SAÚDE

Na mente das mina

Os cuidados com a saúde psicológica das atletas da dupla Gre-nal

Vitor Gomes
Narrativas em Detalhe

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Com 16 anos de carreira, Chú Santos sabe a importância de não chutar pra longe a saúde mental | Foto: Juliana Zanatta / SC Internacional

E m agosto de 2023, a revista Exame publicou uma pesquisa feita pela Sponsorlink, do Ibope Repucom, que apontou o crescimento de 34% do interesse no futebol feminino no Brasil, entre 2018 e 2023. Isso mostra que a cultura do país está mudando e que essa transição exigirá dos clubes ainda mais empenho em proporcionar um futebol de qualidade para os novos consumidores. Ainda mais agora que a seleção brasileira feminina conquistou a medalha de prata nas Olimpíadas de Paris. Para fazer isso, o primeiro passo será oferecer melhores condições de trabalho para as jogadoras.

A área com mais ausência de atuação nos departamentos femininos no Brasil em 2023 foi a psicologia. Segundo o site Fut das Minas, menos da metade dos clubes da série A do campeonato brasileiro contava com um profissional da área exclusivo para o futebol feminino na temporada passada. No Rio Grande do Sul, mais especificamente na dupla Gre-nal, quando se trata do desenvolvimento e cuidado com as jogadoras, a área que ainda precisa ser aprimorada no departamento feminino de Inter e Grêmio também é a psicologia. Atualmente, a presença de um profissional da psicologia é obrigatória somente nas categorias de base, e esse requisito dá aos times o selo de “clube formador”, mas no profissional não existe essa obrigatoriedade.

“O nosso norte é ter uma equipe multidisciplinar para tratar desses preceitos.”

Élis Rodrigues Filho, diretor do Departamento de Futebol Feminino do Internacional

Élis Rodrigues Filho, diretor do Departamento de Futebol Feminino do Inter, diz que gostaria de contar com três novas profissionais para atender as atletas: uma psicóloga, uma pedagoga e uma assistente social. “O nosso norte é ter uma equipe multidisciplinar para tratar desses preceitos.” Mas ele explica que a principal barreira para a criação dessa equipe é a questão orçamentária.

“Os departamentos de marketing dos clubes não se atentaram pra isso ainda, os patrocinadores também não. O futebol feminino é onde eles vão crescer, tem um mar de oportunidades”, diz o diretor. Por meio de uma pesquisa pessoal, Élis listou alguns patrocinadores que poderiam entrar no universo do futebol feminino, tendo como base os 10 itens de maior consumo das mulheres. Para ele, essas empresas deveriam investir na modalidade, mas ele acredita que falta também interesse dos clubes e das torcidas. “O clube tem que fazer a sua parte, e o torcedor tem que encher o estádio para assistir o futebol feminino.”.

Deixa elas falarem

A atacante do Internacional Chú Santos, carioca, chegou ao clube em 2024 com uma grande bagagem no futebol. Passou pelo Santos, Corinthians, Ferroviária e Palmeiras. Ela explica que o cuidado com a saúde mental é crucial na rotina da profissão. “Nós fazemos um trabalho bem rico, em relação a trabalhar a nossa mente, porque às vezes o nosso corpo reage, mas a mente não.” Chú também realça que, além do suporte dado pelo clube, é comum que as atletas busquem tratamentos com profissionais fora do ambiente de trabalho. “A gente procura suporte por fora, de psicólogos e terapias, para que a gente possa estar sempre com a mente forte”, conta a atacante.

O impacto da saúde mental de uma atleta na sua performance é tão alto que elas tentam se preservar antes de uma partida. “A gente costuma pedir para os familiares não nos darem notícias de algo que aconteceu com alguém, ou notícia trágica próximo de jogo, porque isso pode nos atrapalhar muito”, conta Chú .

Em nota, a assessoria de imprensa do Grêmio também ressaltou a relevância da saúde psicológica de suas jogadoras: “As atletas são constantemente observadas e acompanhadas pela Comissão do Departamento de Futebol Feminino. É um ambiente de bastante acolhimento e diálogo, com profissionais de saúde à disposição das jogadoras, incluindo de psicologia e psiquiatria. Além disso, atividades de palestra e orientação são oferecidas de tempos em tempos para os elencos”.

Fernanda Tôrres Faggiani, psicóloga e educadora física formada pela Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), onde leciona no curso de Psicologia, conta com a experiência de ter trabalhado por 12 anos no Grêmio. “A saúde é fundamental, assim como todas as outras variáveis”, diz ela. A professora também destaca a relação que existe entre a saúde mental das jogadoras e a sua rotina: “Saudáveis mentalmente, as atletas têm condições de se sentirem mais seguras e confiantes, podendo aderir melhor à rotina de treinos e competições que elas têm”.

Fernanda salienta que os cuidados psicológicos devem ter um caráter preventivo e não só focado na patologia, ou quando a atleta se mostra vulnerável. “Houve um aumento das doenças mentais, principalmente ansiedade e depressão, dentro do ambiente”, diz ela, se referindo ao futebol. Esses fatores devem ser regulados e monitorados para que se possa prevenir e auxiliar as atletas a ter um melhor rendimento e campo.

Reportagem reproduzida para a disciplina de Fundamentos da Reportagem do curso de jornalismo Fabico/UFRGS.

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