Um novo cenário no jornalismo (e na minha vida profissional)

Poliana Ribeiro
NARRATIVA
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3 min readJan 3, 2018

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Ser obrigada a abrir mão de algumas das minhas certezas profissionais pode ter sido um tanto traumático, mas também tem sido libertador. Abandonando algumas expectativas — mesmo que quase a contragosto —, eu tenho conseguido olhar em outras direções. O processo começou há pouco mais de dois anos, quando tive a oportunidade de dar aulas no curso de Comunicação Social, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), prosseguiu com o início dos estudos no Mestrado em Cultura e Sociedade e com minha saída do jornal O Estado do Maranhão. Saiu de cena a jornalista de imprensa e foi surgindo a professora e pesquisadora.

A minha dissertação se afina com o meu momento profissional e o meu olhar está atento às transformações pelas quais passa o mercado de trabalho para os jornalistas. Ainda estou engatinhando no mundo acadêmico, mas tenho tomado gosto pela investigação científica, principalmente porque a cada dado verificado, em cada referencial teórico pesquisado, sou levada a crer que nem tudo é desalento no jornalismo.

O objeto da minha pesquisa são empreendimentos digitais voltados para prática jornalística, esses novos meios de difusão de conteúdos que têm buscado ser, também, modelos de negócios viáveis e, acima de tudo, diferentes dos que estávamos habituados: as grandes empresas de mídia controladas por grupos políticos e/ou econômicos. Esse novo nicho mira uma independência que sempre pareceu meio utópica para a maioria dos profissionais que trabalham para veículos mais tradicionais.

Sai de cena a publicidade que banca — de forma velada — o que pode ou não ser veiculado e entram em campo os financiamentos de reportagens, as doações, as assinaturas, os publieditoriais. Não que o modelo tradicional tenha morrido ou que esses novos empreendimentos tenham descoberto a pólvora, porém novos caminhos têm sido apontados por quem está conseguindo ver na internet mais do que um meio de difundir conteúdos, e sim uma possibilidade de sobrevivência profissional.

As dificuldades são imensas para os desbravadores — entre as principais delas está a falta de familiaridade do público com a prática de pagar por conteúdos digitais -, mas, pesquisando esse novo cenário, eu tenho conseguido identificar muitas iniciativas que aumentam a esperança de que o futuro não é tão assombroso assim para os jornalistas. O Nexo Jornal — um dos meus objetos de estudo — aposta no jornalismo de contexto, antídoto necessário à dispersão e ao caos promovidos pela instantaneidade dos noticiários.

A desesperança tem sido companheira de muitos jornalistas, cobrados ao extremo pelas empresas em crise. Foi minha companheira durante os últimos três ou quatro anos, quando a redação do jornal tornou-se palco de uma verdadeira maratona em busca da multimedialidade, cobrada da forma mais equivocada possível.

O que tem me alegrado é que , saindo desse ambiente confuso, é possível ver além. Prova disso foi o Festival 3I, realizado em novembro, em São Paulo, que reuniu vários representantes desses novos empreendimentos digitais, aos quais eu tenho vislumbrado como indicadores de que o jornalismo pode ser sempre mais do que as grandes empresas definem. Em São Luís, no Maranhão são muitos os profissionais e experimentos que têm surgido, ainda de forma tímida. Prometo voltar a falar mais sobre este assunto.

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Poliana Ribeiro
NARRATIVA

Jornalista e professora, mestra em Cultura e Sociedade (PGCult — UFMA). Especialista em Jornalismo Cultural (UFMA). Graduada em Jornalismo (UFMA).