Quatro lições de arte/vida por Georgia O’Keeffe

Nathalia Pinto
Nathalia Pinto
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5 min readJul 4, 2019

Uma das artistas mais significativas do século XX, Georgia Totto O’Keeffe é conhecida por sua arte inovadora e ousada. As paisagens urbanas dramáticas, as flores distintas e as imagens de ossos contra o céu do deserto, são contribuições icônicas e originais para o modernismo americano.

Além de deixar para nós, amantes da arte, um rico trabalho estético, O’Keeffe deixou entrevistas e cartas que abordam sua prática de pintura, rituais, experiências e ambientes que a inspiraram. A correspondência com o marido, o fotográfo Alfred Stieglitz mostra uma visão crua e honesta da mente criativa de O’Keeffe.

Entre os anos de 1915 e 1946, os dois trocaram 25.000 cartas. Foi neste período que Georgia encontrou sua voz como artista: primeiramente, pelas pinturas de flores; depois, pelas paisagens e naturezas-mortas surrealistas, inspiradas por arredores montanhosos e cravejados de crânio.

Um texto do site Artsy, intitulado “Como ser um artista, de acordo com Georgia O’Keeffe”, destaca quatro lições valiosas deixadas por esta maravilhosa e que devemos levar para a vida. Vamos saber?

1º- Observe o mundo ao seu redor: de perto e com fome!

Já observou atentamente os pequenos detalhes da vida hoje? Georgia buscava inspiração na natureza, na fauna, na flora, em pinturas naturais que a envolviam e até na forma como a luz refletia nas pedras. Em detalhes, ela descreveu ao marido o que via na cidade de Tao, no Novo México.

“Foi maravilhoso ficar lá sozinha, observando a luz, a sombra sobre o deserto e as montanhas — e imaginando o que eu poderia fazer sobre isso … Tudo me interessa muito mais do que as pessoas. Elas parecem quase não existir.”

Em 1942, ao amigo Arthur Dove, a artista disse: “ Eu gostaria que você pudesse ver o que vejo pela janela. Os penhascos cor-de-rosa e amarelos ao norte, a lua cheia prestes a cair. Um céu de lavanda, atrás de uma bela e comprida árvore cobriu a planície a oeste. Colinas cor-de-rosa e púrpuras na frente e os cedros verdejantes e finos — uma sensação de muito espaço — é um mundo muito belo.”

O’Keeffe absorvia todas essas visões e depois isolava os componentes que a atingiam. De tais observações, trazia para a sua pintura, as linhas e cores favoritas. Até mesmo as abstratas tiveram inspiração a partir da natureza.

Black Mesa Landscape, New Mexico, Out Back of Marie’s II, 1930 / Tate Modern

2º- A organização é fundamental para a produtividade!

Você é uma pessoa organizada? Ou podemos ver a sua mesa cheia de papéis inúteis? Vamos aprender com Georgia, que apesar de ser considerada um espírito livre, aderia à uma rotina diária de trabalho. Como adorava dias longos, acordava cedo, muita das vezes com o sol, tomava café por volta das 7 e dava uma caminhada pelo deserto— a pintora passou parte dos anos vivendo e trabalhando no Novo México. Saciada pela dose matinal de natureza e comida, entregava-se ao estúdio, só parando ao meio-dia para o almoço. “ Eu não te escrevi ontem — trabalhei o dia todo e de novo hoje o dia todo — e não posso dizer como eu gostei”, escreveu a Stieglitz.

Ao longo da vida, Georgia manteve seus estúdios sempre arrumados. Ela descreveu a um amigo o seu espaço de trabalho. “Minha paleta e meus pincéis são muito limpos. A paleta está sobre uma mesa na qual eu posso rodar. Outra está no peitoril da janela e o cavalete também perto dela.”

Estratégias organizacionais como essa permitiram que O’Keeffe experimentasse mais facilmente o conjunto de cores, bem como a translucidez e textura das tintas que usava.

3º- Não se preocupe com os erros. Aprenda com eles!

Importante essa, hein! Quantas vezes nos culpamos pelos erros cometidos sem percebermos que eles são peças fundamentais para o nosso aprendizado? A artista era muito transparente e falava abertamente aos amigos sobre inseguranças e fracassos. Tanto que reconheceu que fazer um mau trabalho era inevitável e simplesmente fazia parte do processo criativo. “A pintura desta manhã não é boa, mas fiquei muito animada com isso. E sei que algo virá”, dirigindo-se novamente ao marido.

O’Keeffe descrevia repetidamente os mesmos objetos e cenas até achar uma composição satisfatória. Entre 1946 e 1960, por exemplo, pintou mais de 20 vezes a porta de sua casa no Novo México. De acordo com ela, “o sucesso não vem com a pintura de uma foto: resulta em tomar uma determinada linha de ação e permanecer com ela.”

A pintora sabia quando uma pintura era composicionalmente forte ou bem-sucedida. Por isso, rejeitou a importância dada ao sucesso financeiro ou à fama advinda com a arte. “Se você é bem-sucedido ou não é irrelevante . Não existe tal coisa”. Mesmo tendo conhecimento que uma pintura poderia não ser palatável para um público mais amplo, enxergava valor em terminá-la e mantê-la como referência e prazer pessoal.

Hibiscus with Plumeria, 1939 / Americanart

4º- Não preste atenção nas tendências: seja você mesmo!

Ah, como é difícil, não é? O’Keeffe queria retratar a beleza e as cores suntuosas da natureza, apesar de ser uma tendência completamente oposta entre o seu círculo de artistas. “Eu sou um dos poucos artistas, talvez o único hoje em dia, que está disposto a falar sobre o meu trabalho como bonito. Eu não me importo de ser bonita.”

Ela esculpiu o próprio caminho quando chegou ao seu local de moradia e trabalho. Enquanto o marido e a maioria dos artistas permanecia em Nova York, Georgia preferiu ter uma vida solitária no Novo México. Foi lá que encontrou o espaço criativo. “Tenho trabalhado como um louco o dia inteiro… parece que nunca me diverti tanto”.

Ao longo de toda a vida, O’Keeffe desejava a liberdade — das tendências artísticas, das pressões do mundo da arte dominante, dos grilhões de uma sociedade dominada pelos homens. E foi por expectativas que fez um corpo único e revolucionário de trabalho. “Acredito em ter tudo e fazer tudo o que você quer.”

Aos 90 anos, sofrendo de degeneração macular, observou: “Eu posso ver o que quero pintar. A coisa que faz você querer criar ainda está lá”.

Obrigada, Georgia ❤

Fonte: Artsy.com

Créditos: Tony Vaccaro/Getty Images

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