minhas idiossincrasias foi mais difícil de superar do que esta. Não que eu já a tenha superado, na verdade ainda estou nesse processo. Em meus sonhos, trabalhava numa redação de jornal (impresso), que teria em suas edições diárias meu nome escrito, assinando boas reportagens.

Não posso dizer que este sonho não se tornou realidade. Muitas vezes vi minhas credenciais grafadas nas páginas do jornal O Estado do Maranhão. Assim, posso dizer que consegui consolidar esse sonho, mas pensei que ele fosse me definir para o resto da minha vida (ou pelo menos, a maior parte dela). Mas cá estou, nos primeiros dias de 2018, sem ainda saber bem como me definir, sem ainda ter conseguido assimilar completamente que não sou mais da “imprensa”. Propositalmente, não refleti muito sobre o que foi 2017 comigo mesma. Minto. Refleti sim, mas me afastei das elaborações comuns nesta época do ano.

Ainda sinto o peso de sair do local onde trabalhei por anos e anos; o mais próximo do que estive da jornalista que idealizei ser. E como é difícil fazer as pessoas entenderem a complexidade dessa saída! Não é apenas o fato de ter sido demitida ou de estar desempregada aos 37 anos. É bem mais profundo, menos pragmático, porque modifica, com as tais idiossincrasias, minhas concepções íntimas.

Deixar o jornal significou ter que pensar em outras definições porque a “jornalista de mídia impressa” não me caberia mais. O jornal impresso está agonizando e, mesmo que ainda tenha uma sobrevida, trabalhar nele não faz mais sentido para mim — e já não estava fazendo há algum tempo. É quase como se eu pertencesse a um passado que ainda teima em existir. Assim, não me resta outra alternativa a não ser seguir, buscar novas definições: mestranda, pesquisadora, docente, jornalista de algum outro veículo…

O problema da maturidade — embora eu veja muitas vantagens nessa fase da vida — é que ela nos obriga a nos distanciar das nossas pueris “verdades” sem colocar outras no lugar. A gente muda — porque a transição é contínua —, mas precisa ir largando, pelo caminho da existência, o peso do que sempre projetou para si. Por mais que eu busque outras definições profissionais, nunca mais me definirei como jornalista de um impresso novamente. Não terei a mesma expectativa, não me verei como antes. Meus sonhos e idiossincrasias fizeram parte de alguém que eu não sou mais. Ainda não estou acostumada com tanta leveza. Quem sabe um dia.

Espero que tenha gostado deste texto e agradeço se comentar ou clicar nas “Palminhas”. A sua resposta é muito importante para mim! Bom início de ano!

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Poliana Ribeiro
NARRATIVA

Jornalista e professora, mestra em Cultura e Sociedade (PGCult — UFMA). Especialista em Jornalismo Cultural (UFMA). Graduada em Jornalismo (UFMA).