O homem triste no metrô

Diúlit Bernart Oldoni
Nasci pra ser cidade
1 min readMar 6, 2019
Imagem: jettingaround.com

O homem no metrô encarava o chão com a expressão mais amarga do mundo. Trazia nas mãos uma lata de cerveja embrulhada em uma sacola plástica preta, e sua figura triste parecia muito deslocada no vagão, rodeado por pessoas menos afetadas pelas maldades da vida.

Usava o que parecia ser um uniforme de operário, sujo de tinta. Não notava que estava sendo observado — o que deve ser comum naquele país onde analisar cada pessoa ao redor não é um costume. Nas ocasionais passagens do metrô pelos trilhos a céu aberto, casas de arquitetura de sonho e ruas dignas dos programas de amenidades do Home&Health voavam pelas janelas. Fazia sol na famigerada cidade cinza e chuvosa.

Mas, mesmo assim, o homem estava triste. Afinal, o metrô de Londres não poderia mesmo parecer romântico para todos — é mais fácil amar e admirar o que não faz parte da nossa realidade.

Nem todas as luzes da Picadilly poderiam iluminar os olhos daquele triste provável pintor naquele momento e nem mesmo a arquitetura do parlamento seria capaz de chamar mais atenção do que aquela lata envolta em uma sacola preta.

A vida não pode ser romântica sempre, afinal. Nem para todos.

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